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Encontro com CEO: Executiva que conquistou seu espaço no mercado árabe dá dicas para uma carreira internacional

Ter determinação, planejamento e construir boas relações foram passos que Angela Martins, Chief Representative Officer do First Abu Dhabi Bank para a América Latina, deu para atingir posições de extrema importância no setor financeiro internacional. A executiva galgou sua trajetória em um ambiente restrito para as mulheres, tornando-se referência em finanças islâmicas. Ela foi a convidada do Encontro com CEO, do IBEF Mulher, realizado no dia 9 de maio.

Aos 65 anos, Angela segue firme em uma carreira brilhante, construída em instituições financeiras. Mãe de três filhos, ela soube conciliar o crescimento na vida executiva com a família, o que a torna uma profissional muito admirada por colegas do meio. “Angela é um ótimo exemplo de que é possível ter tudo e manter uma visão estratégica”, disse Maria José Cury, líder do IBEF Mulher e sócia da PwC Brasil.

No evento, Angela contou que começou sua trajetória como concursada no Banespa, onde trabalhou por 9 anos. Após fazer uma pausa na carreira em função da maternidade, as oportunidades começaram a aparecer com o advento dos bancos múltiplos no Brasil. “Fiquei três anos fora do mercado de trabalho quando tive meus filhos. Mas, quando voltei, havia uma forte demanda por profissionais com experiência em câmbio e área internacional, que eu desenvolvi no Banespa”, disse. Foi nesse momento que a executiva passou a trabalhar no Banco Dibens.

Conquistando espaço – Angela fez a primeira operação de empréstimo em moeda estrangeira do Brasil diretamente de um investidor para um banco multiplo e começou a desenvolver a área internacional do banco. Até que devido a uma mudança na estratégia da instituição, que passaria a focar mais no mercado local, ela decidiu buscar seu espaço em outros lugares. Fez entrevista e saiu de gerente para ser convidada a tornar-se superintendente do então banco ABC Roma, atual ABC Brasil, que pertencia ao Grupo Roberto Marinho. “Cheguei lá em 1996, e olhando os arquivos do banco, encontrei o primeiro contrato de uma operação islâmica. Fiquei com aquilo na cabeça e fui atrás das áreas envolvidas na Matriz. Não conhecia bem a cultura e tinha dúvidas se me atenderiam pelo fato de ser uma mulher. Fui muito bem acolhida por um dos executivos. Com o apoio dele, aprendi muito sobre finanças islâmicas e consegui realizar minha primeira operação”, contou Angela.

Nesse momento, a executiva passou a ter um diferencial perante outros profissionais da sua área. Já em um cargo de diretora adjunta, ela percebeu que mesmo entregando mais que um par masculino na mesma posição, o banco concedia os mesmos aumentos de remuneração a ambos. “Eu produzia mais e a gente ficava no mesmo patamar”. Angela foi conquistando seu espaço até que, em um movimento ousado, posicionou à empresa o seu desejo de assumir a diretoria executiva de mercados internacionais e de capitais. “Era ou vai ou racha”, conta bem-humorada. Ela conseguiu não apenas o cargo como mais tarde ao lado de outros poucos colegas todos homens se tornou acionista após o IPO do banco.

Oriente Médio – Foi nessa época que Angela intensificou seu relacionamento com o mercado financeiro no Oriente Médio, região pela qual se apaixonou. Foi a primeira mulher a visitar um banco Islamico na Arábia Saudita. “Virei referência em finanças islâmicas e hoje estou entre as 500 pessoas mais influentes no assunto”, disse. A executiva é ainda autora do único livro em português sobre finanças islâmicas, “A Banca Islâmica”.

Conquistar seu espaço como uma mulher de negócios no mundo árabe não foi fácil, mas Angela contou com o apoio de vários colegas e teve humildade para receber e aceitar orientações, principalmente no que diz respeito à cultura local. “Eu compreendi que não era meu papel interferir ou levantar bandeiras. Se você está na área internacional, tem que saber transitar pelas culturas locais”.

Planejamento e transição – Ao longo de 15 anos no ABC Brasil, Angela aprendeu que é importante para um profissional saber olhar para dentro da empresa em que está – agregando novas habilidades para manter uma posição relevante na organização – e também olhar para fora – prestando atenção nas tendências do mercado, criando relacionamentos e aprendendo sobre negócios. “Busquei parcerias e o ABC Brasil ganhou, por três anos seguidos, o “Deal Of The Year”, prêmio da Trade Finance Magazine, publicação da Euromoney. A executiva também conta que nos eventos internacionais em que participava, sempre se apresentava e fazia perguntas. “Era importante as pessoas saberem quem eu era e onde eu trabalhava. Com isso, conheci muita gente e hoje tenho relações no mundo inteiro, nunca perdi contatos”.

Aos 58 anos, Angela desenvolveu um planejamento pessoal que não incluía se aposentar aos 60, como era comum entre os funcionários do ABC Brasil. “Decidi sair de lá antes de atingir a idade elegível para aposentadoria e algumas pessoas disseram que eu estava louca. Mas eu sabia que não poderia deixar para a empresa a decisão de me aposentar, dizer quando eu sairia do mercado. Eu é quem tinha que tomar as rédeas da minha carreira”, ensina. Ela tomou o risco da transição e foi para o Banco Pine. “Bem cheguei, recebi cinco propostas de trabalho. Fiquei durante 1 ano e 9 meses no banco. Mas meu sonho era ser executiva na América Latina de um banco árabe”.

No Banco Pine, Angela realizou diversas conquistas – como o crescimento de 110% da carteira de crédito e emissão de bonds no mercado chileno, o Huaso bond. Após um “namoro” de oito meses, decidiu ir para o National Bank of Abu Dhabi, que é hoje o First Abu Dhabi Bank (FAB). “Em 1º de fevereiro de 2013, a operação brasileira do banco era eu, meu celular e meu carro. Cinco dias depois, fiz um tour com altos executivos do grupo para conhecerem o mercado nacional. Contei com a ajuda de vários amigos que fiz ao longo da carreira, que nos receberam muito bem em suas empresas, e da minha família para montar a agenda. Eles adoraram. Aluguei um escritório e desde o primeiro ano já tivemos resultado positivo”, contou.

Hoje, o FAB está no seu sétimo ano de operação no Brasil e conta com um volume administrado de cerca de US$ 2 bilhões. Angela sempre contou com o apoio de colegas e ex-colegas de profissão e de seu marido e filhos. Por muito tempo, a executiva passava 10 ou 20 dias por mês viajando pelo mundo e ainda assim cultivou laços e relacionamentos fortes por onde passou, mantendo também o vínculo com sua família. A história de sucesso e cheia de desafios de Angela Martins pode ser resumida em uma frase que ela mesmo destacou: “eu amo fazer negócios”.

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