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Flávio Calife é economista da Boa Vista SCPC.
O cenário de crédito e consumo já não é mais o mesmo de anos atrás, quando o consumo puxava de forma preponderante o crescimento econômico com o apoio do expressivo crescimento do crédito. Mesmo com um cenário macroeconômico recente mais incerto, o mercado de crédito ainda se manteve fortalecido. Contudo, a partir do ano passado, começou a apresentar sinais de enfraquecimento, após anos de grande expansão.
Em 2015, estes sinais tornaram-se mais expressivos e já começaram a esboçar uma elevação dos principais indicadores de inadimplência e risco de crédito dos consumidores. O baixo ritmo de crescimento da atividade econômica, a inflação persistentemente alta, o aumento da taxa básica de juros e a confiança na economia em níveis baixos, além de ocasionarem uma redução na demanda por crédito, também levaram os concedentes de crédito a manter políticas mais restritivas nos empréstimos.
Ademais, já se começa a observar um aumento do risco de tomada de crédito, mostrando agentes com maiores probabilidades no atraso dos pagamentos das dívidas, além de pequenas elevações na própria inadimplência.
Hove piora no perfil de dívida do consumidor nos últimos meses
De fato, o cenário macro atual contempla uma perspectiva de desaceleração contínua do saldo do crédito. O racional por trás desse diagnóstico deve-se em boa parte à maior seletividade dos concedentes de crédito aliado a consumidores mais cautelosos.
Por parte da oferta, nota-se a queda real no crescimento dos saldos dos recursos livres, utilizado preponderantemente para aquisição de bens e serviços. Para os recursos direcionados, o crescimento deverá ser consideravelmente menor do que em outros anos, influenciado pela maior insegurança de mercado, ocasionando moderação até mesmo em categorias consideradas mais seguras, como crédito imobiliário e consignado.
Por parte da demanda, já é possível verificar uma retração real da procura por crédito dos consumidores, apesar de ainda ocorrer um aumento do endividamento – que nos últimos anos cresceu basicamente pela elevação dos recursos destinados para habitação.
Contudo, houve certa piora do perfil de dívida do consumidor nos últimos meses, com um aumento das linhas de crédito rotativo. Para os próximos meses, a expectativa causada por conta da piora do endividamento (com maior parcela de atrasos e mesmo dos não-pagamentos) é a de um aumento do fluxo de inadimplentes na economia.
O varejo, por sua vez, também não tem demonstrado grandes resultados nos últimos dois anos, caminhando praticamente de lado já há algum tempo. Neste ano, especificamente, ele deverá demonstrar pela primeira vez um resultado negativo em seu histórico desde 2003, de acordo com os dados oficiais do setor, aferidos pela Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE. As vendas do varejo brasileiro voltaram a cair em abril, enquanto na comparação anual apenas os setores de artigos farmacêuticos, de perfumaria e de materiais para escritório, informática e comunicação apresentaram alta.
Os setores mais afetados pelo momento ruim da economia são os de bens duráveis
De maneira geral, pode-se dizer que os setores mais afetados pelo momento ruim da economia são os de bens duráveis, mais dependentes de crédito – afinal, os juros estão mais altos e os bancos estão mais seletivos na concessão de empréstimos. Os setores de não duráveis (farmácias e supermercados) ainda mostram algum fôlego, embora também sejam afetados pela queda da renda (inflação alta) e do emprego. Cautelosos, os consumidores estão evitando se endividar, privilegiando a compra de bens essenciais e, na medida do possível, o pagamento de dívidas.
Os números apenas acabam por reforçar a tendência de enfraquecimento da atividade econômica. Isso vem afetando diretamente o comércio, um dos setores que mais cresceram nos últimos anos e que mais empregam no país. Somado ao cenário de desaceleração do crédito e menor atividade econômica em geral, o consumo de bens duráveis deverá sofrer adicionais reduções.
A conclusão deste panorama, além de levar em consideração uma série de indicadores de conjuntura econômica, é resultado da análise de um novo relatório de mercado, lançado pela Boa Vista SCPC em parceria com a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), que passam a divulgar mensalmente informações específicas para o mercado de crédito e varejo, utilizando exclusivamente indicadores desenvolvidos pelos parceiros.
O denominado “Panorama do varejo e crédito” é um boletim gratuito que tem como objetivo desenvolver uma análise sintética dos indicadores, de modo a contribuir para o enriquecimento dos diagnósticos de mercado.
Ao total, serão onze indicadores divididos inicialmente em três grupos: Demanda e Risco de Crédito; Endividamento e Inadimplência; Consumo e Varejo.
No primeiro grupo, será contemplada uma análise sobre o comportamento dos consumidores na busca pelo crédito no mercado e o risco representado aos concedentes. No segundo, haverá uma análise detalhada sobre o comportamento do fluxo da inadimplência, além de uma apresentação dos aspectos gerais do endividamento das famílias. No último grupo, aprofundar-se-ão as análises dos indicadores de créditos destinados especificamente ao ramo varejista da economia.
Por fim, ao final de todos os meses serão avaliados conjuntamente o comportamento desses indicadores no curto e longo prazo, bem como suas influências sobre os demais indicadores da economia. O relatório será acompanhado de um quadro resumo dos indicadores apontando o comportamento marginal e a trajetória percorrida ao longo do último ano, além de apontar possíveis tendências do mercado de crédito e varejo.
Caso deseje consultar o “Panorama do Varejo e Crédito”, acesse: http://www.boavistaservicos.com.br/blog-do-economista/parceria-boa-vista-scpc-e-fecomerciosp/
Boa leitura!