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Fórum de Finanças aborda inovação muito além da tecnologia para área financeira, de controladoria e de impostos

O Fórum de Finanças realizado na terça-feira, 13 de agosto, pelo IBEF-SP abordou o tema da Inovação, Transformação Digital e Mercado de Capitais, levando esses conceitos para próximo das áreas de controladoria e impostos com casos de empresas que estão melhorando seu desempenho a partir de novos modelos de gestão. A abertura do evento contou com a participação de Paulo Mendes, CFO da SAP, empresa que patrocinou o evento. “Um dos objetivos do IBEF-SP é ver a transformação digital na prática, nas aplicações do dia a dia. Entender o futuro, as tendências e trazer casos práticos que podem ser compartilhados”, disse Mendes na ocasião. O executivo posicionou a SAP como uma das ferramentas de facilitação dessa transformação digital que ocorre na área de finanças das empresas.

O primeiro painel, moderado por Alexandre Staffa, diretor administrativo financeiro da Suhai Seguradora e líder da Comissão Técnica de Controladoria e Contabilidade do IBEF-SP, reuniu profissionais que puderam falar sobre a experiência de levar inovação em controladoria, não somente pensando em tecnologia. “Inovação tem a ver com fazer o que a gente já fazia, mas de maneira diferente. Trazer componentes externos, como tecnologia, mas também metodologias, como Agile, para redefinir processos”, disse Alexandre Di Sesso, CFO para o Brasil na empresa de serviços de segurança G4S. Ele explicou que a transformação da empresa foi realizada por meio do redesenho de processo, o que trouxe verdadeira inovação.

Ele disse ainda que a empresa teve que passar por uma mudança na repetição de processos manuais e pouca utilização de sistemas automatizados. “O desenho que estou montando na G4S é para reduzir as tarefas manuais com processos mais eficientes. Muitas tarefas poderiam ser feitas de maneira diferente, mais enxuta, rápida e com maior qualidade”, explicou.

Marcelo Giugliano, CFO da Amazon, também participou do debate e disse que mesmo atuando em uma empresa inovadora, de varejo, e que traz soluções aos clientes, as formas para entregar o atendimento a menor custo e de maneira mais eficiente mudaram, e a transformação digital e automação dos processos ajudou nessa mudança. “Não vamos criar um produto somente pela tecnologia, e sim olhando a demanda dos clientes. Tecnologia é um meio para resolver o problema dos clientes”, destacou, dizendo ainda que o principal desafio é a mudança de cultura na figura que organiza bancos de dados das empresas.

Ainda do ponto de vista da organização de dados, Alexandre Di Sesso ressaltou que o facilitador do profissional de controladoria é acessar dados, e é preciso construir uma parceria entre esse profissional e o responsável pela construção dessa base de dados. “A área de controladoria trabalha com uma base gigantesca. Se não tiver capacidade analítica e de sintetização desses dados, não será possível gerar insights e ir para outras áreas”, disse o executivo da G4S.

Guilherme Baeta, responsável pela área de serviços compartilhados da Braskem, relatou também um desafio que sua companhia passa: o de auditoria interna e externa, monitoria, e validação de gates e compliance. “Tudo isso remete a pensar novas formas de executar essas tarefas, com mais qualidade e controle, e não necessariamente mais pessoas trabalhando”, explicou o executivo. “Tentamos inovar para, em um ambiente de muito controle, garantir que estejamos em full compliance e inovando. Conseguimos capturar eficiência, produtividade e satisfação, trabalhando com pilares na área digital, mas é na forma de organizar e montar os times dedicados, com ferramentas específicas, que a controladoria consegue ser um facilitador na entrega”, complementou.

Para ele, esse profissional com visão mais ampla e capacidade de agregar, com viés financeiro e conectado com o negócio, é peça-chave nos processos da empresa, e junto com novas tecnologias, pode gerar atividades mais analíticas em menor tempo. “Assim, tecnologia vem garantir a produtividade”.

Novas tecnologias — Marcelo Giugliano ressaltou que toda nova tecnologia que surge tende a ficar mais acessível, com ganho grande de escala, tornando o processo mais fácil. “Tem espaço grande para metodologias Agile, Scrum, mas isso depende de pessoas mais dedicadas, com liderança forte. O principal benefício dentro do processo de controladoria é poder explorar o que acontece fora da mesa, pois um projeto fadado ao fracasso é o que olha a controladoria dentro dela mesma”, disse.

Reduzir tempo de fechamento, ter mais produtividade e utilizar ferramentas como a de sistema integrado de gestão empresarial (ERP) é um viés que Guilherme Baeta tenta adotar dentro da Braskem. “Sempre tive interação com área de TI”, disse, reforçando, contudo, que mais do que a capacitação técnica nas competências da área, a controladoria demanda capacidade de relacionamento em toda a empresa para ter soluções inovadoras voltadas aos negócios, pensando no time e gerando resultado.

Marcelo Giugliano reiterou que a sinergia entre a área de tecnologia e a de finanças cresce cada vez mais. “O que vejo é o aumento a capacidade preditiva. Numa análise de qualidade de inventário, por exemplo, a previsão de vendas, observar o passado, entender o futuro do negócio e a qualidade do inventário é uma inovação do time”, destacou.

Inovação na área fiscal — O tema Inovação em Impostos foi abordado no segundo painel. Meily Franco, head of tax Latam da ContourGlobal e líder da Comissão Técnica de Tributos do IBEF-SP, iniciou sua participação como moderadora falando sobre a função fiscal e de que forma ela vem se redesenhando para novos desafios. “A mudança de mindset do profissional tributário e do CFO exige um esforço de convencimento e transformação”, destacou.

Participando do painel, Rodrigo Araújo Alves, gerente executivo de contabilidade e tributário na Petrobras, destacou que a companhia na qual atua possui inovação em seu DNA. “A Petrobras possui uma relação forte entre tecnologia e engenharia, com uma visão de futuro em transformação digital”, disse. A estatal iniciou seu processo de inovação com implantação do sistema SAP e Alves ressaltou que a transformação digital foi essencial para a companhia. “A introdução da plataforma SAP na otimização do processo de tributos, começando com o ICMS, nos ajudou muito a lidar com a complexidade de regulamentos diferentes. Trouxemos alguns viabilizadores, e hoje faço correção de nota fiscal em um repositório e fonte únicos. Temos um projeto para otimizar esse processo e estendê-lo para demais os tributos”.

Também presente no painel, Mario Rachid, diretor executivo de soluções digitais das empresas Hitss e Primesys, do grupo Embratel, relatou que, no mundo das telecomunicações, o processo de transformação acaba chegando mais rápido. “Mudar o mindset não é uma opção, é essencial para que empresa cresça. Existem áreas que precisam atuar de forma mais ativa, e a parte fiscal entendeu isso, sendo uma das áreas que mais evoluiu dentro do processo de inovação”, disse Rachid. A empresa trabalha em um processo para diminuir timing de informações fiscais e tem maior comunicação com a área financeira. “Engajar a área de impostos e entender como ela pode agregar como uma área inovadora, para dentro e pra fora, é nossa missão”, ressaltou.

Ferramentas de inovação  — Fornecer soluções e conteúdo no contexto digital tax também é a meta da Taxweb. Waldir Rodrigues Junior, diretor de conteúdo e serviços da empresa, destacou que seu objetivo é fornecer soluções na nuvem trazendo produtividade para os clientes. “Isso trouxe uma barreira inicial para nós, pois vimos que as empresas não buscavam soluções. Mas nossa meta sempre foi garantir suporte para transformação digital com segurança em relação a dados”. A Taxweb ajuda os clientes a gerar informação correta e obrigações de impostos, garantindo integridade e, dentro desse fluxo, busca soluções para enquadrar a visão de compliance. Waldir Rodrigues Junior disse ainda que a digitalização dos processos faz com que clientes ganhem mais governança.

Integração com CFO — Além da utilização de ferramentas digitais na área de impostos, a comunicação com o setor de finanças da empresa também é imprescindível para a organização do negócio. “O CFO deixou de ser apenas o executivo da área que controla e garante que tudo esteja organizado para participar da decisão do negócio. Hoje não tomo nenhuma decisão com vistas ao mercado sem antes consultar o CFO”, disse Mauro Hachid. “Vejo esse executivo 100% envolvido como uma peça fundamental”.

Rodrigo Araújo Alves reiterou que a velocidade da tomada de decisão, capacidade de utilizar analytics e questões preditivas para amenizar questões, como as tributárias, e ter habilidade de fazer a transformação digital devem ser os principais pilares de foco do CFO. “Temos a característica peculiar, além do tributo, que é a retenção da tributação e lidamos com vários fornecedores, o que traz um risco tributário extra. O papel do CFO não é somente mitigar esse risco, como também fazer uma gestão dele e plugá-la nos projetos da empresa”.

Transformação Digital e Mercado de Capitais — O último painel do Fórum foi moderado por Rosangela Santos, executiva financeira e conselheira de administração certificada pelo IBGC e líder da Comissão Técnica de Instituições Financeiras do IBEF-SP. Ela destacou que o Brasil apresenta enormes oportunidades, com um campo promissor de desenvolvimento dos negócios sendo que o mercado de capitais exerce papel capaz de impulsionar esse desenvolvimento. O objetivo do painel foi levar aos participantes a visão dessa jornada de desenvolvimento e crescimento dos negócios, a partir das perspectivas de investidores e empresas investidas, sendo os convidados a gestora de Venture e Private equity InvestTech e as empresas Gympass e OdontoPrev, que cresceram por meio de investimentos de mercado.

Gilmar Camurra, presidente do Conselho de Administração da InvestTech no Brasil, destacou que a inovação nos negócios deve sempre ser avaliada sob a perspectiva combinada de tecnologia e telecomunicações, sendo esse o foco de negócios da InvestTech, que é uma gestora de Venture e Private Equity.  Por definição sua tese de investimento é identificar projetos onde a inovação disruptiva é forte, com potencial de crescimento acelerado nos negócios buscando retorno financeiro aos cotistas.  “O ciclo de vida dessas gestoras é longo, de 9 a 17 anos, desde o levantamento dos recursos financeiros, escolha dos projetos até a saída do investimento, comentou Gilmar.

Em seguida, fez uma apresentação da jornada de crescimento desses negócios de crescimento acelerados, que se iniciam com os investidores-anjo, segue com fundos pré-seed, seed e posteriormente as Series A-B-C, sendo esses últimos o segmento dos Venture e Private Equitys. “Oferecemos, além do capital, experiência da equipe, conselho, acompanhamento, benchmark, networking e monitoramento”, disse. “A boa gestão e governança desses negócios é o que faz a diferença para o crescimento e geração de valor dos negócios”, concluiu Gilmar.

Priscila Siqueira, VP de vendas B2B do Gympass, destacou que a empresa nasceu ao identificar a necessidade de prover acesso as academias para as pessoas e lançou uma solução através de uma plataforma de marketplace de serviço por assinatura aos seus usuários, O modelo de negócios da empresa inicialmente pensado acabou sendo ajustado no decorrer das negociações com as empresas-clientes que acabaram fazendo sugestões de adaptações que foram acatadas resultando em um melhor serviço aos clientes. “A empresa teve um crescimento gradual por meio de aporte de pessoas, investidores-anjo, e muita gente ajudando com conhecimento”. Priscila contou a jornada de investimento da empresa e o processo de internacionalização que ocorreu a partir de seu crescimento orgânico. “Somos uma empresa de dados. O cliente está no centro das decisões”, disse.

A OdontoPrev é uma empresa mais madura tendo passado por todo o ciclo de investimento e crescimento apresentado e continuado sua jornada como uma empresa de capital aberto. “Importante destacar que o ciclo também é um ciclo de governança”, relatou Luis Andre Blanco, CFO da empresa. “Temos 32 anos de empresa, mas temos muitas oportunidades, pois a penetração de planos odontológicos no Brasil é de apenas 14%. Temos um caminho grande para crescer”, disse. Fundada por três dentistas em 1987, a empresa obteve em 1997 aporte de um investidor financeiro, primeiro negócio de private equity no setor de saúde no país, o que possibilitou a aceleração do crescimento bem como incremento adicional em governança. O IPO (oferta pública inicial de ações) da Odontoprev em 2006 foi um momento importante para a empresa, que passou a ser uma Corporation (empresa sem grupo de controle definido) sendo listada sob as regras do novo mercado.

O IPO possibilitou a saída do private equity bem como na captação de recursos necessários para uma nova expansão de crescimento através de aquisições. Posteriormente houve a entrada do Bradesco em seu grupo de controle e alguns anos mais tarde a associação com a BB Seguridade. “Temos um nível alto de governança junto a essas duas instituições de peso”. No final Blanco ressaltou a importância da evolução da governança junto com a evolução da empresa em seu ciclo. “Isso traz resultado operacional bem como crescimento de múltiplos”, complementou.

Indo para o encerramento do painel, foi unânime o debate quanto ao fator humano como o principal diferencial para a geração de valor nas empresas, desde o nascimento quando a figura do fundador é o principal valor do negocio bem como ao longo da trajetória de crescimento que é concretizada apenas pela realização das pessoas.

 

Álbum de fotos

 

(Reportagem: Bruna Chieco)

 

 

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