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Com alta de juros, perdas de títulos vendidos pelo Tesouro Direto passam de 20%

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Data: 20/08/13

Veículo: Web Diversos

Editoria: oglobo.globo.com

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Fontegoo.gl/FSBf3M

Por: Marcio Beck | Juliana Garçon

RIO – A mudança no cenário econômico brasileiro está levando perdas aos investidores que apostaram no Tesouro Direto, programa de compra e venda a pessoas físicas de títulos do governo federal. Com a alta da Taxa Selic, há papéis acumulando perdas de até 22,16% no ano. E a perspectiva para os próximos meses é de mais volatilidade: nesta segunda-feira, a forte alta do dólar pressionou as apostas de juros no mercado futuro, que dispararam. O Tesouro Nacional reagiu, comprando títulos prefixados (LTNs) para acalmar os investidores e reduzir o impacto da turbulência sobre as taxas dos papéis da dívida pública.

Para quem tem aplicações no Tesouro Direto, o conselho dos especialistas é manter a calma e, se possível, evitar resgates.

— A pior coisa que se pode fazer agora é resgatar. É uma situação momentânea. No ano passado, a situação foi inversa, quem tinha esses papéis teve grandes ganhos, na medida em que a taxa de juros foi reduzida — diz o administrador financeiro Fábio Colombo, frisando que, para minimizar a exposição a perdas, é preciso diversificar as aplicações. — Não se deve colocar todo o investimento em apenas um tipo de título. O importante é ter uma boa parte dos investimentos em papéis pós-fixados, que sofrem menos com estas oscilações.

Professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Rafael Paschoarelli destaca que, para quem pretende ficar com os títulos até o vencimento, as oscilações atuais não mudam nada, mas a situação é diferente para investidores que pensam em resgatar os recursos nos próximos meses.

— Não existe motivo para reclamar, porque a regra do jogo não mudou. Só que agora ela está contra os interesses dos investidores que não têm intenção de manter os papéis. No ano passado, com a queda dos juros, os resgates antecipados foram mais vantajosos. Quem tem planos de se desfazer deles, se esperar os juros subirem, pode ter perdas maiores.

Fábio Garcia, professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), considera o movimento dos juros futuros normal e reforça que serão afetados só os investidores que fizerem vendas antecipadas.

— Quem está pensando em se aposentar em 2030 e se planejou de acordo, comprando títulos para vencer nesta data, vai ter o resgate previsto.

Perdas chegam a 5,82% nos últimos 30 dias

Entre as três categorias de papéis oferecidos no Tesouro Direto — prefixados, atrelados à inflação e pós-fixados —, só estes últimos estão no positivo. Estes papéis (Letras Financeiras do Tesouro, ou LFTs) são indexados justamente à Selic e, para eles, a perspectiva é positiva, com alta da taxa pelo governo para controlar a inflação.

Para os papéis prefixados — LTNs (Letras do Tesouro Nacional) e NTN-F (Notas do Tesouro Nacional – série F) — as perdas chegam a 5,82% nos últimos 30 dias e 7,97% no acumulado do ano (NTN-F com vencimento em janeiro de 2023). Isso acontece porque esses títulos têm remuneração definida previamente, na qual o aplicador “travou” seu ganho. Uma vez que os juros subiram no país, os juros pagos por papéis emitidos no começo do ano ficaram inferiores aos praticados atualmente. Isto desvaloriza estes títulos, ou seja, diminui seu preço no mercado, explica Luiz Calado, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef) e autor do livro “Fundos de Investimento”.

— Estas perdas são comuns quando acontece um aumento da Selic, mas os investidores não estavam acostumados com a volatilidade” — diz Calado. — Caso o Banco Central continue elevando a taxa básica nas próximas reuniões, estes investidores sofrerão mais prejuízos.

O mesmo raciocínio vale para os papéis indexados à variação da inflação. As NTN-C (Notas do Tesouro Nacional, série C), atreladas ao IGP-M, as perdas chegam a 3,82% nos últimos 30 dias e a 12,37% no ano (para os títulos com vencimento em 2031). As NTN-B (Notas do Tesouro Nacional, série B), que seguem o IPCA, têm perdas de até 6,29% nos últimos 30 dias e 22,16% no ano, caso dos papéis com vencimento em 2035.

O resultado ruim vem desanimando os aplicadores: em julho, as vendas do Tesouro Direto caíram 25,4% em relação a junho, para R$ 270, 5 milhões, conforme balanço divulgado nesta segunda-feira. Os resgates somaram R$ 183 milhões, a maior parte (R$ 138,3 milhões) devido a saques (revenda de papéis). Os R$ 44,7 milhões restantes se referem a vencimentos , ou seja, os prazos dos papéis chegaram ao final.

Como investir

Para começar a investir no Tesouro Direto, bastam cerca de R$ 100. Mas nem sempre é bom começar com tão pouco, pois também é necessário ser cliente de uma corretora de valores, pela qual serão feitas as compras e vendas dos papéis. Além da taxa de corretagem, no momento da operação de compra ou venda, o investidor também pagará taxa de custódia mensalmente. As taxas variam conforme a instituição.

No Tesouro Direto, a escolha de papéis é feita pelo próprio investidor. Isto lhe dá liberdade para escolher o tipo de remuneração e prazos de vencimento e o livra da taxa de administração, cobrada, por exemplo, em fundos RF e fundos DI, que aplicam nestes mesmos papéis. A desvantagem, contudo, é ter de buscar informações sobre os títulos. Outro ponto negativo é o fato de que o aplicador só pode resgatar o dinheiro às quartas-feiras, quando o Tesouro Direto faz operações de compra.

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