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Empresas compartilham expectativa positiva com retomada gradual pós-crise

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Em um cenário de crise em que as empresas tiveram que se reinventar, sofrendo um baque inicial e passando por uma reestruturação, aparentemente a pior fase já passou. A reunião da Diretoria Vogal do IBEF-SP do dia 25 de setembro trouxe o depoimento tanto de representantes de setores que tiveram um impacto forte da crise quanto de segmentos mais resilientes e, no geral, todos compartilharam expectativas mais positivas com a retomada, ainda gradual, após o momento mais difícil da pandemia de COVID-19. 

Serafim Abreu, diretor presidente do IBEF-SP, fez a abertura do evento destacando a virada para o virtual que o Instituto deu, realizando 34 encontros virtuais desde o início do ano, o que alavancou suas atividades. “A tecnologia ajuda, mas o objetivo é termos uma aproximação”. Ele ressalta que o terceiro trimestre do ano está sendo concluído com muitos altos e baixos e um panorama novo para o Brasil, com baixa taxas de juro e dólar alto. “Muito importante saber como as empresas estão se saindo nesse ambiente”. 

Luciana Medeiros, vice-presidente da diretoria executiva, conduziu a rodada de setores, que iniciou com um depoimento de Aury Luiz Ermel, CFO do China Construction Bank (CCB) banco que possui na China e em suas subsidiárias, 400 mil funcionários, e atua no Brasil há 7 anos, sendo um banco de médio porte, comercial, com oito agências. No começo a da pandemia, todos os funcionários no Brasil ficaram em home office. “Hoje temos aproximadamente 97% do pessoal em trabalho remoto, sem perspectiva de plano de retorno”, diz. 

Ele destaca que o RH do banco tem feito ações para aproximar as pessoas, como reconhecimento trimestral das áreas e funcionários que mais se destacam. “Além disso, o banco tem tentado aproximar as culturas da China e do Brasil e oferece apoio em relação à violência contra mulher ou violência doméstica, criando um canal anônimo para denúncia”, conta Aury.

Dentro do setor financeiro, no segmento de médias e grandes empresas houve uma demanda grande por crédito no início da pandemia, com o Banco Central abastecendo o mercado para isso. “Boa parte dos recursos não foram requisitados devido a uma necessidade de caixa, mas sim para uma precaução, fazendo com esse crédito voltasse para o sistema através de aplicações financeiras. Houve uma liquidez que, aos poucos, está sendo desmontada. Outras empresas estão tendo acesso a um caixa mais longo para diminuir seu passivo bancário”, diz.

No setor de benefícios, a Alelo também tem apresentado recuperação, atuando ainda em trabalho remoto. Hélio Barone, CFO da empresa, diz que o setor de supermercados teve um comportamento mais elevado em relação aos restaurantes, com 5% de crescimento nos últimos meses em relação ao ano anterior, enquanto restaurantes tiveram uma queda relevante de 49% em abril versus mesmo mês de 2019, sendo essa queda na ordem de 27% nos meses mais recentes.

Hélio ressalta que a companhia está com uma agenda evolutiva de portfólio, que continuará firme nos próximos meses, de integração do uso em marketplace e soluções de delivery, permitindo a utilização do auxílio em outras plataformas. “No aspecto macro, a preocupação para 2021 é a geração de emprego”, pontua. Hélio diz ainda que os indicadores de mobilidade, principalmente passagem em pedágio, que caíram bastante no início da pandemia, já estão superando a queda. “Enquanto isso, o uso em estacionamentos não retornou, até por ter correlação grande com utilização em shoppings e aeroportos”, explica. 

O setor de estacionamentos foi um dos que sofreu maior impacto durante a crise por depender do deslocamento de pessoas, que reduziu muito principalmente nos meses de abril e maio. Emílio Sanches Salgado Jr., CFO da Estapar, destaca que a empresa está se recuperando do baque inicial, com um faturamento já voltando a crescer, e até o final do ano deve apresentar uma retomada melhor, apesar de ainda ser abaixo do ideal em termos de faturamento, principalmente por conta dos aeroportos, onde a Estapar opera massivamente no Brasil. “Há ainda uma consolidação grande no mercado, que deve progredir”, diz. 

Além do estacionamento tradicional, a Estapar atua também com o Zona Azul, operando em 20 cidades, sendo que uma das concessões foi do Zona Azul de São Paulo. Por conta disso, a empresa se listou em bolsa, com IPO feito em maio, tendo uma boa recepção. Ele destaca que por conta da necessidade de funcionários na rua, o C-Level trabalha presencialmente desde abril para dar apoio à equipe operacional. “As operações estão voltando, e a única coisa que está 100% fechada são universidades e arenas”. Emílio ressalta ter confiança na retomada. 

Resiliência – Sendo um setor forte e de destaque no período da pandemia,o segmento farmacêutico segue crescendo. Helena Pecora Galan, CFO da Eli Lilly, destaca que o varejo é o principal motor do crescimento no setor, se mantendo estável e bastante atrativo, independente da crise. “A pandemia trouxe alguns efeitos, o primeiro deles foi um crescimento de medicamentos genéricos mais forte em relação a outras classes, por uma questão de acesso e impacto de renda”, avalia. Segundo ela, passado o impacto forte de abril e maio, a partir de junho houve uma retomada em diversos mercados, e o volume de prescrição voltou ao de antes da pandemia, porém com um mix de produtos diferente. “O mercado brasileiro de varejo cresce cerca de 12%, entre as taxas mais altas do mundo”, destaca Helena.

Falando em aceleração digital, ela pontua que esse mercado teve bastante transformação com a telemedicina, e o contato com os médicos passou a ser em grande parte digital. “Muita solução veio para ficar”, diz a CFO. Ela ressalta que muitas empresas buscam uma potencial solução para a pandemia de COVID-19, inclusive a Lilly, com alguns estudos em andamento.

A indústria alimentícia também teve maior resiliência, apesar do forte impacto que a pandemia trouxe ao emprego. Vitor Fabiano, CFO do Dia Supermercados, ressalta que o consumo de varejo foi afetado no início da crise, com queda no comércio de 13,7%, mas o varejo alimentício teve forte crescimento, de mais de 13%. “Estamos em um setor resiliente, em um trabalho de recuperação da empresa, o que nos leva a um ritmo extraordinário de crescimento”, destaca. O Dia manteve um modelo de trabalho totalmente home office, ficando 4 meses sem escritório e mudando para uma nova sede, que será 40% menor. “O retorno ainda não está definido, e começaremos de forma gradativa”.

Vitor pontua que a área financeira opera melhor em home office no que diz respeito a rotinas e processos, com mais eficiência e agilidade, e as ferramentas se mostraram eficazes. “Na área financeira, o foco está na gestão e regularização do fluxo de caixa. Temos trabalhado fortemente com fintechs como alternativa de gestão. Para 2021, a preocupação são as gestões públicas e o emprego, que precisa voltar”, avalia.

O setor agro também foi destaque no período da pandemia, segundo Elisangela Almeida, CFO Solinftec, agritech que oferece tecnologia ao agronegócio levando inteligência de dados através de IoT, consolidada no mercado agroaçucareiro, tendo 70% e 80% das usinas de cana como clientes. “Durante a pandemia, focamos na organização da área de finanças e backoffice, consolidamos a governança de todos os processos de controles internos da empresa, o que facilitou nossa atuação nesse período”, diz. Assim, que favorecida pelo crescimento e importância do agronegócio, houve um interesse maior pela empresa por parte do clientes. “Consolidou-se a necessidade do agronegócio se modernizar”. 

Em termos de impacto negativo, Elisangela diz que a subsidiária na Colômbia, que atende América Latina e Caribe, foi prejudicada em seu crescimento por conta do fechamento dos países. Ainda assim, no Brasil a companhia manteve seu crescimento e teve uma retenção de pessoal em um polo de tecnologia localizado em Araçatuba, passando a ser fornecedora de mão de obra, criando uma cultura mais forte de capital humano. “Nossa estratégia é crescer visto que, no momento, não temos nenhum competidor com o mesmo nível de soluções. Mesmo na capacidade já instalada, há possibilidade de crescimento com novas soluções”, pontua Elisangela. 

Construção e indústria – Harley Scardoelli, CFO da Gerdau, destacou que a empresa, que tem foco em construção, apesar de atender a indústria e a uma gama variada de setores, priorizou o cuidado com funcionários, a preservação de caixa, sendo que a ajuda do governo impulsionou o consumo, especialmente o da pequena construção. “Não colocamos o pé no freio tão forte, tendo uma recuperação mais rápida. Essa dinâmica do mercado de construção está bastante ativa nos últimos meses, a maior parte das obras continuaram, mas passamos por dificuldades como falta de produto, especialmente para varejo, o que está se corrigindo e levando para uma situação de alta demanda e pouco estoque”, conta. 

Ainda no setor industrial, George Cavalcante, CFO do grupo multi-industrial ITW, explica que a empresa atua em sete segmentos globais e que no Brasil há aproximadamente mil funcionários. Com relação à pandemia, um dos princípios do grupo foi cuidar da saúde dos colaboradores e continuar atendendo os clientes. Cada uma das unidades construiu seus protocolos, e em geral as pessoas continuaram trabalhando pessoalmente, sem prejuízo de quem preferiu trabalhar remotamente. “O ano está sendo impactado pela pandemia, especialmente no negócio de equipamentos industriais”, diz. Ele ressalta que esse segmento depende de investimentos. “Para 2021, as empresas estão com perspectivas boas em relação a venda”. 

George diz ainda que a maioria dos negócios está equilibrada, mas o setor de embalagens para indústria alimentícia está trabalhando acima da média e teve que aumentar capacidade de produção, enquanto a indústria automobilística acompanhou as montadoras na paralisação. “No equilíbrio do grupo, estamos em uma posição satisfatória, mas cada negócio tem sua peculiaridade”, complementa. 

Considerações finais – Em suas considerações finais, João Marcio Souza, membro da Diretoria Executiva do IBEF-SP e managing partner & CEO da Talenses Executive, empresa do Grupo Talenses dedicada ao alto escalão e conselho de organizações, pontua que o ambiente macroeconômico estará favorável para fusões e aquisições e IPOs em função da reduzida taxa de juros – atualmente em 2% – além da expectativa de reformas governamentais que deverão impulsionar o fluxo de investimentos e devolver ao Brasil o esperado crescimento por parte dos investidores. “Neste ínterim, no entanto, a pandemia seguirá impactando o mercado e os indivíduos até que finalmente surja uma vacina e o próximo normal possa acontecer. Portanto, até lá, todos continuarão em home office e a liderança protagonizando muito no sentido de estar próxima das estruturas de pessoas e de forma mais humanizada fazendo a gestão”, avalia.

Na agenda dos CEOs, João destaca o “tom” da gestão, que continuará sendo a posição de defesa dos negócios, a agenda de liquidez e o olhar atento para inovação e novas oportunidades de mercado. “Há ainda muita dificuldade de se planejar cenários de curto ou médio prazos. No entanto, há consenso quanto à realidade da transformação digital nas empresas, que gerou muita reflexão sobre a modernização e modelagem dos negócios e trouxe um novo modelo de trabalho e eficiência organizacional, inclusive do ponto de vista comercial”, destaca.

No contexto setorial, exceção à serviços financeiros, agro, varejo alimentar e farmacêutico e tecnologia, João Marcio avalia que a recuperação do mercado tradicional será gradativa e focada, em um primeiro momento em segmentos de bens essenciais para então migrar para aqueles de capital mais intensivo e, portanto, o retorno da agenda de investimentos por parte das empresas.

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