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Quais são os temas/ações que estão na ordem do dia para os CFOs? Nos primeiros três meses do ano, conversarmos com líderes de finanças do IBEF SP para identificar suas três maiores prioridades em 2016.
Em um cenário global de lenta recuperação econômica, os profissionais de finanças têm preparado suas empresas para desafios que podem ser materializar a qualquer tempo. Nesse contexto, a manutenção de margens e os ganhos de desempenho aparecem como as maiores prioridades para os CFOs em 2016, segundo pesquisa internacional realizada pela Fundação de Pesquisa de Executivos Financeiros (Ferf) e a empresa de consultoria global Protivity, que ouviu 650 CFOs, VPs de finanças e demais profissionais encarregados da gestão financeira.
No contexto brasileiro, a gestão de caixa e de capital de giro tem se mostrado prioridade para os líderes de finanças, avalia Walter Piacsek, sócio da Apax Partners, grupo internacional de investimentos de capital privado. “Nesse momento de retração da economia e de maior incerteza, gerir o caixa é muito importante. E boa parte disso está atrelada ao foco na gestão do capital de giro”.
Outro ponto de atenção está relacionado ao custo e a sustentabilidade da estrutura de capital. “Há um desafio importante neste momento de tentar racionalizar e baratear a estrutura de capital, e a resolução disso muitas vezes passa por buscar capital novo”, observa o executivo.
Em um ambiente de maior restrição de crédito bancário e distanciamento do mercado de capitais, as empresas brasileiras têm recorrido a duas fontes macro para buscar esse equilíbrio, acrescenta Piacsek: sentar com credores para rediscutir dívidas e negociar alongamento de prazo; e buscar investidores de private equity ou com capital para investir na companhia como equity, como ações.
Gestão de caixa – Antenor Zendron, diretor administrativo financeiro da GDC Alimentos, chama atenção para o desafio da gestão do caixa. Com a crise e o baixo desempenho do PIB, aliados ao rebaixamento do rating do Brasil pelas principais agências internacionais, o crédito está restrito.
Os bancos estão reavaliando os limites de crédito e os spreads bancários estão em patamares elevados. Nesse cenário, as instituições financeiras estão muito preocupadas com a inadimplência e estão selecionando os riscos, repassando via spread o custo da redução do giro de capitais.
“Para minimizar esses efeitos, nossa gestão de caixa terá que ser ainda mais eficiente: buscar ampliar o prazo de pagamento de fornecedores, oferecendo-lhes parcerias com instituições financeiras, e priorizar os investimentos que oferecem maior rapidez de geração de caixa”, afirma Zendron.
Com relação a margens e desempenho, o executivo destaca alguns indicadores que tornaram a manutenção das margens muito desafiadora para a indústria: as taxas de consumo em queda desde 2015, perda de poder aquisitivo pela população e taxas de desemprego alcançando índices preocupantes. Ele acrescenta que a indústria tem uma grande dependência de matéria prima importada, tendo seus custos muito afetados pelo impacto do câmbio.
“Nesse sentido, se as margens são afetadas por componentes externos, como câmbio ou retração no consumo, é fundamental foco total no ganho de desempenho, reduzindo custos, melhorando os índices de produção, revendo processos”, ressalta o executivo.
Este tema também surge como grande oportunidade, acrescenta Zendron, pois em momentos de crise é preciso sair da zona de conforto e buscar melhorias que impulsionarão a companhia no momento da retomada do crescimento da economia. Em contexto de crise, destaca o executivo, as empresas que mais investem em inovação são as que mais rápido e com mais vantagens competitivas se recuperam.
“Nosso plano estratégico de inovação prevê que, em cinco anos, 30% do volume dos negócios da empresa advirão de produtos que não estão no nosso portfólio atual. Acreditamos, firmemente, que no contexto atual é mais importante do que nunca investir em inovação”.
Gestão de dívida – Gestão do capital do giro, com foco maior em redução de estoques, e gestão de dívida, visando a redução de endividamento, são prioridades para o líder financeiro em 2016, na visão de Caio Moraes, vice-presidente de finanças da Mahle Metal Leve para a América do Sul, referindo-se às divisões de gerenciamento térmico e compressores da indústria.
Moraes destacou ainda a necessidade da melhoria de custos de áreas indiretas, incluindo finanças, com foco em aumento da produtividade dos colaboradores.
Por fim, a otimização do CAPEX (despesas de capital) focada em inovações tecnológicas e na racionalização dos meios de produção também é vista entre os três principais temas para o ano.
Proteção x oportunidade – Para Fabio Marchiori, diretor de finanças da Mondelez para a América Latina, uma dos principais desafios em 2016 é a decisão sobre o melhor momento para fazer hedge. A possibilidade de aumento da taxa básica de juros, frente às projeções de inflação, somada à volatilidade do câmbio, em parte influenciada pela crise política, são fatores que dificultam a tomada de decisão.
“A taxa de juros está embutida no câmbio. Então, se você for ansioso e travar o câmbio muito antes que o seu concorrente, e o cenário mudar, ele poderá conseguir uma posição de custos muito melhor que a sua. E aí você perdeu competitividade”, completa Marchiori.
O segundo desafio é equilibrar o foco no negócio, concentrando recursos no core business, e a contenção de despesas, evitando desperdícios, sem afetar a percepção do valor da marca pelo consumidor. “Esse é o momento em que todo mundo fala em fazer cortes na estrutura operacional e reduzir investimentos. Mas é preciso ter atenção para que isso não oprima a percepção de valor do seu produto ou serviço para o consumidor final. Isso poderia jogar por água abaixo todos os esforços que você investiu até então para construir uma relação de lealdade com ele”.
Marchiori acrescenta que existe uma grande oportunidade para o líder de finanças engajar os talentos de sua equipe. “Em um momento em que todo mundo está com o humor invertido, é preciso mostrar que existem oportunidades de aprendizado e incentivar o indivíduo a fazer diferença, ajudando a organização a superar a crise”.
Reestruturação do time – O fator “talento” também foi destacado por Alberto Carlos de Sá, CFO da Bispharma. Para ele a reestruturação do quadro funcional, com novas contratações, é uma das prioridades para este ano, junto à melhor gestão do fluxo de caixa e a reestruturação tecnológica.
A indústria de embalagens farmacêuticas e para cosméticos prevê crescimento em torno de 20% a 15% em seu negócio de embalagem aerossol. Para suportar esse crescimento, Carlos de Sá afirma que será necessário investir na contratação de pessoas qualificadas para as áreas de tesouraria, contabilidade e custos.
“O investimento em software é necessário por se tratar de uma ferramenta para gestão. Mas ainda mais importante é contar com pessoas qualificadas para utilizar esses sistemas e ajudar na capacitação dos funcionários mais antigos”, completa o CFO.