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Fórum IBEF SP de Finanças 2015

Evento debate os 100 dias do novo governo e perspectivas para o Brasil

O Fórum IBEF SP de Finanças 2015 reuniu executivos e especialistas para discutir os rumos econômico e político do país. O evento aconteceu na última quinta-feira (12), no hotel Unique.

Durante a saudação de boas-vindas, o presidente do IBEF SP, José Cláudio Securato, ressaltou que o país vive um cenário mais desafiador com a rápida deterioração da economia, entre 2014 e 2015, e a complexidade do cenário político. Por isso, o debate mostra-se mais do que oportuno.

O evento foi patrocinado por Microsoft, Bradesco Corporate, Omint, Netpoints, TAM e Carrefour. Apoio de mídia: Estadão.

Ajuste fiscal e oportunidades

A palestra de abertura foi realizada pelo subsecretário estadual de Inovação e Tecnologia, Julio Semeghini. Titular da pasta de Planejamento e Desenvolvimento Regional até 2014, Semeghini discutiu a situação orçamentária e o recente ajuste fiscal feito pelo Governo.

A arrecadação estadual sofreu um forte revés após o fim da Copa do Mundo, em 2014. Os cofres estaduais começaram a perder quase R$ 1 bilhão por mês logo após a Copa. O  problema foi percebido em agosto. O que inicialmente parecia um fato pontual, em função do menor número de dias úteis trabalhados durante a realização do mundial, revelou-se mais tarde o início de um processo de deterioração da capacidade produtiva. Segundo Semeghini, quase um terço da arrecadação vem do setor industrial.

O subsecretário destacou que o Governo realizou um forte ajuste fiscal para economizar mais R$ 5 bilhões nos últimos quatro meses do ano para cumprir a meta de 2014. No começo de 2015, foram contingenciados R$ 6,6 bilhões do orçamento (quase 50% acima em relação aos últimos anos), atingindo parte dos investimentos, cerca de R$ 1,8 bilhão.

Semeghini enfatizou que os investimentos não foram cortados, mas reprogramados. “O foco é não transferir as dificuldades orçamentárias de 2015 para esses investimentos; temos que preservá-los”.

O subsecretário também destacou que existem oportunidades para as empresas fazerem parcerias público-privadas com o Governo do Estado, em áreas como habitação, saúde e infraestrutura.

Análise Econômica
Em seguida, foi realizado um debate com o jornalista William Waack, apresentador do Jornal da Globo, e o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros. Waack destacou a instabilidade  do cenário político e perguntou a Octávio de Barros qual era a sua visão, se este seria o fim ou o começo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Barros disse que é preciso tomar certo cuidado para que não se confunda “popularidade com legitimidade’. Ele lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já contou com apenas 9% de aprovação popular em 1999, no segundo mandato.

O país vive um momento ímpar, analisou o economista. “Na minha carreira profissional, em quase 35 anos, não me recordo de um momento em que a política estivesse afetando tanto a economia como agora. Há um problema de contágio muito significativo”.

Barros afirmou que há convicção absoluta da presidente em relação à estratégia de ajuste fiscal do ministro da Fazenda Joaquim Levy. O entrave está na dificuldade política. Ele lembrou que Joaquim Levy é um profissional que se orgulha de ter participado de marcos sociais como a construção fiscal do Bolsa Família e é um exímio conhecedor das “entranhas” do setor público.

Segundo Barros, a dificuldade maior e as incertezas estão no Congresso Nacional. Consultores políticos afirmam que as medidas do Planalto serão aprovadas pelo Legislativo em 70 a 80% do escopo original. “Boa parte do ajuste fiscal não depende do Congresso, mas seria péssimo se ele não desse apoio à parte que lhe cabe”.

O economista destacou que o Congresso precisa ajudar na aprovação de medidas que sejam duradouras e resultem na consolidação fiscal, algo mais profundo do que somente cumprir a meta anual. ‘O importante é o direcional, a mudança de atitude e a consolidação fiscal. Medidas que tenham médio prazo”.

Questionado por Waack sobre qual seria o contágio do escândalo da operação “Lava Jato”, que investiga denúncias de desvio de dinheiro da Petrobras e o envolvimento de empreiteiras, Octávio de Barros respondeu que alguns segmentos estão sofrendo com uma onda de não pagamentos e não cumprimento dos contratos, o que pode se expandir para outros setores.

“Várias cadeias estão muito abaladas. A previsão do PIB para este ano é de -1,5%, com a contraçao da indústria. Vamos ter ano difícil, não tem milagre. A pergunta que me faço é se vamos conseguir construir uma nova plataforma para crescimento futuro. Se conseguirmos desenhar isso, será o que todo mundo quer. Não há outros drivers para o crescimento além da infraestrutura”.

Rating do Brasil

Regina Nunes, presidente da Standard & Poor’s, realizou palestra sobre as influências no rating do país e das corporações.  Segundo Regina, em março de 2014, o país recebeu o rating soberano BBB-, com perspectiva estável.

“Os números recentes foram mais negativos do que o mercado esperava, mas há sinais positivos com a implementação de uma equipe econômica forte, com pessoas que têm competência para fazer seu trabalho”.

A presidente da S&P afirmou que, até o momento, o rating soberano permanece o mesmo e a perspectiva é estável. “As manifestações da equipe econômica são positivas, mas o ponto está na capacidade de execução”.

Regina explicou que o país tem instituições fortes e transparência eleitoral. No entanto, o capital político do governo eleito é menor. “Mas se fosse maior também não haveria tanta pressão para fazer a mudança para uma política mais ortodoxa”.

A Operação Lava Jato foi uma das surpresas mais negativas que aconteceram entre 2014 e 2015. “As instituições são fortes, mas ainda existem questões. Novamente, vamos ter um teste”. Regina argumentou que pontos negativos como a dinâmica de dívida e capacidade fiscal do Brasil continuarão a ser monitorados. Ela acrescentou que o perfil de dívida do país é pior que dos pares na América Latina. “Hoje Brasil está sendo visto mais no curto prazo do que longo”.

Energia e Petróleo

Na análise sobre o setor de Energia, Regina explicou que os ratings estão ajustados, mas deve haver maior pressão na área de distribuição. “Nosso cenário básico não é de racionamento de energia. Não esperamos que tenha racionamento; não sabemos como seria e quais seriam os impactos”.

Regina explicou que o aumento dos preços de energia, 40% em média, acaba estimulando uma maior economia do recurso. “Hoje os reservatórios estão em 22% da capacidade; se chegar a 30% em abril, mitiga-se o risco de racionamento.

O setor de Petróleo e Gás possui cenário mais negativo. Regina destacou os impactos da “Operação Lava jato” e os atrasos na publicação do balanço.  A Petrobras possui rating BBB- estável, com base no suporte do Governo. “Não acreditamos que o balanço da empresa não será publicado até data limite, junho de 2015”.

Outro setor afetado pela Operação Lava Jato, Engenharia e Construção tem perspectiva negativa ao se analisar o setor como um todo.  Regina explicou que ratings mais vulneráveis refletem menor capacidade das empresas para administrar custos.

Desafios e Oportunidades de Negócios

No segundo debate do evento, o jornalista William Waack voltou para conversar com os executivos Daniel Levy, vice-presidente de Finanças e Gestão da TAM; Luis Felipe Schiriak, CFO da Eurofarma S.A.; e José Antonio Filippo, vice-presidente executivo financeiro e de RI da Embraer.


Waack perguntou aos participantes em que medida a situação econômica e política estava afetando os negócios de cada um.

Daniel Levy explicou que a indústria aérea é muito alavancada e grande parte dos custos são dolarizados, então a apreciação do dólar traz impacto negativo para a operação. Levy destacou que a demanda doméstica também começou a ser afetada, já que muitas pessoas estão revendo os seus planos de viagem. O momento de contração econômica também afeta a demanda corporativa por passagens aéreas.

“A gente vive um momento de freio de arrumação para construir as bases para 2016 e 2017.  É momento de repensar fatores chaves e se preparar para futuro para que os ajustes na economia se materializem em cenário mais positivo”.

Luis Felipe Schiriak, por sua vez, afirmou que a indústria farmacêutica viveu nos últimos anos um crescimento notável, resultado da combinação do crescimento da renda e do emprego. Há ainda o benchmark dos genéricos, que tornaram os preços dos medicamentos mais acessíveis. A receita da indústria subiu 20% em 2014.

“Não concordo que não possamos fazer nada. O CFO precisa colocar vários chapéus e 2015 será o ano para o CFO colocar o chapéu do gerenciamento de risco”.

Segundo o CFO, a variação cambial tem sido o maior ponto de atenção da indústria, já que 80% dos princípios ativos são importados. “Se os juros machucam, o câmbio mata. O custo é em dólar e o preço, em reais, e ajustado pelo Governo”.

José Antonio Filippo afirmou que sua empresa possui exposição em reais e o câmbio apreciado traz vantagens para o negócio devido aos custos serem em moeda doméstica. No entanto, ele lembrou que um quarto do negócio está ligado à área de Defesa, que está em reais, o que impactou a receita nesse segmento.

“A princípio, a valorização do dólar é positiva para nós, mas a volatilidade e a inflação podem consumir esses ganhos”.

Waack observou que os setores de atuação dos três executivos são regulamentados, então existe a dupla volatilidade do câmbio e do preço de insumos, porém há a volatilidade do custo regulatório e da atividade governamental. Então, como conseguir lidar com a volatilidade de atuar em setores regulamentados e com a volatilidade das variáveis econômicas que não podem ser controladas?

Daniel Levy afirmou que a saída é trabalhar com as contingências. Por isso, o planejamento estratégico já deve considerar variações no ambiente regulatório, mesmo que nem sempre seja possível prever as mudanças.

Luis Felipe Schiriak voltou a bater na tecla da gestão de risco. Schiriak afirmou que a atividade do CFO não é voltada para especular, mas para tirar a volatilidade cambial do risco do negócio. Para proteger patrimônio do acionista, é preciso identificar os principais fatores de risco e como mitigá-los.

“Por exemplo, energia: como o CFO faz para mitigar a volatilidade do preço da energia? Nós, no nosso caso, estamos nos leilões de energia. Em relação a câmbio, fazemos a gestão de fixar nossos compromissos em dólar e trazê-los para real. Essa é a nossa função, ver nosso portfólio e mitigar”.

José Antonio Filippo concordou que a gestão de risco é importante, especialmente em sua indústria, que possui um ciclo longo e investimento elevado. “Uma das coisas que mais investimos é em planejamento. Câmbio, fizemos todas as nossas proteções no ano passado. Fazemos regularmente proteção de fluxo de caixa para dois anos. Nossa função é buscar antecipar. O planejamento ajuda muito”.

O vice-presidente financeiro da Embraer ressaltou que a área de controladoria precisa preparar formação de custo e é importante discutir e se fazer entender com as áreas de negócios. “Planejar preventivamente é necessário para as indústrias”.

Questionados sobre oportunidades, Luis Felipe Schiriak afirmou que os CFOs têm a oportunidade de revisitar a estrutura das empresas e ver se tudo que foi trazido para dento trouxe valor e fazer ajustes voltados para o que realmente cria valor para o acionista. “Chega oportunidade de tomar medidas que você só faz em momento de dificuldades. É a oportunidade de ter empresas melhores em 2016 e 2017”.

José Antonio Filippo concordou com o raciocínio de Schiriak e disse que também há oportunidades de fazer aquisições e, em alguns casos, explorar novos mercados, mercados externos para empresas que não os acessam ainda.

Daniel Levy afirmou que no segmento corporativo há oportunidade de se redimensionar, buscar alternativas. Trata-se da oportunidade de fazer melhor do que concorrência, ser mais atento aos detalhes e dar um salto competitivo.

A questão final de Waack foi sobre quais conselhos os CFOs dariam para executivos mais jovens. “Rule number 1: don’t panic”, afirmou Schiriak. “Converse muito com as outras áreas, o CFO precisa transmitir segurança”, ressaltou Filippo.

Governança em pauta

O presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Leonardo Pereira, encerrou o evento com uma palestra voltada para o tema Governança. Pereira destacou as diversas medidas que a autarquia está implementando na área de ações sancionatórias, tomada como prioridade em 2015.

Alguns exemplos: utilização da tecnologia na parte investigativa do processo, com a implantação de um sistema novo de gravação e imagem; fortalecimento das parcerias com a Polícia Federal e o Poder Judiciário; e estabelecimento de metas para eliminar todas as apurações em aberto anteriores a 2012 e instaurar inquéritos anteriores a 2014.

Segundo Pereira, o caso do Grupo X começará a ser julgado no dia 18 de março. “Não só estamos limpando o passado como temos uma matriz de prioridades”.

Pereira ressaltou que não é possível falar em eliminar risco sem fazer referência às boas práticas de governança corporativa, fator determinante para o fortalecimento do mercado. De acordo com o presidente da CVM, a Governança está na pauta de discussão e se manterá nos próximos anos.

“Não podemos nos afundar por experiências infelizes. Diferentes desafios vão exigir diferentes soluções, mas não pode haver justificativa para estrutura ruim de governança. Não importa o segmento, tipo de mercado ou porte; toda empresa deve ter sua própria estrutura de governança adequada às suas necessidades e as dos seus investidores. As regras têm que estar claras, deve haver previsibilidade e essas estruturas devem ser constantemente reavaliadas”.

Pereira ressaltou que o mercado de capitais é oportunidade de financiamento. No entanto, as empresas precisam fazer a lição de casa: ter sólido arcabouço de governança, clara percepção e monitoramento de riscos.

Palavra dos patrocinadores
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“A Microsoft vem investindo de forma crescente em soluções que vão atender não só as necessidades das áreas de tecnologia, assim como as áreas de negócio. Então, fazer essa parceria com o IBEF SP é essencial para que a gente consiga estreitar o nosso relacionamento com executivos da área de finanças”.
Frederico Rezende, gerente de produto da Microsoft
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“O setor de planos de saúde está indo bem, nós estamos crescendo e anunciando a abertura de novas empresas. Teremos novidades em breve! Mas para o Brasil, como um todo, o momento é complicado.”
Paulo Gagliardi, diretor administrativo e financeiro da Omint
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“A participação da Omint neste evento é de suma importância. Se há um tema mais em voga no atual momento são os primeiros 100 dias do atual mandato da presidente Dilma Rousseff e a continuidade do governo do PT. O empresariado está bastante preocupado com a situação política e econômica do Brasil”.
Cícero Barreto, diretor comercial da Omint Serviços de Saúde
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