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Com cenário eleitoral ainda indefinido, a única certeza é que reformas não podem ser adiadas

O seminário “Eleições 2018 e seus impactos no mercado” realizado pela Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos, no último dia 26 de setembro, trouxe uma análise política e econômica da situação que o país atravessa a poucos dias do primeiro turno da eleição e os temas que precisam ser tratados com prioridade pelos futuros eleitos dos Poderes Executivo e Legislativo.

O evento contou com a participação de Rodrigo Alberto Correia da Silva, sócio da Correia da Silva e especialista em relações governamentais, e Gustavo Arruda, economista sênior da BNP Paribas. A mediação ficou a cargo de Marcelo Antônio de Jesus, CFO da Eletropaulo. O consenso dos convidados é que, seja quem for o vencedor da eleição presidencial deste ano, as reformas não podem ser mais adiadas.

A abertura ficou a cargo de Rodrigo Senra, Business Development Manager da SAP Brasil, empresa patrocinadora do seminário. Na ocasião, Elaine Olivetto, atual líder da CT de Tesouraria, informou o seu afastamento da função devido à licença-maternidade e sua substituição por Camila Abel Correia da Silva.

Cenário político – Correia da Silva informou que sua apresentação foi baseada nas pesquisas da última semana, que apontam os candidatos à presidência Jair Messias Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) como os mais prováveis a irem para o segundo turno. “Porém, isso pode mudar a qualquer momento. Na política, tudo é conjuntural”.

Em relação aos desafios estruturais, o especialista lembrou que o processo eleitoral brasileiro é influenciado por três dinâmicas diferentes. Primeiramente, há um alto grau de controle partidário, já que o financiamento público e o tempo de rádio e televisão passam necessariamente pelo partido. “Além disso, em função do coeficiente eleitoral para definição dos deputados, os candidatos expressivamente votados acabam puxando outros membros da sigla. Na última eleição, apenas parte dos membros da Câmara dos Deputados foram eleitos pela votação majoritária e os demais foram puxados pelo coeficiente eleitoral”.

O consultor também destacou o fato de que muitos eleitores escolhem os candidatos por temas e não por um programa de governo, além de alguns também seguirem as indicações de comunidades intermediárias como igrejas, sindicatos, etc…. Outro desafio atual é o excesso de dados. “Muita gente fala muita coisa e o eleitor não consegue filtrar, especialmente o menos esclarecido, que não tem esse nível de preocupação cotidiana. O poder de intermediação junto com o mecanismo de edição das redes sociais e seus algoritmos pode impulsionar fake news (notícias falsas), criando tendências que explodem muito rápido, gerando a polarização”, explica.

Circunstâncias – Sobre os desafios conjunturais, Correia da Silva nota que a representação no Congresso Nacional é desproporcional em relação à distribuição da população e ao PIB dos Estados. Além disso, há uma baixa renovação e descolamento dos anseios sociais. Outro problema é o inchaço da administração dos estados e municípios. Ao mesmo tempo, suas receitas diminuíram, pois a União aumentou o impacto das Contribuições Sociais que não geram repasses de verbas para estes entes. Adicionalmente, o presidente da República está vinculado ao orçamento, o que reduz o espaço de gestão e essa vinculação ao Congresso Nacional reforça o presidencialismo de coalizão.

Outro desafio para a mudança do quadro político, econômico e social, segundo Correia da Silva, é a realização de uma efetiva reforma política, o que depende fundamentalmente do Congresso. Também são necessárias as reformas tributária, a orçamentária e a previdenciária.

Correia da Silva lembrou que ainda há espaço para mudanças na fotografia apresentada pelas últimas pesquisas eleitorais. O percentual de votos entre os indecisos, brancos e nulos, que é de aproximadamente 18%, pode levar outro candidato para cima e para o segundo turno. “Não há nada definido. Há manutenção da alta rejeição de Bolsonaro e um crescimento da rejeição pelo candidato Haddad. Portanto, o resultado no segundo turno pode surpreender”, ressalta, ao observar que as pesquisas têm margem de confiança de 95% e, portanto, podem ocorrer erros.

Decisões tardias e o dia seguinte – Para o economista Gustavo Arruda, a cultura de o brasileiro deixar tudo para “última hora” também funciona na hora de votar. Além das incertezas sobre quem será o presidente da República, não é possível saber ainda a dimensão do apoio que o novo presidente terá no Congresso Nacional e também por parte da população, já que há discussões entre os extremos. “O day after (dia seguinte) não implica em uma união nacional”. Segundo ele, o candidato Bolsonaro traz ao mercado certo benefício da dúvida. Já o candidato Haddad terá uma série de cobranças, como quem será o ministro que conduzirá a economia. “Ambos precisarão de apoio do Congresso”.

Para Arruda, no entanto, o novo presidente encontrará um mundo um pouco melhor do que há dois anos. O especialista nota que a economia dos Estados Unidos pode começar a desacelerar, pois não conseguirá manter o veloz ritmo de crescimento, impactando no nível de atratividade. Além disso, os países emergentes e a economia global estão crescendo. “Se não ajuda, não atrapalha”,
Segundo o economista, a desaceleração da economia norte-americana também pode fazer com que o dólar perca valor em relação a outras moedas. “Pelo histórico, são ciclos de alta da moeda entre cinco a sete anos. Ao mesmo tempo, quando o dólar fica mais fraco, os preços das commodities sobem, o que é bom para o Brasil”, detalha Arruda. “A má notícia é que mesmo que isso ajude, não resolverá nosso problema. O Brasil precisa fazer um ajuste fiscal”.

Pontos positivos e desafios – Ainda que o Brasil não esteja crescendo de forma brilhante, a economia está reagindo, nota o economista. “As famílias estão menos alavancadas, com um comprometimento da renda mensal de aproximadamente 18%. Para se ter uma ideia, mesmo a economia norte-americana indo bem, esse índice é de 12%”, esclarece. As compras de bens duráveis, como linha branca e automóvel, também têm crescido. Outro fator positivo é que a inflação está mais baixa que há dois anos e os juros estão no mínimo histórico.

Por outro lado, o principal desafio para o novo presidente, segundo Arruda, será a geração de empregos. Mesmo com a política econômica muito boa, os resultados das reformas e índice de desemprego não estarão plenamente resolvidos até 2022, no fim do próximo mandato. “O mercado de trabalho demora a se ajustar. Veja que nos Estados Unidos foram quase dez anos após a crise de 2008”, detalha ele, ao acrescentar que também é imprescindível fazer uma reforma fiscal.

O grande problema a ser resolvido é a previdência social, destaca o economista. “No Brasil, as pessoas se aposentam, em média, com 55 anos. Na Rússia e na Turquia, por exemplo, a média é de 60 anos; no México, 63 anos. Isso só existe aqui. Os estrangeiros quando sabem disso brincam e falam que querem mudar para cá”, disse em tom bem-humorado. Na visão de Arruda, a reforma precisa ser rápida, seja o governo de direita ou de esquerda. “Hoje o Brasil gasta 11,5% do PIB com previdência. Negar esse problema só vai trazer mais risco. Não dá mais para postergar”. O resultado da eleição também importa no sentido de saber se a reforma trabalhista será mantida.

Questionados sobre a situação das reformas previdenciária e tributária pelo mediador, Marcelo Antônio de Jesus, os especialistas apontam alguns entraves. Correia da Silva nota que o desafio é o próprio Congresso, que contém grupos com interesses próprios, como servidores públicos, agricultores e outros destinatários de recursos e incentivos que não veem viabilidade em um corte abrupto, que tendem a dificultar uma mudança mais profunda. Para Arruda, a tendência é fazer a simplificação e unificação dos tributos. “O problema é que precisa da aprovação de todos os estados”, finaliza.

 

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