Getting your Trinity Audio player ready...
|
Planejamento é uma característica marcante de Claudia Nohara. Aos 23 anos de idade, já havia definido suas metas profissionais para duas décadas à frente. Queria tornar-se gerente financeira até os 30 anos e diretora financeira aos 40. Cumpriu ambos objetivos antes do esperado: tornou-se gerente aos 28 e diretora aos 36.
Convidada pelo programa de mentoring do IBEF Jovem, na última quarta-feira (31), a diretora executiva administrativo-financeira da Eurofarma dividiu com os participantes as alavancas que impulsionaram sua meteórica ascensão profissional.
1° acelerador de carreira: defina o seu objetivo – “Se você não sabe aonde quer chegar, será muito difícil construir um plano de carreira e executá-lo. Por outro lado, se você sabe, será mais fácil planejar e ter clareza das escolhas e ações que precisará realizar”, ressaltou a mentora sobre o primeiro fator “acelerador” de sua carreira.
Aspirante a executiva desde jovem, com o firme propósito de sentar na cadeira n° 1 de Finanças, Claudia enfrentou uma época na qual mulheres em cargos de alta gestão era fato raro na sociedade brasileira. Quando contou suas ambições à mãe, foi aconselhada a não seguir, em especial na função de Tesouraria, porque “ninguém confiaria em uma mulher cuidando do dinheiro”, recordou a executiva, sobre a mentalidade ainda dominante nos anos 90.
Claudia não se intimidou com o desafio. Manteve seu propósito firme, mesmo diante dos vários constrangimentos impostos à minoria feminina na época. “Venho de uma família de mulheres fortes. Minha avó materna foi enfermeira na 2a Guerra mundial e a paterna era uma sensei (mestre japonesa). Minha mãe tem doutorado em economia pela Fundação Getúlio Vargas. Quando me deparei com uma sociedade machista, tive que ter foco e trabalhar muito para superar as barreiras”, contou a executiva.
Antes de se formar, em linha com as etapas do plano de carreira que havia traçado para si, Claudia sabia que obter a fluência em inglês seria essencial para cumprir o passo de começar a trabalhar em uma multinacional. Conversou com seu pai sobre a meta, e ele a apoiou, trabalhando também à noite para pagar um curso particular para a filha. “Todo sacrifício dele fez com que eu me empenhasse ainda mais para atingir meus objetivos”, relembrou.
Uma carreira bem-sucedida – Hoje diretora executiva administrativo-financeira da Eurofarma, a profissional já soma 20 anos em Finanças e 17 anos de experiência em gestão de equipes, desenvolvimento organizacional e de talentos. Ao longo dessa trajetória, geriu regiões geográficas de alta complexidade e diferentes culturas (Mercosul, América Central e Venezuela, América Latina e Américas, incluindo duas posições globais).
Claudia trabalhou em empresas renomadas como TAM, Johnson & Johnson, Cadbury Adams, Pfizer, Warner-Lambert e Philips Morris. Gerenciou projetos complexos, como fechamento de fábricas, mudança de modelo de negócios, implantação de sistemas integrados, execução de planos de fusão, aquisições e vendas de negócios e planejamento estratégico. “Sempre fui focada em entrega, participar de projetos que pudessem agregar valor. Meu grande trunfo foi ser reconhecida pelos meus chefes como alguém que poderia resolver problemas ou situações difíceis”.
“Hoje tenho o prazer de ver que a participação de mulheres na área está muito mais equilibrada e talvez seja até maior para alguns cargos. Foi um grande desafio para as pioneiras, tivemos que trabalhar mais, ter resiliência e foco para conseguir sentar na mesma cadeira. Apesar de existirem oportunidades de melhoria, hoje o mundo executivo é muito mais equilibrado e justo”, ressaltou.
2° acelerador de carreira: mapeie as áreas relevantes para o seu planejamento – A orientação da diretora aos jovens profissionais é mapear as habilidades e experiências que serão relevantes para alcançar o objetivo de carreira, e identificar as empresas que poderão oferecer essas oportunidades.
Quem almeja sentar na cadeira de CFO, por exemplo, inevitavelmente terá que passar pela área de Planejamento Financeiro, observou Claudia. Outra dica é não ficar mais do que dois anos em funções de back office. Para chegar à alta gestão, é preciso ganhar visibilidade na organização. Isso requer entender o negócio e também acumular experiência em áreas vitais para a tomada de decisão, como a comercial, por exemplo. “Dependendo do seu objetivo de carreira, as experiências e conhecimentos exigidos poderão ser bem diferentes. Por isso, identifique seu objetivo final e mapeie todos os passos necessários para chegar até ele”, aconselhou a executiva.
3° acelerador de carreira: construa oportunidades de acordo com a posição desejada – A execução do plano de carreira requer foco e disciplina, especialmente para os jovens, alertou Claudia Nohara. “Aceitar uma posição só porque o salário é mais alto, mas não tem alinhamento com seu objetivo, pode significar um atraso de dois anos na sua carreira. Quando uma oportunidade surgir, calcule o Valor Presente Líquido daquela decisão para o futuro da sua carreira”.
Na época em que era executiva em uma das empresas, Claudia teve a oportunidade de ser entrevistada para posição de diretora financeira para o México ou para Venezuela e América Central. “Eu me preparei para as duas entrevistas, estudei os balanços e números das duas operações, visitei os pontos de vendas pessoalmente em cada país”, observou, destacando a importância da preparação. Após analisar os dois negócios, Claudia percebeu que seu trabalho como executiva se destacaria e agregaria mais valor para o negócio da Venezuela, que tinha de fato um problema financeiro a ser solucionado, ao contrário do México, que na verdade possuía um problema comercial, contou a mentora.
A decisão se mostrou acertada. Como diretora financeira para a Venezuela e América Central, Claudia ajudou a multinacional a transformar a estratégia financeira para a região. Ganhou visibilidade internacional perante a organização. “Só pude ser tão instrumental e parceira do negócio porque efetivamente estudei a operação e entendi a política e a economia local. Conhecer o negócio é fundamental para estar apto a discutir de igual para igual com quem faz gestão, e assim agregar valor às decisões”.
Claudia ressalta que para alcançar seu objetivo de carreira, é importante também estar disposto a pagar o preço. “Não foi uma experiência fácil, naqueles dois anos vivenciei a difícil realidade enfrentada pela população venezuelana. Havia escassez de itens básicos de consumo nos supermercados. Mas cumpri minha missão e impactei o negócio positivamente”, contou Claudia, que, após essa experiência, foi promovida a diretora financeira regional sênior para a América Latina.
Catalizadores de carreira
Assim como existem fatores que aceleram o desenvolvimento profissional, há também os catalizadores, que ajudam o executivo a potencializar seu impacto em uma empresa.
O primeiro deles é o autoconhecimento, destacou Claudia Nohara. “Entenda o seu perfil, descubra o que te motiva. Conheça as suas fortalezas, aquilo que faz você se destacar e as áreas que precisa desenvolver”. Isso está em linha com o branding, ou seja, a construção da marca pessoal – as características pelas quais você deseja ser lembrado pelas pessoas que trabalharam com você.
Feito isso, o passo seguinte é entender a cultura organizacional da empresa onde você está ou pretende trabalhar. A dica da executiva é que, com base em seu autoconhecimento, o profissional terá duas opções: se adaptar à cultura daquela companhia (se ela for importante para seu passo de carreira), ou então buscar uma empresa com uma cultura que valorize as competências de sua marca pessoal.
Claudia recomendou, ainda, moderar o estilo pessoal ao da organização, mas sem perder sua proposta de valor. “É preciso trabalhar o branding, ou seja, ter clareza das características pessoais que o diferenciam e quais as áreas em que naturalmente irá se destacar. “Pense na marca que você gostaria de deixar como legado”.
“Nunca subestime a importância da cultura organizacional”, alertou Claudia, sobre o fator responsável por um grande acerto e um grande desafio de carreira. “Quando entrei em uma das multinacionais em que trabalhei, eu cresci com a velocidade de um tiro porque o meu perfil pessoal, muito objetivo e orientado a resultado, encaixou-se perfeitamente à cultura da empresa”, observou. “Por outro lado, enfrentei um grande desafio quando comecei a trabalhar em uma empresa onde a cultura era muito diferente e tive que suavizar meu estilo. Não foi fácil, mas foi uma das empresas em que mais aprendi”.
Liderança inspiradora
Claudia Nohara destacou que a habilidade de liderar e influenciar pessoas são características que diferenciam profissionais de alta performance daqueles de alto potencial. “É importante saber alinhar expectativas, formas de trabalho e resultados esperados com seu interlocutor. Quem sabe fazer isso para cima, para baixo e para os lados tem um grande potencial para crescer”.
Outro fator diferencial é a habilidade de desenvolver talentos. “Se você quer ter uma carreira rápida, prepare o seu sucessor. Sempre que eu assumi uma posição, busquei identificar na equipe quem teria potencial para me suceder e o preparava para isso. Hoje, na Eurofarma, tenho vários sucessores em potencial. É uma equipe de excelentes profissionais e busco desenvolver todos “.
Para Claudia, o líder não delega responsabilidade, apenas trabalho. “Se alguém da sua equipe errou, você também errou porque não supervisionou como deveria. Por isso, assuma sozinho a responsabilidade pelo erro”. Contudo, o líder também deve ter em mente que seu papel é ser justo e não bonzinho. “Se o seu liderado já recebeu feedback adequado, mas insiste nos mesmos erros, você não pode se omitir de tomar uma decisão necessária. Ou estará sendo injusto com quem faz a coisa certa”.
Por outro lado, os acertos devem ser reconhecidos e muito celebrados. A diretora relatou que, recentemente, um analista tomou a iniciativa de propor uma solução inovadora e de baixo custo, que ajudou a empresa a reduzir despesas e melhorar processos. “Fiz questão de apresentar este jovem e o seu projeto ao nosso CEO. Quando a sua equipe conquista ou realiza algo, aponte os profissionais responsáveis pelos acertos, pois isso cria um vínculo de confiança e motiva a todos”.
Papel do CFO na estratégia – Para Claudia Nohara, o CFO deve empurrar a pauta da organização para frente, e não ser arrastado por ela. “Hoje tenho, além de toda a área financeira, responsabilidade sobre a área jurídica e de TI. A todo momento desafio as áreas a trazerem soluções e apresentarem tendências do mercado. Meu papel é apoiá-las e ajudar a implantar iniciativas que possam levar a organização em direção ao futuro”.
Próximo encontro de mentoring – A CEO da Latam, Claudia Sender, será a convidada do programa de mentoring do IBEF Jovem, marcado para o dia 12 de junho. Claudia Nohara, que já trabalhou com a atual CEO da Latam, destaca que a executiva foi uma de suas inspirações na carreira. “A Claudia Sender foi a primeira líder que me mostrou ser possível reunir todas as dimensões: ela dominava o conhecimento técnico, a estratégia da organização e tinha o poder de inspirar as pessoas. Isso é algo muito poderoso”.
“O líder inspirador te convida a fazer parte de um propósito, vislumbrar o objetivo maior da organização. Este é um desafio especial para nós, executivos de finanças”, observou Claudia Nohara. Questionada sobre o seu atual objetivo, uma vez que já alcançou a posição de diretora, sonhada aos 20 anos, a executiva responde com um sorriso e a serenidade de quem há muito deixou de perseguir somente um cargo, para ver um propósito maior naquilo que faz: “Tornar-me uma líder inspiradora”.
(Reportagem: Debora Soares / Fotos: IBEF SP)