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Por Sergio Volk, economista e membro do Conselho Fiscal do IBEF SP
Existe um consenso entre os economistas que para o país promover seu crescimento sustentável é necessário aumentar a poupança doméstica. Já li que: “O Brasil não forma poupança, não investe e não cresce”.
Num texto da coluna Opinião, no IBEF NEWS (152) de janeiro de 2011, comentei: “a poupança doméstica do País está em torno de 18% do PIB, sendo a poupança do governo, no passado recente, nula ou até negativa, e atualmente se situando em torno de 1,5%”. Este quadro não se alterou substancialmente, e ainda escrevi: “Para a economia brasileira, é razoável supor que a relação capital/produto marginal seja de 3/1. Um exercício simples permite, com base nesse parâmetro, avaliar os requisitos de investimentos para sustentar taxas de crescimento desejáveis para a economia brasileira. Se o Brasil quiser crescer 7% ao ano, significa dizer que tem que investir 21 unidades monetárias para gerar 7 unidades monetárias de produto”.
A taxa atual de investimento brasileira é pífia comparativamente a países mais dinâmicos, como os asiáticos, que chegam a investir consistentemente acima de 30% de seu PIB.
A relação entre poupança e investimento é sem dúvida um assunto gerador de muitas controvérsias teóricas. Alguns economistas acreditam que a relação é ex-ante, ou seja, primeiro poupa-se e depois se investe; outros entendem que a relação é ex-post, isto é, o investimento realizado, através da renda gerada, cria a poupança.
Dependendo do lado que se olha as soluções macroeconômicas a serem tomadas são excludentes, me explico.
O equilíbrio macroeconômico diz-nos que a oferta agregada deve ser igual à demanda agregada, ou seja, numa economia fechada e sem governo as famílias tem dois destinos para sua renda: consumir ou poupar; por outro lado, existem dois tipos de gastos na economia: consumo e investimento.
Como a renda é igual à demanda temos uma identidade em que o investimento é igual a poupança.
A politica atual do governo esta pautada no estimulo ao consumo e num raciocínio ex-ante. A solução para aumentar a poupança é reduzir o consumo o que gera um conflito, consumir ou poupar?
A visão ex-post leva em consideração que são os gastos que determinam a renda, e não o contrário. Sendo a poupança uma parcela da renda e o investimento um componente de gasto, infere-se que, é o investimento quem determina a poupança. A poupança não financia o investimento, quem financia o investimento é o crédito que o precede do ponto de vista temporal.
Posto isto, a agenda de desenvolvimento do governo deveria priorizar:
(i) realocar os gastos do governo para investimentos criando regras que permitam promover um ajuste fiscal mais forte e estrutural, em outras palavras: reduzir o peso da dívida pública no mercado financeiro;
(ii) ampliar o investimento público em infraestrutura e conceder serviços à iniciativa privada;
(iii) aperfeiçoar o mercado de capitais de modo a desenvolver financiamento de longo prazo;
(iv) permitir o acesso de camadas mais amplas da população a ativos reais e financeiros. Classes de renda mais baixa têm de ter a possibilidade de acumular ativos, reais e financeiros. O ativo real mais importante é, sem margem a dúvidas, o imóvel residencial.
Acho que o governo tem muitas evidências da necessidade de reduzir seus gastos e das consequências disto na economia através dos reflexos na taxa de juros, no câmbio e no investimento.