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CFOs são ¨equilibristas¨ para atravessar cenário de crise

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Piora no cenário da pandemia de COVID-19, turbulência econômica, ruídos políticos e vácuo de liderança no cenário Brasil. Ao mesmo tempo, é preciso gerenciar pressões inflacionárias, riscos na cadeia de suprimentos, novas formas de chegar ao cliente, transformações tecnológicas e culturais dentro das companhias.

Com o desafio de navegar em um cenário de baixa visibilidade, líderes financeiros de diferentes setores atualizaram suas perspectivas na reunião da Diretoria Vogal do IBEF SP, realizada em 26 de março.

O evento virtual reuniu mais de 100 participantes e foi patrocinado por CFO Hub e Tax Performance. CFO Hub é uma empresa de soluções financeiras com foco em geração de fluxo de caixa sendo a Tax Performance uma das suas principais parceiras nestas soluções. Tax Performance é uma empresa especialista em projetos de incentivos fiscais, com mais de 300 projetos e um histórico de 100% aprovados, gerando mais de R$ 800 milhões em benefícios nos últimos 10 anos.

As companhias parceiras destacaram oportunidades de geração de caixa através de Projetos de Eficiência Tributária. Segundo o Portal de Dados do Investimento Social, os incentivos fiscais são subaproveitados com apenas 12% das empresas se beneficiando de alguma lei de incentivo. A grande maioria, 58% nunca utilizou estas oportunidades. Em destaque, o incentivo da Lei do Bem que visa estimular as empresas a investir em inovação de seus produtos, processos e serviços e aproveitar estes valores para reduzir a base de cálculo do IR/CSLL. Salientamos que os investimentos realizados em 2020 precisam ser protocolados no Portal do MCTIC até julho/21, sendo que este processo leva em média 4 meses para ser concluído.


Biênio desafiador – A Diretoria Vogal iniciou novo ciclo com a gestão 2021-2023 do Instituto. “Este fórum é muito importante para o IBEF SP. Reúne os CFOs associados e tem por objetivo discutir uma série de temas da indústria, nos ajudando a atravessar este biênio desafiador”, destacou Luciana Medeiros, em sua primeira participação como presidente do IBEF SP. A sócia da PwC tornou-se a primeira mulher nesta posição.

Ressaltando esse marco em quase 50 anos do Instituto e os múltiplos desafios para os executivos financeiros neste momento, Luis Carlos Cerresi, assumiu a condução da Diretoria Vogal enquanto 1º vice-presidente do Instituto. ¨Como CFOs das empresas, nada mais atual que o nome do prêmio maior do IBEF SP, o Equilibrista, para designar o que fazemos no dia a dia em nosso trabalho”, destacou o CFO da Nutrien.

Agravamento da pandemia – O País atingiu em março o recorde de 3 mil mortes diárias decorrentes da pandemia. Face o ganho de velocidade das contaminações e a falta de insumos e leitos para tratamento, estados e municípios anunciaram o endurecimento das restrições para atividades e circulação de pessoas, com risco de novos lockdowns.

Nesse cenário de baixa visibilidade à frente, temas ligados à proteção de pessoas, trabalho remoto, digitalização da forma de fazer negócios e chegar aos clientes seguiram fortes no primeiro trimestre de 2021.

Empresas priorizam canais digitais – Ao falar da indústria de tecnologia, Paulo Mendes, CFO da SAP Brasil, ressaltou que soluções ligadas a supply chain (eficiência da cadeia logística) e go-to-market digital (interação com cliente e vendas) têm sido bastante requeridas globalmente. “O canal digital é basicamente a única maneira de se gerar demanda neste momento. O que é um desafio bastante grande e acredito que vários executivos compartilham essa visão, principalmente quem está no B2B”.

O e-commerce segue forte em 2021, com crescimento de vendas acima de 40% no primeiro bimestre. “Em março, com o aumento das restrições e lockdowns, o mercado voltou a crescer em ritmo de 60 a 70%”, observou Tiago Azevedo, do CFO Mercado Livre. Para atender a explosão da demanda, o setor tem a logística como prioridade para alto investimento. “Provavelmente dobraremos o número de centros de distribuição neste ano”.

No varejo, quem não estava posicionado no comércio eletrônico, não ganhou o jogo no ano passado, resumiu Vitor Fabiano, CFO do Dia Supermercados. Dentre os segmentos “vencedores” em 2020, estão materiais de construção, móveis e eletrodomésticos, que cresceram quase 11%, seguidos por farmacêuticos (8%) e hipermercados (4,8%). Para 2021, a perspectiva é que o setor ande de lado, considerando a retirada do auxílio emergencial – a ser retomado em abril, em volume bem menor – e o recrudescimento das restrições para o comércio físico.

Choque de preços – Os aumentos nos preços das commodities, somados à desvalorização do real frente ao dólar, têm provocado um dos piores choques de preços na indústria e no varejo no Brasil desde o fim da hiperinflação, na década de 1990, observam economistas. Esses efeitos foram observados também pelos CFOs.

A inflação dos custos de produção, medida pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), calculado pela Fundação Getulio Vargas, acumula alta de 42,6% nos 12 meses até março. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do IBGE, avançou 0,93% em março, maior resultado para o mês desde 2015.

O setor de materiais de construção, que cresceu no patamar de 10% em janeiro e fevereiro de 2021, na comparação com 2020, vive a combinação de ganhos de eficiência, aquecimento da demanda e alta dos preços. Sobre a inflação, Vivianne Valente, CFO do Grupo Tigre, empresa que cresceu 20% no último ano, observou o aumento generalizado nos preços de aço, metal, resinas e cimento. O INCC – Índice de Nacional do Custo de Construção, da FGV, acumula alta de 11,95% em 12 meses.

Rubens Batista Jr., CFO do Martins Comércio, informou que o atacadista de itens considerados essenciais na pandemia – alimentícios, farmacêuticos e agroveterinários, cresceu 30% em 2020. A inflação interna também deu sua contribuição, produto de aumento de custos, câmbio e recuperação de margens, conjugados à falta de produtos.

Ele vê a tônica de alta de preços e risco de desabastecimento se repetir em 2021. “Fechamos fevereiro com inflação de 16% na cesta de produtos para revenda. E nossa carteira de pedidos, que ainda vamos receber, já está com inflação de 9%”.

Crise de insumos e matérias-primas A cadeia de suprimentos continua a ser uma grande questão para a indústria em 2021, ressaltou Adolpho Neto, CFO da Whirlpool. Os efeitos da tempestade invernal do Texas, nos EUA, colaboram para a crise de insumos e matérias-primas em toda América Latina, principalmente de resinas. No Brasil, o abastecimento e a gestão de estoques de matérias-primas relevantes, como por exemplo o aço, têm sido motivo de foco e atenção quase diariamente.

“Falta de componentes eletrônicos será uma grande questão a partir do segundo trimestre. Isso ainda não afetou nossas operações, mas é certo que impactará o setor – não só na América Latina, mas no mundo inteiro”, alertou Adolpho.

A proteção de pessoas e medidas para evitar disrupturas na cadeia também são prioridades para a indústria alimentícia, impactada pela alta das commodities agrícolas. As pressões inflacionárias exigem do setor uma gestão de custos enxuta para não repassar o aperto ao consumidor, observou Flavia Schlesinger, CFO da PepsiCo.

Mudança de comportamento – Flavia destacou ainda a importância do acompanhamento da demanda e a capacidade de adaptação da indústria, pois as características da pandemia mudam o comportamento do consumidor. “Dependendo se haverá lockdown ou se crianças voltarão para a escola, temos que adaptar a cadeia muito rápido para ter a disponibilidade dos produtos que a demanda exigirá naquele momento”, acrescentou Schlesinger.

Alex Malfitani, CFO da Azul Linhas Aéreas, também ressaltou a mudança no comportamento do consumidor. Mesmo na atual crise e período de sazonalidade mais fraca, a empresa com capacidade para fazer 1.000 voos diários ainda tem recebido demanda para 500. “Estamos surpresos e é algo difícil de modelar, dada a situação da pandemia, qual será a demanda efetiva. Normalmente, teríamos imaginado uma demanda muito mais fraca neste cenário”, notou Malfitani.

A companhia se prepara para preservação de caixa e redução de capacidade no segundo trimestre. Ao mesmo tempo, está alerta para a retomada do setor aéreo no segundo semestre, principalmente no quarto tri, com a expectativa de avanço da vacinação e redução de casos de COVID-19.

Guerra por talentos – Ricardo Basaglia, managing diretor da Michael Page,trouxe a visão sobre o mercado de recrutamento e seleção de executivos. Ele observou que as empresas estão mais predispostas a avaliar profissionais de outras regiões para trabalho 100% remoto.

“Existe uma guerra por talentos. Na área de tecnologia, vemos empresas europeias e americanas contratando profissionais do Brasil para trabalho remoto. E empresas das capitais, que perderam profissionais para outros países, começam a buscar talentos do interior. Isso é muito mais forte na área de tecnologia e serviços digitais, mas começamos a ver crescendo para outras áreas¨.

Confiança dos empresários – Sócio-presidente da PwC Brasil e membro do Conselho Deliberativo do IBEF SP, Marco Castro, informou que a companhia patrocinará as próximas reuniões da Diretoria Vogal, até fevereiro de 2023, em um movimento para dar mais sustentabilidade ao Instituto e assegurar a vitalidade desse fórum.

Ao fazer o encerramento da reunião, Castro ressaltou o sentimento de incerteza expresso pelos CFOs, que também se reflete no Índice de Confiança Empresarial (ICE). Calculado pela FGV, o indicador apresentou novo recuo em março, de 5,6 pontos, caindo para o patamar de 85,5 pontos, menor nível desde julho de 2020.  

“Há uma crença de que a vacinação tomará velocidade no Brasil a partir de agora. Parece que acertamos a mão, a produção, as soluções adicionais. É algo que temos como esperança, e vamos aguardar o que a próxima reunião da Diretoria Vogal trará”, concluiu o conselheiro.

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