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O novo meio de pagamento instantâneo, o Pix, iniciou seu funcionamento no Brasil no dia 16 de novembro, abrindo um caminho de inovação e transformação dos meios de pagamento do país. Diante disso, o IBEF SP promoveu, no dia 17 de novembro, uma live com apoio da Mastercard e Mercado Pago Brasil para debater onde está o Brasil na trajetória global dos meios de pagamentos e open banking. A live teve moderação de Stania Moraes, accounting & finance director da Ciena.
Em 2013, entrou em vigor no Brasil a Lei nº 12.865, que estabelece, dentre outros assuntos, os princípios e normas gerais sobre os chamados “arranjos de pagamento” e “instituições de pagamento”, os quais passaram a integrar o SPB – Sistema de Pagamentos Brasileiro. Munidos dos poderes outorgados pela lei 12.865/13, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central instituíram um primeiro marco regulatório disciplinando o funcionamento de arranjos e instituições de pagamento, por meio de resoluções e circulares. Aquele foi o ano em que Priscila Pinheiro Ribeiro Faro, head legal, fintech do Mercado Livre, começou a trabalhar no Mercado Pago.
Ela explica que hoje as instituições de pagamento são classificadas entre emissores de moeda eletrônica; emissores de instrumento de pagamento pós-pago; adquirentes; e provedores de serviços de iniciação de pagamento, que é o mais recente e conectado ao Pix e ao open banking. O processo de evolução dos meios de pagamento no Brasil passa ainda por uma diferenciação entre criptomoeda e dinheiro eletrônico. “O Banco Central alertou o público dos riscos de negociar as criptomoedas, que embora não reguladas, e não proibidas no Brasil, deveriam ser classificadas como produtos não-financeiros”, diz.
Open banking e Pix – No Brasil, vem ocorrendo já há alguns anos uma evolução da timeline sobre os aspectos competitivos relacionados aos pagamentos eletrônicos, sendo que atualmente está em vigor a Agenda BC#, iniciativa do Banco Central para promover maior competição em crédito, serviços e produtos financeiros, baseada nos pilares de inclusão, competição, transparência e educação. A agenda inclui o open banking e pagamentos instantâneos no Brasil, explica Priscila, ressaltando a importância desses tipos de pagamento para o fomento à inovação e à competitividade.
Para este ano, além do lançamento o Pix, está programada a implementação da primeira fase do open banking, consistindo na abertura de informações sobre produtos e serviços pelos optantes do mercado, com a possibilidade de terceiros analisarem e compararem esses dados. “Ainda estamos aprendendo sobre esses novos tipos de transações”, explica Priscila, que detalhou em sua apresentação um pouco sobre o conceito de Pix e open banking, com estudos de caso de implementação em diferentes países.
Segundo ela, o tópico do open banking tem sido enfatizado amplamente no contexto de inovação do mercado financeiro ao redor do mundo. “No Brasil, o conceito de open banking é o compartilhamento de dados e oferta de produtos e serviços por instituições financeiras e outras instituições licenciadas através de plataformas abertas e integradas, além do uso de infraestrutura de sistemas de informação. O objetivo é ter custos menores e maior eficiência do mercado, com conveniência e conforto”, complementa.
Oportunidade – Driss R. Temsamani, digital, data innovation and Citi Commercial Bank cash products regional head, destaca que o open banking é uma oportunidade de bancos trabalharem juntos com fintechs e criarem uma infraestrutura que oferece maiores oportunidades que as atuais, com o dinheiro se tornando cada vez mais reduzido e as carteiras digitais crescendo. “Precisamos criar mais valor nesses serviços, com a adoção dessa nova infraestrutura com o open banking“, complementa.
Driss diz ainda que que nos últimos seis meses, o que se esperava ser uma grande transformação digital mudou completamente com a pandemia. Ele enfatiza que transformação digital transforma modelos de negócios e a digitalização traz uma influência maior do software nas experiências dos usuário. “Nós vemos oportunidades se tornando maiores com open banking, mas não vemos isso como disrupção, e sim como crescimento de oportunidades”, diz.
Mas para que essa experiência de fato se converta em oportunidades para o mercado, Driss ressalta a necessidade de transformar a infraestrutura econômica de um país para que esse tipo de serviço de torne mais amplo, incluindo transações cross-border. “Milhões de pessoas têm um potencial de serem incluídas no sistema financeiro por meios digitais. Há uma oportunidade grande que podemos alcançar”.
Segundo ele, parte do comércio vai ser conduzido por meio de aparelhos móveis, especialmente smartphones, e há muito empreendedorismo acontecendo em marketplaces como Mercado Livre, Amazon, Alibaba, etc., com pessoas iniciando negócios por meio de lojas eletrônicas e vendendo seus produtos. “Isso é um ponto importante, pois proporciona, inclusive, a geração de emprego”, destaca.
Dados – Devido ao grande uso de dados que o open banking exigirá, as instituições deverão ter maior transparência e informar melhor os clientes sobre com seus dados estão sendo usados. Para Driss, o aumento do uso de dados amplia oportunidades de instituições financeiras grandes fazerem parceria com fintechs. “Finalmente podemos trazer uma grande parte da população para o mundo digital. Esse acesso pode desenvolver experiências digitais que oferecem serviços para que o dinheiro flua entre diferentes contas, e as fintechs podem fazer isso se os bancos se juntarem a elas”, diz Driss, destacando que essa é uma ótima oportunidade para o Brasil se digitalizar.
Ele alerta, contudo, que o open banking está diretamente relacionado ao uso de dados, e para que isso funcione de maneira precisa, será necessário um maior investimento em APIs (interface de programação de aplicações). Driss destaca que open banking pode resolver muitos problemas com a inclusão de mais pessoas no sistema financeiro, mas as APIs são a chave de como isso pode ser feito.
Experiência internacional – Globalmente, a experiência dos clientes com meios de pagamentos eletrônicos que operam ininterruptamente, 24 horas por dia, nos 365 dias do ano, é chamada de pagamentos em tempo real. Essa é a área em que Oliver Steeley, VP Real time Payments da Mastercard, atua, acumulando experiência com inovação e pagamentos há cerca de 25 anos, e trazendo novos produtos ao mercado para direcionar as mudanças nos meios de pagamento, no modo que as pessoas compram e interagem, ampliando as opções para atender às necessidades dos consumidores de acordo com sua jornada. Atualmente, Oliver trabalha na com a Vocalink, empresa focada em pagamentos em tempo real e adquira pela Mastercard.
Segundo Steeley, há uma atividade considerável em muitos países que adotaram alguma forma de pagamento em tempo real, e não necessariamente isso ocorre de maneira uniforme em todos os lugares, performando de jeitos diferentes, mas há uma oportunidade grande de modernizar os pagamentos ao redor do mundo. Ele destaca que entre os principais fatores que estão impulsionando a mudança para pagamentos em tempo real no mundo está o fato de que 44% das contas globais devem ser digitais até 2021 e 85% dos bancos ao redor do mundo acreditarem que pagamentos em tempo real vão direcionar suas receitas.
Segundo Steeley, os pagamentos em tempo real geram ainda benefícios para os consumidores, que cada vez mais querem acompanhar instantaneamente onde está seu dinheiro; além de gerar valor para companhias que melhoraram o uso de dados para seus processos de gestão de valores, levando ainda benefícios aos governos e à sociedade por meio de pagamentos de benefícios públicos e inclusão financeira. “A adoção dos pagamentos em tempo real costuma ser rápida quando o modelo é lançado nos diferentes mercados”, diz. Segundo Steeley, a experiência do usuário é chave para destravar o potencial de uso desses tipos de pagamentos, direcionando a aceitação e decisão de uso.
Para ele, o processo de aprendizado para se ter sucesso neste tipo de implantação está na demonstração de valor, engajamento da indústria, segurança e padronização. “Criar a experiência do usuário é simples, mas é preciso demonstrar valor, e a transição precisa ser planejada para envolver toda a indústria. Isso não é algo que se faz no curto prazo”, ressalta. Planejamento e governança também foram pontos citados por Steeley na implementação desse tipo de meio de pagamento.