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Em evento promovido pela Comissão de Tesouraria e Riscos, Maurício Molan diz que Brasil não entrará em trajetória de crescimento, mas cenário de estabilidade se aproxima
Embora a retomada do crescimento não esteja no horizonte do economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan, o analista prevê um período de estabilidade, com ligeira melhora da inflação, para 7 %, e queda da taxa Selic para 13 %, já no final de 2016.
“O que esperar de 2016?”, com as projeções do economista-chefe do terceiro maior banco privado do País, foi o mote do encontro organizado pela Comissão de Tesouraria e Riscos, liderada por Elaine Olivetto. O café da manhã reuniu cerca de 50 profissionais da área no último dia 8, na sede do IBEF São Paulo.
A comissão técnica conta com a parceria da gigante alemã SAP, desenvolvedora de softwares de gestão de empresas. Precedeu a palestra de Maurício Molan, a apresentação da estrutura global de tesouraria da SAP por Mariana Martins. Mariana é responsável pela tesouraria da multinacional na América Latina.
Fundo do poço
Diante do pior quadro de recessão da história do País, a projeção de Molan coloca o Santander na ponta menos pessimista do mercado, com previsão de PIB encolhendo 3,6 % no final do período e aumentos respectivos, de 1,2 % e 1,5 %, em 2017 e 2018.
“Não vamos entrar em uma trajetória de crescimento, dada a falta de confiança por parte dos consumidores e empresários. Mas trabalhamos com um cenário de baixa de juros, em função de a demanda agregada já estar reduzida.”
Os sinais de melhora, para o economista, repercutem os indícios de que estamos chegando ao fundo do poço – ou seja, o ponto limite de agravamento e também de partida para uma recuperação, com vendas do varejo caindo a um ritmo menor, acréscimo no volume de exportações e nível de confiança dos investidores constante, ainda que em patamares mínimos, dado o contexto de incerteza.
Dinâmica das Contas Públicas
A situação fiscal é a principal razão de preocupação do governo, segundo Molan: “a conjuntura atual remete à década de 80” – a década perdida dá nome ao episódio econômico de má gestão do dinheiro pelo governo, como a crise da dívida no Brasil, tendo paralisado o crescimento econômico nos anos 1980.
Segundo Molan, a dinâmica da dívida é insustentável. “Há duas alternativas possíveis para o governo sanar o problema da dívida no país; uma pelo lado bom, que considera o corte de gastos, e outra que seria uma saída inflacionária.”
Embora alguns países tenham endividamento alto em relação ao PIB, esses países, principalmente os desenvolvidos, pagam juros baixos, o que os diferencia do Brasil. Outro fator de diferenciação está no fato de a dívida pública brasileira estar concentrada nas mãos de investidores locais. Isso, segundo Molan, afastaria o risco de default por aqui.
“O sistema é fechado. Se todo mundo quiser tirar dinheiro do País, o câmbio sobe. O que você tem é uma mudança de preço de ativo. No limite, pode-se rolar a dívida no overnight, emitir moeda ou queimar reservas.”
Populismo x Austeridade
Com a dívida do setor público em uma dinâmica impagável, as apostas do mercado “precificam” probabilidades, associando-as ao cenário político. A delação premiada do senador Delcídio do Amaral mostra bem essa volatilidade do mercado, medindo forças entre ajuste fiscal ou populista.
Segundo Molan, o governo não vai pelo caminho da reforma fiscal, pois precisaria de apoio do Congresso, coisa que não tem. Em um cenário de mudança de governo, com impeachment, Temer enfrentaria muita turbulência e pouco avançaria por esse viés. Somente outro governo, na opinião de Molan, teria base para um ajuste pelo lado da reforma fiscal.
O cenário populista, por outro lado, englobando o programa do PT, seria muito arriscado, segundo o economista, pois aprofundaria a recessão e o processo inflacionário.
Uma terceira possibilidade, vista como um meio menos controverso, seria o conhecido “empurrar com a barriga”. Ainda que sem solvência fiscal, a alternativa teria ajustes, muitos relacionados à própria dinâmica da crise, como o ajuste no câmbio. Com a desvalorização do real, o custo unitário do trabalho é reduzido, as exportações se tornam mais competitivas e a produção de bens nacionais ganha mercado frente aos importados.
Para Molan, não se pode dizer que o câmbio está sobrevalorizado atualmente. “É um câmbio razoável, perto de um câmbio suficiente. Não está longe do equilíbrio. O câmbio vai ficar nos patamares de R$ 4,10 em 2016 e R$ 4,20 em 2017. Estabilizando, pode ajudar a inflação a recuar”, avalia.
No que toca as ações do governo para reduzir gastos, o economista cita a redução do crédito ao consumo pelos bancos públicos e alinhamento de tarifas de preços administrados.
Outras projeções do Santander
PIB per capita: Estimativa é de queda de 10% em 2016 e em 2017. Diferentemente do que acontece nos EUA, em razão de a força de trabalho ser especializada, aqui a mão de obra tem baixa qualificação e requer treinamento, minando a recuperação acelerada desse indicador.
Tributos: A aposta é de que um governo com mais credibilidade e força no mercado aumente a carga tributária para 40 % a 45 % do PIB nos próximos 10 anos, lançando mão da CPMF, do aumento dos juros sobre o capital próprio e do IR. Seria necessário, na visão do economista, reduzir gastos do governo com reforma previdenciária e desindexar o salário mínimo (este ano teve aumento de 11%). No caso de adiamento desses ajustes, a avaliação do analista é de que pior do que não cortar gastos seria não aumentar tributos e ficar descompensado.
Inadimplência: Deve continuar aumentando, principalmente a das empresas. A realidade é diferente para cada segmento de mercado, mas no setor de pequenas e médias empresas, principalmente, o acréscimo é preocupante. (Natália Fontão)