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Sustentabilidade, ações ambientais e seus impactos com a crise, e representatividade das mulheres em posições relevantes foram temas do Encontro com CEO com Patrícia Iglecias, diretora-presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB, promovido pelo IBEF Mulher, no dia 29 de setembro. A moderação do evento foi de Maria José de Mula Cury, VP do IBEF Mulher. “Esse é um encontro importante para trazer CEOs mulheres com a oportunidade de se apresentarem e para nós conhecermos sua trajetória profissional e pessoal”, disse.
Patrícia destacou a importância das mulheres nas carreiras e apresentou os desafios e oportunidades na área de sustentabilidade no Brasil, sendo ela a primeira mulher a ocupar a Presidência da CETESB. “Sempre foi uma empresa com posições de gestão com mais homens do que mulheres. Hoje, a empresa é considerada a melhor agência ambiental da América Latina, com mais de 130 mil empreendimentos licenciados no estado e mais de 36 mil na região metropolitana de São Paulo”.
Experiência – Com 52 anos e dois filhos, Patrícia contou que veio de uma família só de mulheres e tem cerca de 30 anos dedicados à gestão ambiental. “Não foi planejado, mas surgiu de forma interessante. Quando fui fazer meu mestrado, meu potencial orientador pediu para que eu buscasse um tema novo. Essa agenda cresceu muito, me abrindo outras oportunidades, não somente o concurso para docente, mas a possibilidade de gerir a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e a área ambiental da Universidade de São Paulo (USP), onde fiz um trabalho interessante e expressivo”.
Segundo ela, quando assumiu o cargo na USP, a universidade figurava, no ranking mundial de sustentabilidade, na posição 278a. “Quando saí, já estava na 23a posição em sustentabilidade, com ações internas da universidade, o que é fundamental, pois não basta ter pesquisas, as universidades devem internalizar essas ações”, destacou. Patrícia contou ainda que em sua experiência na Secretaria do Meio Ambiente teve oportunidade de representar os governos subnacionais na ONU no lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, falando sobre os desafios dos governos locais nessa agenda. “Entendo que o cumprimento da meta que o Brasil assumiu no Acordo de Paris só será possível com atuação dos governos locais”, disse. “Sou apaixonada pelo assunto, desenvolvi muitas outras pesquisas com a Escola Politécnica da USP e acabei assumindo a CETESB”, complementou.
Diversidade – No Governo Estadual, nunca houve tantas mulheres em posição de destaque, e hoje há quatro secretárias de Estado e uma presidente de Companhia estadual. Também há muitas mulheres nos Conselhos de Administração, sendo quatro no da CETESB. “Queremos avançar, sabemos das dificuldades, mas isso é inspirador. Nas reuniões, eu já reforcei a questão para que olhassem em todos os conselhos para o número de mulheres, fazendo o registro da minha alegria ao participar deste conselho”, disse Patrícia. Ela contou ainda que na Faculdade de Direito da USP, apenas 20% dos docentes são mulheres. “Percebemos, na estrutura da universidade, essa dificuldade e que tivemos, com o tempo, uma diminuição no número de mulheres aprovadas. Em muitos concursos que tivemos no meu departamento, considerando a minha geração de professores, que entraram mais recentemente, eu fui a única mulher aprovada”.
Patrícia falou ainda sobre as dificuldades na diversidade de gênero na área. “Temos um trabalho de colocar as mulheres em posições de destaque. A mulher tem uma percepção diferenciada em muitos dos temas trabalhados em conselhos, que são muitas vezes sensíveis. Por isso, eu vejo como positiva a participação da conselheira mulher, trazendo não só o conhecimento técnico, mas outra percepção, muito típica e diferenciada”, disse, reforçando que é necessário o conhecimento técnico das mulheres, que faz muita diferença na prática. Ela destaca ainda que os eventos da CETESB precisam ter um mínimo de participação de mulheres para que haja respeito à diversidade de gênero. “Nós ainda vivemos em um tempo que essas ações afirmativas são fundamentais para aumentar o número de mulheres no setor”.
Maria José ressaltou a importância de garantir uma participação maior de mulheres em conselhos para garantir o equilíbrio. “Ter políticas com ações afirmativas contribui para que o ambiente seja múltiplo, inclusivo, e é nesse ambiente que a colaboração e a inovação vão ter espaço para acontecer”, disse.
CETESB – A CETESB criou, em 2019, uma célula de inteligência de licenciamento ambiental, formada por profissionais experientes, que tinham a missão de analisar todos os processos e planejar ações, para reduzir e eliminar os passivos de pedidos de licenças. Patrícia destacou a atuação da companhia em alguns segmentos, como no uso de etanol, com um novo método de reduzir o impacto da aplicação, eliminando problemas ambientais. “Esse é um exemplo de como a companhia ambiental precisa estar atrelada ao ‘timing’ do negócio, e esse é um dos focos que damos nessa gestão. Efetivamente, precisamos avançar rápido, e qualquer evolução tecnológica deve significar evolução no licenciamento ambiental”, disse.
Além disso, a CETESB tem intensificado a informatização de seus trabalhos e, a partir de outubro, todos os processos serão digitalizados. Patrícia apresentou também o Via Rápida Ambiental, licenciamento ambiental simplificado e informatizado que permite, em atividades de baixo impacto, a obtenção da licença de forma rápida. A Companhia, que tem uma atuação ampla e diversificada, possui laboratórios ambientais que realizam cerca de 400 mil análises por ano; a logística reversa; atuação em emergências químicas; monitoramento de qualidade do ar, com informações em tempo real; e o CETESB de Portas Abertas, que objetiva atender às diversas demandas e esclarecer dúvidas dos empreendedores. “Prestar um bom serviço envolve a comunicação. Hoje temos um novo canal e incentivamos nossos técnicos a receberem os empreendedores para esclarecer dúvidas em relação ao empreendimento”, contou Patrícia.
Dentro da área de sustentabilidade, a CETESB dá destaque para a agenda ESG, que envolve a parte ambiental, social e de governança. “Claro que esse é um desafio do setor privado, mas também na área pública e para a CETESB como gestora e responsável pela fiscalização da área ambiental em São Paulo”, disse Patrícia. Ela falou ainda sobre os desafios no tratamento dos resíduos sólidos, sendo que a CETESB utiliza ainda as melhores práticas dos países. “O estado de São Paulo está atento à gestão de resíduos, avançado em relação ao Brasil, o que nos traz uma grande responsabilidade. Nossos técnicos foram capacitados fora do país e temos uma condição que outros estados não têm”, disse.
Entre outros projetos acompanhado pela CETESB, está a despoluição do Rio Pinheiros, em São Paulo, que passa pelo tratamento de esgoto. “A proposta é que até 2022 aconteça uma reapropriação urbana do rio”. Patrícia destacou o desafio da conscientização sobre as emissões de poluentes. “Assumimos compromissos no Acordo de Paris e em São Paulo criamos um acordo voluntário, onde empresas e setores podem aderir. Começamos com 55 aderentes e agora estamos com 108, e trabalhamos para dar visibilidade para as ações das empresas. A agenda ESG está na ordem do dia das empresas, e o setor público precisa estar atento a isso, dando espaço necessário para que ações sejam feitas”, reforçou.
Pandemia – Segundo Patrícia, a crise foi desafiadora. “Fomos declarados como atividade essencial, o que nos impunha uma forma de trabalhar em que não pudéssemos deixar todas as pessoas em teletrabalho, pois algumas das nossas atividades são muito presenciais”. Patrícia contou que muitas áreas de atuação da CETESB são sensíveis. “Temos técnicos que não podem ser substituídos por outros que não possuem o mesmo conhecimento. Então, nessas áreas, atuamos em teletrabalho por segurança”, disse.
Ela ressaltou ainda o trabalho que foi feito de perto para acompanhar as atividades em meio à crise. “De março até o momento, mais de 18 reuniões de diretoria foram realizadas para tratar do tema, regulando quem fica no trabalho presencial e no teletrabalho. Tivemos uma incidência de números baixos de casos de COVID-19 na CETESB, considerando que é uma empresa de 1,7 mil funcionários”.
Entre as atuações da CETESB na pandemia, foi feito um trabalho para os hospitais de campanha serem ativados, necessitando de licenciamento rápido, além do trabalho feito para as desativações, levando em conta cuidados com trabalhadores, catadores de resíduos e prevenindo contaminação. “A CETESB orientou essa atividade prezando pela segurança e o risco de contágio, entre outras ações, atuando ainda junto ao comitê orientador do estado”, ressaltou Patrícia, destacando que a retomada para o presencial leva em conta ainda uma visão macro, pois atividades que podem ser feitas à distância serão mantidas assim.