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O conceito “A Jornada do Herói” serviu de fio condutor do Seminário CFOs Jovens, realizado na terça-feira (29). A teoria, cunhada pelo antropólogo Joseph Campbell em seu livro “O Herói de Mil Faces”, foi explanada pela palestrante Maria Tereza Gomes, jornalista, empreendedora e professora de MBA. O evento foi patrocinado pela PwC.
Com vivência de 18 anos no Grupo Abril, Tereza foi diretora de redação da revista “Você S/A” e de produção e programação da TV Ideal, canal fechado da TVA. Durante dois anos, ela teve a chance de entrevistar 72 presidentes de empresas no programa “Trajetórias”.
As entrevistas a instigaram a cursar mestrado na FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP), pesquisando as semelhanças nas carreiras daqueles líderes. Ao final, surgiu o livro “O Chamado – Você é o Herói do Próprio Destino”.
“Resumi em 10 grandes achados a minha avaliação sobre presidentes de empresas e suas carreiras, o que os torna diferente (a ponto de transformá-los em líderes). Eu consolidei isso no que eu chamo de Atitude de Herói”, disse Tereza.
Confira as 10 Atitudes de Herói citadas pela palestrante:
1 – Aceitar os chamados.
“Verifique quais são os chamados que têm propósito para você, e entenda os motivos para aceitá-los ou recusá-los. O herói não aceita todos os chamados. Isso significa assumir o controle de sua carreira.”
2 – Encarar os desafios
“O herói é aquele que não se detém diante dos desafios: ele vai encontrar uma solução, vai ultrapassar esses desafios. Só ultrapassando os desafios você consegue vitórias. Você precisa ser o protagonista da sua história.”
3 – Fazer além do esperado
“Quando conversamos com um presidente de empresa percebe, normalmente, que ele não é uma pessoa acomodada. Os presidentes não são coadjuvantes da história das outras pessoas.”
4 – Corrigir a rota, se necessário
“Nem sempre você terá uma carreira em linha reta, sem deslizes. O segredo é avaliar o que deu errado e corrigir a rota.”
5 – Missão. Visão. Valores
“Verifique se a missão, a visão e os valores da empresa combinam com a sua missão, a sua visão e seus valores. O que você fez durante o dia te deu satisfação?”
6 – Compartilhar o aprendizado
“Como vocês estão treinando as pessoas que trabalham com vocês? Como estão passando conhecimento para frente? Estão aprendendo com os erros?
Estão ensinando os outros a não cometer os mesmos erros?”
7 – Encarar os medos
“Tem de ir em frente, não pode desistir. A crise eventualmente acontecerá: a empresa vai ser vendida, vai ter fusão, vai ter medida provisória do governo… Mas é preciso encarar essas crises.”
8 – Cultivar mentores
“O mentor é alguém que vai te acompanhar ao longo da vida, desinteressadamente, porque gosta de você, porque quer que você se saia bem, quer ver você crescer.”
9 – Entender a hora de parar
“Uma grande dificuldade dos presidentes das empresas é a incapacidade de
descobrir a hora de parar e voltar para o mundo comum, de uma vida mais simples. Conselho: vocês que são jovens, olhem para o momento em que vocês vão desapegar desse mundo corporativo e talvez se reinventar. O momento de parar é sempre muito difícil.”
10 – Aprender sempre
“Atualizar-se é uma característica marcante de presidentes de empresas. Até para se reinventar, depois da aposentadoria; pode virar um conselheiro, um investidor-anjo.”
Em seguida à apresentação da jornalista, Bruno Jucá, CFO da Owens Illinois, Bruno Poljokan, CFO do GuiaBolso, e Helena Pécora, CFO da Eli Lilly, debateram sobre aspectos da vida corporativa e “heroica” de seus cargos, com mediação de Adriano Correia, sócio da PwC.
Eles responderam questões sobre motivação para o trabalho, se tiveram medo de encarar o desafio de se tornar CFO tão jovens, e o que é sucesso.
Autoconhecimento
Bruno Jucá está no cargo há apenas quatro meses. Mas é funcionário da mesma indústria há nove anos, tendo iniciado como estagiário. Ele contou que quando recebeu o convite para se tornar CFO, no início sentiu receio pela responsabilidade de assumir a função, mas como trabalha
na empresa há muito tempo, esse processo acabou fluindo naturalmente. Questionado sobre o medo de fracassar, Bruno conversou com o pai que disse: “Olha, filho, você está tendo a oportunidade de aprender, você tem de focar nisso. O que aprender ninguém vai poder tirar de você.”
O executivo deixou Recife há seis anos para trabalhar em São Paulo. Ele define sucesso como realização. “Sucesso para mim é ser feliz, se sentir realizado. Conseguir balancear a vida pessoal e o trabalho. Dormir tranquilo, à noite, sabendo que entregou o resultado da melhor forma possível.”
Jucá aconselha a quem está no começo de carreira que mantenha sempre a vontade de aprender. “Você pode ter mil perfis diferentes: o high potential ou aquela pessoa que é um pouco mais tímida, mas todos podem desenvolver sua carreira, atingir seus objetivos. Então, procure se conhecer bem, e com base no seu autoconhecimento, buscar o que é melhor para você.”
Escolhas
A vida pessoal de Helena Pécora, mãe de Matheus, de um ano e meio, não foi impedimento para encarar o desafio de se tornar CFO. Para a dupla jornada, ela conta com o apoio fundamental do marido. “Você precisa escolher um
parceiro que seja um parceiro de verdade. Tendo uma estrutura, você consegue conciliar (trabalho e família). Ter uma carreira me faz uma mãe melhor, me faz uma esposa melhor. E estar feliz com as escolhas e os custos disso.”
Helena utilizou os serviços de uma coach para ajudar no momento de transição. “Eu não tenho medo (de não permanecer no cargo). O mundo é muito grande. Se não der certo aqui, tem correções de rota que podemos fazer e vai dar certo em outro lugar. Mas um fator importante para aumentar a chance de sucesso é escutar: escutar meu time, escutar as pessoas experientes, escutar quem fez muito sucesso…”
Segundo a executiva, as competências comportamentais, as atitudes, saber questionar, fizeram mais diferença na sua trajetória do que as competências técnicas. “Somos responsáveis pelas decisões que tomamos, por investir o nosso tempo no nosso desenvolvimento, por buscar entregar sempre além do que é esperado. Tenho muita gratidão por todas as pessoas que fizeram parte da minha trajetória e ainda vão fazer.”
Motivação
“Coloquei para mim como meta que preciso ser sócio da empresa”, afirmou Bruno Poljokan. “Quando você é sócio, a motivação é totalmente diferente. Obviamente, você quer fazer aquele negócio crescer, por que naturalmente terá um retorno financeiro. Se o crescimento da empresa não impacta diretamente no que eu estou fazendo, isso me desmotiva muito.”
Com perfil arrojado, Poljokan disse gostar de riscos e mudanças drásticas. “Isso automaticamente me faz ir atrás de estudos, de conhecimento. Eu tive a oportunidade de virar CFO de uma empresa internacional para a América Latina, mas não continuei lá porque não vislumbrei mais um grande aprendizado.”
Mas ele também se cerca de um time com expertise. “Eu aprendo demais com a minha equipe. Sempre busco ter na equipe pessoas que são muito melhores do que eu. E são normalmente pessoas jovens, que estão trazendo novas tecnologias, novos modos de fazer”, afirmou.
Evitando conflitos
Tanto Helena quanto Jucá e Poljokan tiveram de lidar com diferentes reações de quem já estava na empresa quando assumiram a nova posição, não só em razão da idade, mas pela acomodação natural de espaços. “Eu peguei a energia das pessoas que estavam me dando suporte. Procurei focar no trabalho, e fui deixando a coisa fluir”, disse Helena.
Já Jucá teve a vantagem de contar com um time que está na empresa há anos. O antigo CFO continuou trabalhando na indústria, “o que ajudou a gerar uma tranquilidade”. Para Poljokan, quando se está aberto “a ouvir o que as pessoas da equipe têm para passar, o que elas já aprenderam, o time passa a perceber que você também tem muito a agregar”.
(Reportagem: Silvia de Moura / Fotos: Mario Palhares)