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Conflito de gerações, avaliação de desempenho, mediação de conflitos, diversidade, entre outros temas. Os desafios da gestão de pessoas em um mundo em transformação foram amplificados pela crise da Covid-19, que promoveu o trabalho remoto a algo comum. Neste cenário, os gestores estão cada vez mais desafiados a buscar soluções para lidar com a equipe e manter a eficiência operacional.
Estes desafios foram debatidos durante o painel “Pessoas em primeiro plano”, promovido pelo IBEF-SP em setembro. O encontro aconteceu na sede da Deloitte, em São Paulo e contou com as participações de Marcia Mello, conselheira e venture capital co-founder, e Ronaldo Fragoso, vice-presidente de relações institucionais e parcerias do IBEF-SP e sócio da Deloitte. A mediação foi de Luccas Oggiam, diretor executivo da Michael Page Brasil.
Trabalho remoto
O tema que dominou o debate foi o trabalho remoto e o modelo ideal a ser adotado pelas companhias. Marcia Mello destacou a mudança no modo de fazer gestão e a necessidade de um equilíbrio entre planejamento, avaliar desempenho, manter as entregas e ter contato com os clientes. “O maior desafio foi como fazer gestão de pessoas à distância. As relações mudaram e tivemos que aprender a interagir e liderar de uma forma diferente. Não temos mais aquela linguagem corporal, que comunicava muito no presencial”, afirmou.
Ronaldo Fragoso apontou um tema que tem sido a dor de muitas empresas: como encontrar o modelo ideal entre remoto, híbrido e presencial em relação a frequência, área de atuação e outras variáveis.
“Ninguém tem esta fórmula ainda. Se alguém falar que já sabe como faz, ou é muita pretensão ou uma falsa percepção. Este processo do híbrido será equilibrado ao longo do tempo. Há momentos em que é necessário vir três vezes por semana, semanas que temos que vir todos os dias e semana que não precisa vir nenhum”, destacou Fragoso.
O sócio da Deloitte ainda citou o exemplo da própria empresa para ilustrar esta busca pelo equilíbrio. “Estamos há dois anos tentando definir esta regra e chegamos à conclusão que é melhor não ter a regra. Quando se estabelece a mesma regra para todos, você cria uma distorção para alguns. Então, optamos que cada gestor criasse a sua regra, mas que seja flexível. Cada um na sua empresa terá que fazer este ajuste natural”, avaliou.
Contratação e retenção
Marcia abordou a dificuldade enfrentada pelas empresas que voltaram ao modelo 100% presencial para contratar novos colaboradores e manter os talentos na equipe. A constatação foi reforçada por executivos presentes no evento, que compartilharam a dificuldade para encontrar profissionais que queiram atuar neste modelo.
“Virou um benefício obrigatório. Vemos seleções para vaga 100% presencial que não têm candidatos. Esse ajuste depende do segmento e do time. As empresas que querem o presencial 100% estão tendo dificuldade de contratação e de retenção de talentos”, ressaltou a executiva.
Individualidade, conflitos geracionais e de diversidade
O isolamento social decorrente da pandemia reforçou ao máximo individualidades e limitou as conversas profissionais a resoluções de problemas em reuniões online. Para os painelistas, essa ruptura trouxe consequências, pois modificou dinâmicas históricas das relações profissionais.
“Antes tínhamos uma série de acordos, como horários de trabalho, compromissos e regras determinas pelo empregador. A partir do momento em que você descentralizou isso completamente, começou o dilema, pois a individualidade de cada um foi ampliada. Agora é impossível equacionar a sua semana com toda a sua equipe. Temos ruídos que não existiam e temos que aprender a lidar com os casos individuais de cada um”, analisou Fragoso.
Esses conflitos também foram ressaltados por Luccas Oggiam, diretor executivo da Michael Page Brasil. “É difícil para pessoas de diferentes contextos, gerações e realidades se adequarem todas às mesmas coisas depois da ruptura pela qual passamos. Muitos gestores não se sentem confortáveis em fazer gestão por KPI à distância. Há muitos colaboradores que não querem ser cobrados assim, mesmo preferindo o trabalho remoto”, salientou.
Marcia Mello reforçou o discurso, destacando o cenário de conflitos geracionais e a dificuldade dos mais velhos em lidar com o questionamento dos mais jovens. “As gerações mais velhas estão aprendendo a lidar com o questionamento. Vai da empatia de cada um, tanto do mais velho quanto do mais jovem, de se interessar pelo que vai aprender com o outro. Tínhamos uma cultura de que o gestor não precisava aprender nada, só ensinar, e esse modelo mudou muito. As mudanças são muito desafiadoras e só consegue sobreviver como gestor quem tem abertura para entender como aquilo vai potencializar o seu trabalho”, explicou.
A executiva também trouxe para pauta o debate sobre a diversidade. Para ela, mais que uma “diversidade por cota”, o importante é saber trazer o pensamento diverso de profissionais qualificados para cada posição. “É preciso saber dar o peso do que é a cota e ter um pensamento diverso. O mais importante é ter pessoas de características diferentes para você conseguir formar o todo. A questão do gestor é saber como aproveitar o melhor de cada um dentro desta diversidade”, completou.