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Os CFOs veem sinais de melhoria no cenário econômico e torcem para que o pior tenha ficado para trás. Este foi o tom do primeiro almoço da Diretoria Vogal no ano, realizado na última quarta-feira (19).
A Diretoria Vogal é formada por um grupo de 80 executivos do IBEF SP. O órgão se reunirá a cada três meses com o objetivo de oferecer um panorama sobre a economia brasileira. Isso a partir das diferentes visões setoriais dos executivos que compõem o colegiado, explicou Marco Castro, presidente da Diretoria Executiva do IBEF SP e sócio da PwC, na abertura do evento.
¨Este é um excepcional começo para o trabalho deste grupo¨, ressaltou Rogério Menezes, CFO da Smurfit Kappa para Brasil, Argentina e Chile, ao constatar o recorde de mais de 60 executivos presentes em um único almoço da diretoria. Como 1° vice-presidente do IBEF SP, Menezes será responsável por conduzir as reuniões da Diretoria Vogal na gestão 2017-2019.
Setor elétrico: novos investimentos e consumo em recuperação
No setor elétrico, o evento mais marcante é o primeiro leilão de linhas de transmissão deste ano, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta segunda-feira (24), destacou Britaldo Soares, presidente do Conselho de Administração da AES Tietê e da AES Eletropaulo. O leilão, marcado pela volta de mais competidores ao setor, ofereceu 7.400 km de linhas, com a contratação de R$ 12,7 bilhões em investimentos.
Rinaldo Pecchio, diretor financeiro da CTEEP, acrescentou que o grande interesse das empresas pelo leilão se dá em função da taxa de retorno atraente, acima de 10% em termos reais. Número muito superior ao que era visto pelo mercado nos últimos anos. Pecchio acrescentou que a iniciativa contribuirá para a melhora na rede de fornecimento futura, contribuindo para que os projetos das indústrias possam ser levados à frente.
Do lado do consumo, Francisco Morandi Lopez, CFO da AES Brasil, adicionou que o setor elétrico deverá utilizar as usinas térmicas em patamar mais elevado, devido à intensidade de chuvas abaixo do esperado. Destacou ainda, que o consumo comercial e residencial começa a mostrar sinais de recuperação.
Turismo e hospedagem: cresce interesse dos brasileiros em viajar para o exterior
Apesar da queda de faturamento global do setor em 2016 (receptivo e hospedagem), a expectativa para 2017 é mais otimista. Flavia Buiati, diretora financeira do Grupo Rio Quente, destacou que o crescente interesse do brasileiro em viagens internacionais deve colaborar para um crescimento previsto de 3% nas receitas do setor. O otimismo é corroborado por recente pesquisa da FGV, que registrou incremento de dois pontos na intenção de viagem dos brasileiros, com foco internacional.
Transporte aéreo: grande potencial, mas burocracia e falta de estrutura entravam
O setor de transporte aéreo possui um grande potencial de crescimento, destacou José Roberto Beraldo, CFO da Latam Airlines. Contudo, este ainda é travado por questões como a inflação interna da estrutura de custos, novas regulamentações que aumentam custos para as empresas, e a ainda insuficiente infraestrutura aeroportuária para acompanhar o ritmo de crescimento do número de passageiros. De 2002 a 2015, o setor passou a transportar de 30 milhões para 100 milhões de pessoas, destacou Beraldo, ressaltando o grande potencial de crescimento.
Varejo: recuperação do consumo pode ser ponto de inflexão
Após enfrentar dois anos seguidos de queda forte da receita nominal, o setor de vestuário ensaia uma recuperação em 2017. No primeiro trimestre, em especial março, o setor voltou a registrar crescimento do fluxo de pessoas nas lojas. Talvez comecemos a assistir um ponto de inflexão no consumo, observou Frederico Oldani, CFO da Cia. Hering. ¨Estamos relativamente otimistas e o começo deste segundo trimestre parece reafirmar essa tendência positiva¨.
Comércio eletrônico deve ganhar ainda mais espaço em 2017
O e-commerce brasileiro tem motivos para comemorar. Fechou 2016 com faturamento de R$ 44,4 bilhões, e crescimento de 7,4%, destacou Luis Carlos Cerresi, CFO do Walmart.com. A projeção do setor para 2017 é positiva: 12% de crescimento, com R$ 50 bilhões de volume financeiro. Os dispositivos móveis aumentaram sua participação como canal de compra: já respondem por 21,5% das vendas realizadas. ¨O prognóstico do setor é positivo, de voltar ao crescimento de dois dígitos neste ano¨.
Telefonia: empresas desempenham melhor após momento de racionalidade
Todas as empresas do setor conseguiram gerar melhores resultados em 2016, após um esforço para reduzir a agressividade das ofertas, racionalizar custos e negociar com fornecedores. Contudo, o setor ainda vive um momento de racionalidade acentuada e busca mais eficiência, por meio do compartilhamento de estruturas entre as empresas, como torres, observou Leonardo Rocha, CFO da Nextel. Para 2017, as perspectivas são de melhores resultados e manutenção de investimentos.
Indústria emite sinais de recuperação gradual
Marcelo Bacci, CFO da Suzano Papel e Celulose, destacou que o mercado de celulose registrou aumento de preços expressivos nos últimos seis meses, puxado pelo crescimento da demanda asiática acima do esperado. Para o segundo semestre, a perspectiva do setor é de queda de preços, devido ao aumento da oferta com a entrada em funcionamento de novas fábricas de alta capacidade. A produção está em patamar melhor do que nos últimos anos.
Sobre o mercado de papel, Bacci observou que nos primeiros meses de 2017 não houve crescimento de volumes em relação ao ano passado. A expectativa é que este mercado terá algum crescimento no segundo semestre, mas nada excepcional em relação a ano passado, completou o executivo. Em termos de faturamento, a previsão do setor é crescer 6%, mais em razão do aumento de preços do que dos volumes.
As expectativas para 2017 são boas, acrescentou Guillermo Avalis, CFO da Ecolab, organização que oferece soluções de produtos químicos a serviços de treinamento e auditoria para diversos setores. Dentre os setores atendidos, há sinais de aquecimento em lazer, turismo e varejo. O setor industrial ainda registra desempenho fraco, com uma recuperação mais lenta. Ao citar as tendências para o ano, Avalis destacou que os movimentos de consolidação, fusões e aquisições devem ganhar força.
Teconologia: recuperação é esperada em 2017
Victor Sichero, CFO da Xerox, observou que as vendas do setor de tecnologia ligada a equipamentos de impressão tiveram recuperação no primeiro trimestre do ano. A retomada setorial, ainda que mais lenta, também foi constatada nos serviços relacionados a processos de negócios, como gerenciamento de impressão. ¨A perspectiva para o ano é positiva¨, afirmou o executivo.
Com relação a sistemas e software, Paulo Mendes, CFO da SAP, afirmou que os segmentos de subscrição e nuvem ganham força, à medida que as empresas têm questionado os custos associados à manutenção de máquinas e sistemas adquiridos. No primeiro trimestre de 2017, grandes empresas mostraram interesse em fazer projetos de longo prazo, de transformação digital, com a expectativa de colher os benefícios em dois anos. ¨É um sinal interessante de confiança na economia¨.
O desafio da redução de custos traz oportunidade para acelerar a substituição da tecnologia nas empresas, acrescentou João Paulo Seibel, CFO da Microsoft. Dentre essas oportunidades, destacou os projetos que utilizam computação cognitiva, tendência cada vez mais acelerada. O executivo observou ainda que os governos e as universidades têm sido pioneiros na adoção de novas tecnologias.
Brasil ainda não está na rota do investidor estrangeiro
Para Gilmar Camurra, sócio da empresa de investimentos Tesalia do Brasil, o risco-país ainda tem afastado os investimentos estrangeiros, sobretudo europeus, no tocante à área de tecnologia e telecomunicações. ¨O risco-país é um fator muito relevante, e dependendo do órgão investidor, o fato de o Brasil não ter grau de investimento dificulta¨. Por outro lado, Camurra acrescentou que há sinais consistentes de recuperação no desempenho de diversos setores econômicos. ¨Esperamos que esses sinais positivos cheguem aos investidores estrangeiros¨.
Saúde e bem-estar: Desemprego afeta a recuperação de serviços
Mauro De Marchi, CEO da Sodexo Pass do Brasil, destacou que o alto nível de desemprego ainda atinge o setor de serviços ligados a alimentação e qualidade de vida. O setor encolheu 7% no ano passado e ainda não enxerga uma forte recuperação para 2017. Um fato positivo é que o cenário de crise favoreceu a movimentação de mercado: clientes de empresas menores, que não conseguiram ter sua demanda atendida, estão migrando para grandes fornecedores. O crescimento do setor neste ano se deverá muito em função desse movimento de mercado, ainda que a retomada seja mais lenta.
Com crescimento diretamente ligado aos índices de emprego, o setor de planos de saúde também foi impactado pela redução no número de carteiras assinadas e o aumento de custos, que tem espremido as margens das empresas, observou Luis Andre Blanco, CFO da OdontoPrev, ao informar dados gerais sobre o setor de saúde. Entre março de 2016 e março de 2017, os planos de saúde perderam, aproximadamente, 1 milhão de beneficiários.
Já o segmento de planos odontológicos caminha na direção oposta: aumentou 1,5 milhão de beneficiários nos últimos 12 meses. A projeção para 2017 é positiva, com a expectativa de desaceleração no número de demissões. Os produtos massificados são vistos como uma grande oportunidade de crescimento, voltados ao público individual e de pequenas empresas.
Gestão de frotas: setor cresce em dois dígitos
O setor de gestão de frotas também vive ótimo momento. 2016 foi um ano excelente para este mercado, que registrou 30% de crescimento. O segmento tem se beneficiado da busca das empresas por redução de custo, observou Renata Theil, diretora financeira da LeasePlan. Para 2017, o setor altamente pulverizado e competitivo (cerca de 8 mil empresas atuantes) espera atingir uma expansão ainda maior.
Conclusão
O vice-presidente do Conselho de Administração do IBEF SP, Luis Felipe Schiriak, diretor da New Haven, destacou que esta foi a primeira reunião da Diretoria Vogal em que os participantes emitiram sinais de recuperação dos setores econômicos, após um longo período. Concluiu que a volta dos níveis de preços a patamares melhores para as empresas deixa uma mensagem mais otimista para 2017. A expectativa é que o próximo trimestre consiga solidificar esses sinais de melhoria, há tempos não vistos.
(Reportagem: Débora Soares / Fotos: Mario Palhares)