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Para CFOs, ações do governo para reverter crise econômica serão determinantes para retomada da confiança e dos investimentos
Os membros da Diretoria Vogal do IBEF SP se reuniram pela segunda vez no ano, em almoço na última sexta-feira (20). Na rodada de análises setoriais, a percepção é de que a nova composição da equipe econômica do governo trouxe maior otimismo para as empresas, que sofrem as consequências da desaceleração econômica. Para atravessar o momento difícil, organizações estão atentas a custos, fazem ajustes internos e buscam novas oportunidades de mercado.
O evento teve patrocínio exclusivo da IBM Brasil, que foi representada por seu CFO, Serafim de Abreu. Na ocasião, Serafim destacou que a empresa passa por um novo momento em seus negócios e ressaltou o potencial da plataforma de inteligência cognitiva Watson, que pode ser aplicada em diferentes indústrias.
Na abertura da rodada setorial, José Cláudio Securato, presidente do IBEF São Paulo, comentou sobre a mudança no cenário político do país em relação ao último encontro da Diretoria, que ocorreu em 19 de fevereiro, portanto antes de ser iniciado o processo de impeachment que afastou a presidente Dilma Rousseff. Posto isso, o objetivo deste encontro é saber, junto à atualização do cenário vivido pelas empresas, como a mudança política e o novo posicionamento econômico afetaram suas expectativas.
O 1º vice-presidente do IBEF SP, Marco Castro, iniciou então a rodada de análises, passando a palavra para os executivos presentes.
Saúde – A redução da força de trabalho nas empresas, pressionadas pelo difícil cenário econômico, tem impactado as organizações do setor de saúde. Ao mesmo tempo, outras oportunidades de mercado tem favorecido o crescimento do setor. No mercado de assistência odontológica, por exemplo, enquanto há retração no segmento corporativo, o segmento massificado vive um forte crescimento, informou Luis Andre Blanco, CFO da Odontoprev. De forma geral, a perspectiva para o setor é positiva e não houve redução no ritmo de investimentos, mas um natural direcionamento destes para os segmentos mais fortes.
Adolpho de Souza Neto, diretor de finanças do Grupo Fleury, do ramo de medicina diagnóstica, acrescentou que houve crescimento em todas as linhas de negócio, com destaque para hospitais. Contudo, o momento pede cautela, devido à redução do número de empregos formais nas empresas e a perspectiva de uma lenta retomada do cenário macroeconômico. O CFO da Sollis, Waldir Corrêa, enfatizou a atenção das empresas ao controle de custos na área médica, sendo a tecnologia uma forte aliada nesse objetivo.
Indústria – O setor automotivo continua sofrendo os impactos do cenário econômico adverso, observou José Rogério Luiz, CEO da Itu Partners Consultoria. Apesar de um cenário favorável para exportações, o mercado interno continua em retração. Boa parte da indústria nacional já vem reduzindo sua capacidade produtiva e há perspectiva de mais reduções de postos de trabalho.
O setor de siderurgia também vive dias difíceis, afirmou Rosana Passos de Pádua, diretora de RH, riscos e compliance da CSN. Parte da produção do setor historicamente direcionada para o mercado doméstico está sendo exportada. Os embarques de minério de ferro para o exterior continuam em alta, tendo a China como grande comprador. Contudo, o cenário de forte endividamento, a retração do mercado interno e a lenta recuperação das receitas advindas de exportação podem levar as empresas do setor a fazerem novos cortes de pessoal.
Adequações – Flavio Donatelli, diretor de finanças da Duratex, empresa fabricante de painéis de madeira e louças e metais sanitários, destacou que as exportações são uma saída para o seu setor, frente à menor demanda do mercado interno. Preocupa o setor o aumento do desemprego, que abala a confiança do consumidor, e da inadimplência. Nesse contexto, o caminho seguido pelas indústrias têm sido de redução de custos e busca por melhoria de processos e eficiência, com investimentos em tecnologia.
George Cavalcante, diretor financeiro da ITW do Brasil, fabricante de equipamentos industriais, também confirmou essa tendência. Ele observou que as melhorias de processos, ajuste nas equipes, e adequação ao tamanho do negócio, realizadas nos últimos dois anos, ajudaram a empresa a preservar liquidez e resultados no cenário atual.
As empresas familiares, pequenas e médias indústrias, com pouco capital disponível, estão entre as que mais sofrem os impactos da crise, comentou Sergio Diniz, presidente da Triple A Consultoria. Um ponto positivo é que os bancos têm apresentado uma postura mais receptiva para negociar e viabilizar reestruturações de dívida, cenário diferente do que se via há alguns anos. Porém, observou Diniz, ainda que exista um ânimo positivo no ar, com o novo posicionamento político do governo, não há indícios de retomada da economia em curto prazo.
Energia – A forte redução do consumo de energia pelas indústrias e a queda do consumo nas residências são observadas pelo setor, afirmou Simone Borsato, CFO da Elektro, distribuidora de energia elétrica. Desde o racionamento de 2001, o setor não via tal redução no canal residencial, ressaltou a executiva. O menor consumo associado ao bom nível de chuvas tem resultado em sobra de energia no mercado. A expectativa é que as mudanças a serem introduzidas pela nova equipe econômica do governo possam trazer um clima de maior confiança para o empresariado. Nesse cenário, o setor projeta uma recuperação parcial da queda de consumo.
Com relação ao segmento de geração de energia, Charles Putz, co-gestor do FIP Rio Bravo Energia e sócio-fundador da Verena Ventures, observou que há um cenário positivo para novos investimentos em energia limpa. Responsável pela área de infraestrutura da Rio Bravo, o executivo ofereceu a visão setorial de que investidores institucionais mostram-se pouco receptivos para investir em infraestrutura. Investidores estrangeiros ainda estão cautelosos em relação ao cenário econômico e político do país, e, por enquanto, não há movimentações para investimentos greenfield em infraestrutura.
Mercado Imobiliário – O mercado imobiliário vive um cenário de pressão de preços. O barateamento dos ativos e a maior dificuldade para obtenção de funding têm feito o setor desacelerar investimentos.
O segmento de escritórios, por exemplo, passou por um realinhamento de preços, voltando a patamares de valor similares a 2011 e 2012. Apesar da pressão de preços no mercado, a boa notícia é que muitas empresas aproveitaram essa oportunidade para locar novos espaços e fazer upgrades em suas sedes, observou Dani Ajbeszyc, CFO da Cyrela Commercial Properties. Ele destacou que 2015 foi o maior ano de locações para esse segmento. O segmento de galpões também passou por movimento semelhante. Já o segmento de shoppings enfrenta um ano difícil, afetado pelo aumento do desemprego e as pressões inflacionárias, que destroem o poder de compra da população.
A perspectiva do mercado imobiliário, como um todo, é que a retomada do crescimento setorial ainda deve demorar. Frente ao maior enxugamento de crédito subsidiado, o mercado começa a olhar com maior atenção para o mercado de capitais como fonte de funding.
Financiamento – Felippe Melo, executivo do Banco IBM, observou que as incertezas do cenário econômico fizeram com que algumas empresas postergassem seus investimentos. Por outro lado, percebe-que as organizações também começam a olhar para novas perspectivas de financiamento, diferente das que estavam acostumadas. Em termos de perspectivas para o mercado, o executivo disse que há otimismo e espera-se uma retomada da confiança – fato que dependerá da capacidade de execução do governo.
Termômetro da economia – José Cláudio Securato, presidente do IBEF SP, destacou a importância dos associados do IBEF SP – que administram em suas empresas o equivalente a 20% do PIB nacional – compartilharem sua visão sobre a economia. Ele destacou que o restabelecimento da confiança é fundamental para que as empresas retomem os investimentos.
Nos próximos dias, informou Securato, o Instituto encaminhará convites para autoridades da equipe econômica do governo – alguns desses profissionais são, inclusive, associados do Instituto – para que possam participar de eventos e dialogar com os ibefianos sobre o atual cenário.
(Reportagem: Débora Soares)