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O IBEF-SP realizou a live “Da teoria à prática: Previsões econômicas e expertise da Coface para minimizar os riscos na sua empresa” no último dia 21 de outubro. Durante o evento, especialistas da seguradora abordaram as perspectivas para o cenário macroeconômico global e brasileiro e as soluções à disposição do CFOs para proteção contra riscos, como o seguro de crédito.
O evento contou com a participação da Rosana Passos de Pádua, CEO da Coface do Brasil, responsável pela moderação, e os convidados Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina; Ricardo Costa, gerente executivo comercial na Coface; e Irene Dizioli, gerente executivo de risco de crédito na Coface. A live teve como host Ana Paula Zamper, VP comercial do IBEF-SP.
Risco de crédito – Rosana de Pádua iniciou sua fala chamando a atenção dos CFOs e dos gestores de risco sobre a importância da ferramenta do seguro de crédito. Afirmou que existe no mercado uma grande preocupação com os riscos até o momento da venda e em todas as etapas do processo existem diversos seguros para cobrir tais riscos (transportes marítimo e rodoviário, estoques e patrimônio), mas no momento da venda, onde temos a necessidade de cobrir o ativo mais importante, os recebíveis, as empresas acabam não fazendo o seguro porque ainda é muito pouco conhecido. “O risco é imenso porque, se não houver o recebimento da venda, tudo o que a empresa fez anteriormente estará perdido, inclusive todos os custos envolvidos com os seguros anteriores”.
Perspectivas de crescimento mundial – Patrícia Krause apresentou os estudos da Coface sobre as perspectivas de crescimento da economia mundial, com projeção de avanço do PIB global dos 3,5% negativos de 2020 para 5,5 e 4,4%, respectivamente, para os próximos dois anos. Individualmente, Índia e China se destacam com projeções de crescimento do PIB para 2021, respectivamente, de 9 e 7,5%, e de 8 e 6,1% para 2022.
Na América Latina, a perspectiva para o crescimento da região se apresenta superior à global em 2021, com expansão de 6,2%, perdendo força em 2022, com crescimento de 2,4%, após uma retração de 6,5% ano passado. Ainda sobre 2021, estima-se para o Brasil um crescimento de 5,1%, inferior a outros países como Peru (11%), Chile (10,2%), Colômbia (7,5%) e Argentina (7%) e superior apenas ao do Equador (2,8%). Para 2022, as estimativas são de que o crescimento brasileiro fique em torno de 1%, o pior dentre esses países.
Desaceleração chinesa – Segundo os dados da Coface, o crescimento trimestral da economia da China vem apresentando reduções ao longo de 2021, saindo de uma expansão de 18,3% no primeiro trimestre para níveis mais moderados de 7,9% (Q2) e 4,9% (Q3) nos períodos sucessivos. “Essa desaceleração é causada por vários motivos, entre os quais: a redução dos estímulos porque a economia estava se recuperando da questão pandêmica, uma maior regulamentação em vários mercados, o alto endividamento das empresas do mercado imobiliário e a crise energética que levou a fechamentos ou paralisações que afetaram principalmente as companhias mais intensivas no consumo de energia”.
As importações do país asiático estão perdendo força desde maio de 2021, , acrescentou a economista. Todavia essa desaceleração apresenta algumas particularidades. “No último mês de setembro, de modo geral, vários produtos apresentaram uma desaceleração nas importações, mas os dois principais são (a) os semicondutores – e nesse caso não se pode dizer que a China está crescendo menos, pois é uma questão de desabastecimento global –, e (b) o minério de ferro que, nesse caso sim, para o Brasil tem um impacto em commodities importante”.
Balança comercial brasileira e preços – As exportações brasileiras apresentaram desaceleração em setembro, mas seguem em patamar elevado, com destaque para a agricultura e para as indústrias extrativista e de transformação. “É natural que continue com uma desaceleração até por conta de uma base elevada, mas não que exista uma forte queda de preço ou algo semelhante”, ressaltou Krause. Com relação aos custos e aos preços, a especialista destacou que existe a preocupação por parte de alguns setores – como o químico – que podem sentir uma pressão nos preços devido à crise energética chinesa e à questão cambial.
Desaceleração econômica e suprimentos – O nível do PIB nacional no segundo trimestre de 2021 está próximo ao patamar pé-pandemia. De outro lado, indicadores de atividade do terceiro trimestre apontam para uma desaceleração do crescimento. “O IBC-BR mostrou uma queda em agosto. Entre os principais setores de atividade, pode-se observar os números da indústria caindo nos últimos meses, o varejo mostrando sinal de desaceleração, enquanto os serviços ainda apresentam ganhos com a reabertura econômica”, explicou Krause.
Alguns dos motivos para a desaceleração do varejo são a alta da inflação e uma maior atenção e restrições às condições de crédito. Apesar da desaceleração, Krause afirmou que os dados do setor seguem em patamar de atividade superior aqueles de fevereiro de 2020. Com relação ao aprovisionamento de matérias-primas, a economista destacou que o “desabastecimento da cadeia de suprimentos segue afetando a indústria, sendo os bens duráveis aqueles mais impactados”.
Confiança – A frágil recuperação do mercado de trabalho, a queda da renda média dos trabalhadores nos últimos quatro meses, aliada a um contexto inflacionário e o endividamento recorde das famílias são fatores que trazem riscos para o consumo. Os indicadores de confiança dos empresários e da indústria também apresentam uma queda em todos os setores devido às baixas expectativas para os próximos meses. Krause afirmou, por fim, que a inadimplência ainda não apresenta sinais de alta, mas “existe uma tendência de alta pela situação econômica atual”.
Proteção – Segundo Rosana de Pádua, o Brasil e o mundo vivenciam um período de baixíssima inadimplência, historicamente talvez o menor período. “Nesses momentos, o melhor é se proteger. Seria bom se tal situação fosse perpetuada, mas não acreditamos que isso vá acontecer”, ao sublinhar a importância da proteção dos recebíveis.
Com relação aos fatores que podem impactar positivamente a análise de risco de crédito das companhias, a gerente executiva de risco de crédito da Coface, Irene DIzioli, apontou trabalhar com transparência e organização dos dados, não se subtrair ao compartilhamento de informações gerenciais, possuir um controle de gastos e de entradas, balanços auditados e bem laborados, além de uma boa gestão de estoque e de caixa. Em síntese, uma boa apresentação dos dados financeiros.
Irene acrescentou que a negativa de recomendação em um processo de cotação de seguro de crédito não é uma proibição de venda. “Às vezes a empresa pode não ter lucro em determinado período, mas pode apresentar uma justificativa e iremos levar isso em consideração. Uma recusa não necessariamente é algo ruim, é apenas um indicativo daquilo estamos vendo”, esclareceu a gerente.
O seguro de crédito é uma ferramenta que auxilia a empresa na tomada de decisão. “Fornecemos o nosso parecer e a empresa decide se realiza uma venda para uma organização que possa ter uma negativa de recomendação de crédito. Mas nesse caso, o vendedor tem a opção de exigir uma garantia mais líquida e realizar a venda. E nada impede que a transação se realize com pagamento à vista ou antecipado”, complementou Ricardo Costa.
Papel do CFO – Os especialistas traçaram dicas de como o CFO deve atuar para evitar problemas de negativa de recomendação. Para evitar a ausência de transparência nas informações, Irene Dizioli recomenda que o CFO fique mais próximo da operação da empresa para que possa estar ciente do que realmente acontece na organização. Além disso, possuir uma boa governança e balanços auditados são aspectos importantes no processo de avaliação.
Para garantir à empresa uma transação segura, segundo Ricardo Costa, é recomendável o uso de ferramentas como o seguro de crédito, seguros para exportação ou a solicitação de serviços de companhias seguradoras como a Coface.
Para os próximos meses, os especialistas elencaram alguns pontos aos quais os CFOs devem estar atentos. Entre eles, está o cenário de incerteza devido a desdobramentos da pandemia. Uma experiência nova e pela qual nunca se havia passado. “É necessário e muito importante as empresas se blindarem contra os riscos”, afirmou Rosana.
Como fatores aos quais os CFOs devem reservar especial atenção, ainda foram apontados a crise hídrica, o cenário de incerteza fiscal, a volatilidade cambial, a possível tendência de aumento da inadimplência, as dúvidas sobre o processo eleitoral, bem como uma atenção para a gestão de risco da cadeia de suprimentos.
O vídeo da live, com todos os assuntos abordados, ficará disponível para acesso exclusivo dos associados do IBEF-SP.