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Conselhos para os jovens executivos

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Confira a segunda parte da entrevista com Eduardo Gouveia, CEO da Alelo, para o IBEF Jovem. A companhia está entre as maiores do segmento de benefícios alimentação e refeição do Brasil.

PARTE II – CONSELHOS PARA JOVENS EXECUTIVOS

VINICIUS: Quais as principais qualidades que você enxerga em um executivo em início de carreira ou que está buscando um cargo gerencial?

GOUVEIA: Posso começar pelos defeitos?

VINICIUS: Claro.

Grande erro? Dar mais peso ao dinheiro do que ao projeto em decisões importantes para a carreira

GOUVEIA: O jovem hoje é muito impaciente. Eu tenho duas jovens em casa. Uma das minhas filhas tem 23 anos. E eu vejo, em casa, que o jovem é impaciente. Ele é agoniado por crescimento, por cargo, por ganhar dinheiro… E isso tudo é consequência, vocês vão ver um pouco mais na frente.

Se você me perguntar: qual foi o teu grande erro, em termos de carreira? Toda vez que eu mirei em grana e não mirei em projeto, eu me dei mal. Toda vez que eu falei: “eu vou ganhar mais ou vou me dar bem aqui porque eu vou ter um aumento”, toda vez que a grana pesou mais que o projeto, não foi legal.

VINICIUS: Sempre pelo projeto?

GOUVEIA: Quando foi por dinheiro, sempre me inquietei. Então, eu daria o conselho para o jovem ter um pouquinho mais de paciência. Um pouquinho mais de diligência e paciência. Porque as coisas acontecem. Se você faz bem feito, você será reconhecido. E o que é fazer bem feito? É entregar mais do que te pedem. Sempre. Under promise, over delivery. Anota isso. Promete menos e entrega mais. Isso é o segredo da carreira.  Consistentemente. Recorrentemente.

VINICIUS: Não ficar só no discurso ou para querer provar algo.

GOUVEIA: Não. É recorrentemente. A vida inteira. Então, eu sempre entreguei mais do que me pediram. Até hoje.

VINICIUS: Existe a necessidade de estudar também, né, Gouveia?

GOUVEIA: Hoje eu tenho estudado pouco, sendo muito honesto com você. Mas para chegar até aqui, eu tive que estudar muito. Hoje eu leio muito, principalmente coisas relacionadas aos negócios. Eu fiz dois MBAs. Um dos meus MBAs foi em finanças. Eu falo aos jovens, sempre: se tiver que cursar um MBA, faça em finanças. É fundamental para a carreira entender um pouco de finanças.

Então, eu tenho lido muito, sou autodidata. A internet dá muitas possibilidades, blogs… E eu sempre estudei bastante. Como eu durmo muito pouco, eu trabalho muito e leio muito. 

DÉBORA: Quantas horas você costuma dormir?

GOUVEIA: Eu durmo cinco horas por noite, em média. Eu vou dormir por volta de meia-noite e acordo 5h30 da manhã, todos os dias, normalmente.

ALBERTO: Esse hábito veio da época de empreendedor?

GOUVEIA: Sim, começou nesse período. Hoje eu acordei 5h30 e cheguei aqui 7h15 (risos). Vou dizer uma coisa para vocês. Sempre cheguei ao trabalho em torno de 7 horas da manhã. Por quê? Porque o meu concorrente chega às 9 horas. Então, tenho duas horas à frente dele, todos os dias. Quando o cara está sentando para tomar o café da manhã, eu já li o jornal, já chequei os e-mails. Estou duas horas na frente dele.

DÉBORA: Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho para sua versão mais jovem, o que você diria?

GOUVEIA: Eu diria isso para mim: menos ansiedade e mais paciência. E menos dinheiro e mais projetos (risos). Porque é muito bom quando você embarca em um projeto legal. Eu sempre disse às minhas filhas, Marcela e Mariana: “procure uma empresa bacana para você começar a trabalhar”. Isso faz muita diferença na profissão.

Então, eu daria esses conselhos aos jovens: primeiro, se aplicar um pouco mais no trabalho. Segundo, entregar mais do que lhe pedem, sempre. E terceiro: viajar um pouco mais.

DÉBORA: Qual foi o seu principal erro na carreira?

GOUVEIA: Foi ter pensando mais em dinheiro e menos em projetos, em alguns momentos. Esse foi o principal erro de transição da minha carreira. Outro dia, eu estava fazendo uma palestra para os trainees e um deles me perguntou: você tem algum arrependimento na sua carreira? Eu tenho. Eu viajei muito pouco com as minhas filhas. Então, se eu pudesse voltar atrás, eu viajaria mais com elas. Eu era muito agoniado com o trabalho.

VINICIUS: Hoje você consegue equilibrar a vida pessoal e a profissional?

GOUVEIA: Equilíbrio é uma coisa muito relativa, depende de cada um. Eu me acho uma pessoa extremamente equilibrada, trabalhando 12, 13, 14 horas por dia. Tenho uma rotina muito forte. Procuramos estar com as nossas filhas nos fins de semana, fazer refeições juntos. Em casa, temos um acordo. Todo mundo espera os outros para jantar até as 21h. E é bacana porque toda vez que jantamos juntos, conseguimos ter um momento família e conversar. Assim conseguimos equilibrar.

Conheço algumas pessoas que trabalham bem menos que eu e são totalmente desequilibradas. Enquanto tomam remédio, eu tomo whisky (risos). Você pode conseguir, dependendo do trabalho, conciliar família, trabalho, esporte e aprendizagem, numa boa.

Estratégia de novo segmento, novos produtos e inovação tem ajudado a Alelo a engajar seus jovens talentos

GOUVEIA: Na Alelo, vamos ter o melhor ano da história. Focamos intensamente em produtos financeiros, em antecipação. Contudo, estamos sofrendo muito com o aumento do desemprego no mercado. Cada emprego perdido é um cartão a menos carregado.

Há dois anos, decidimos uma estratégia que tem dado muito certo. O conceito é: novo segmento – middle e varejo, novos produtos e inovação. A combinação desse tripé nos faz conseguir engajar a turma nesse projeto e a entregar o que precisamos no longo prazo. Nossa empresa está olhando para 2020. Eu não estou olhando para 2015, 2016. Preocupado eu estou, mas nossas ações são sempre de longo prazo, estruturantes. Se você mira o longo prazo, você acaba vencendo o curto prazo.

Estamos agora contratando 150 pessoas a mais para a empresa. Para poder “invadir” novos segmentos, com novos produtos, estamos contratando. A empresa tem hoje cerca de 450 funcionários, ou seja, estamos contratando 30% a mais de pessoal. 

VINICIUS: E assim você aproveita as oportunidades.

GOUVEIA: Sem dúvida. Crescemos muito mais que os concorrentes. Porque focamos internamente e externamente.

DÉBORA: Quanto a Alelo vai crescer neste ano?

GOUVEIA: Não posso especificar, mas será na ordem de dois dígitos.

DÉBORA: Se você pudesse escolher uma carreira diferente, qual seria?

GOUVEIA: Eu seria um diretor de RH.

DÉBORA: Por quê?

GOUVEIA: Porque eu gosto muito de pessoas. Existem duas carreiras em que eu me veria. Eu falo para a Soraya, nossa diretora de RH, “cuidado que eu vou tomar o seu lugar”! (risos). Eu me vejo muito forte em uma carreira de gestão de pessoas. Ou voltaria a ser um vendedor, diretor comercial.

ALBERTO:  E ter um negócio próprio?

GOUVEIA: Nunca mais. Eu já tive uma segunda experiência, agora. A minha esposa montou um e-commerce de dermocosméticos. Foram três anos e meio de luta. É muito difícil começar uma empresa do zero. Então, eu me considero um empreendedor corporativo. Eu construo dentro das organizações.

VINICIUS: Atitude de dono da empresa, né?

GOUVEIA: Muito forte. Se entendermos que isso (empresa) é nosso, teremos uma outra relação com o trabalho. Eu tenho essa crença muito forte. Sou uma pessoa muito focada em resultados. Então, o que me motiva é projeto e entrega. Em dois anos, nós mais que dobramos o lucro líquido dessa companhia. Por quê? É foco em gente, foco em resultado, foco em oportunidade. É trabalhar muito. Eu falo sempre: trabalhar muito não mata ninguém.

E tem que criar um ambiente bacana. As pessoas gostam de vir para cá. Tenho uma forte preocupação com isso. Temos uma crença de que felicidade dá lucro. Pessoas felizes dão lucro. Então, investimos muito nisso. Essa empresa é baseada em celebração e reconhecimento. Estaremos em festa amanhã pelo reconhecimento de ser uma das 150 melhores empresas para trabalhar. O escritório estará todo decorado com balões coloridos. Tudo isso faz com que a empresa caminhe para frente.

VINICIUS: É importante você acordar motivado para trabalhar. Com vontade de entrega.

GOUVEIA: O Luiz Carlos Trabuco (presidente do Bradesco) falou isso uma vez: você acorda, se asseia, se apruma e vai trabalhar. E isso é uma coisa forte para nós: você estar bem e preparado para ir trabalhar. Isso faz diferença: se preparar e chegar aqui com vontade.

Também temos uma preocupação forte com meritocracia. Se você quer, quer. Se não quer, não é aqui que você será feliz.

E, por fim, tem uma coisa engraçada. Quando eu entrevisto alguém para vir trabalhar conosco, eu faço três perguntas que são muito fortes. A primeira: você é um cara do mal? Se for, não quero aqui dentro. A segunda: você é puxa-saco? Se for, não quero também. Quero que as pessoas aqui digam a verdade, falem o que não queremos ouvir. O que queremos ouvir, todo mundo diz. E a terceira é: você gosta de coxinha e coca-cola? (risos). Porque o cara que gosta de coxinha e coca-cola é um cara de bem com a vida. É um cara bacana. E é isso o que queremos: tem que ser uma pessoa que goste de estar junto, que goste de viver e estar perto dos outros.

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