Getting your Trinity Audio player ready...
|
Tema motivou painel com especialistas realizado pelo IBEF Mulher, na Saint Paul Escola de Negócios, em 4 de setembro.
No esteio da divulgação de escândalos de corrupção envolvendo agentes públicos e organizações renomadas no noticiário, o País vive um momento em que os sistemas de governança corporativa são analisados de forma crítica. Essa reflexão envolve os principais tomadores de decisões nas empresas, em especial o CFO, considerado o “braço direito” da governança.
O painel sobre o tema, moderado por Christiane Aché, conselheira do IBEF SP e diretora do programa Advanced Boardroom for Women da Saint Paul Escola de Negócios, reuniu três especialistas apaixonados pelo assunto para fazer essa reflexão.
O exemplo não vem só de cima – Quando se fala em governança e ética é preciso ir além da abordagem de “silos”, ressaltou a advogada Claudia Pitta Pinheiro, consultora com foco no desenvolvimento da cultura de integridade nas organizações.
Governança, conformidade e ética não são temas só do jurídico, do CFO ou do compliance officer. Mas dos conselheiros, da diretoria e de toda as áreas da organização, observou Claudia, que é conselheira consultiva de uma startup no setor de saúde.
A expressão “tone at the top” – que virou bordão no mundo corporativo – está correta, mas não diz tudo, provocou a especialista. “É claro que a alta liderança tem que estar comprometida com esses princípios. Mas se ficar batendo apenas nessa tecla, você tira a responsabilização da organização inteira. O exemplo deve partir de todos: de quem está no topo, no meio e na base da empresa.”
Braço direito da governança – “Sempre digo que CFO é meu braço direito em qualquer situação”, afirmou Geovana Donella, CEO da Donella & Partners.
“O CFO é um dos profissionais mais importantes nesse momento. Muitas vezes vemos decisões em manada no Conselho indo na direção apontada pelo líder de finanças”, observou a conselheira de empresas familiares.
Para Donella, o CFO ganha importância tanto como o executivo que traz informações-chave para as deliberações em sua empresa, como também pelo conhecimento que aporta quando se torna conselheiro em outras organizações. Sua expertise com os números e intimidade com as variáveis de negócios são valorizadas nas decisões estratégicas e normalmente se tornam os conselheiros com visão global dos negócios, apoiando e contribuindo para a sustentabilidade dos negócios.
Quebrando estereótipos – Existe grande chance de o CFO ainda ser visto como uma pessoa hermética, cartesiana e presa a números, um estereótipo contra o qual é preciso lutar, adicionou Henrique Luz, sócio da PwC Brasil.
“O CFO é um grande candidato ao cargo de CEO por seu entendimento das finanças e de negócio. Mas ele também é um grande candidato a se tornar membro da governança. Se a empresa tem ambição estratégica, é ele quem mensura o andamento disso e conhece os controles”, observou Henrique, que é conselheiro de administração do IBEF SP, e de outras entidades sem fins lucrativos, como MAM SP, MAM Rio e Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Para isso, o executivo de finanças precisará somar novas características ao seu perfil, como os vários aspectos da inteligência emocional (adaptabilidade, criatividade, coragem para questionar, inovar e reimaginar), observou Luz.
“A missão do IBEF SP, nesse sentido, é muito maior do que promover networking. É também apoiar e prover instrumentos que ajudem o CFO nessa jornada de transformação”, afirmou o conselheiro. “E aí entram aspectos de liderança, conhecimento dos próprios limites, entendimento mais amplo das operações da organização, e a consciência de seu papel como braço direito da governança.”
O CFO e a crise – Em uma pergunta provocativa para os painelistas, o ibefiano Thomas Brull questionou o quanto os CFOs seriam responsáveis por problemas de visão de curto prazo em organizações.
Ele também trouxe à tona conclusão feita por estudo recente que desacreditou a hipótese “Lehman Sisters” – que afirmava que o destino do banco estopim da crise de 2008 seria diferente se mulheres estivessem no comando, porque elas tenderiam a assumir menos riscos.
Christiane Aché afirmou que homens e mulheres têm comportamentos diferentes, mas há 10 anos, em um contexto de menor participação feminina no mundo corporativo, muitas tiveram que seguir padrões de comportamento e pensamento masculino dominantes. Para ela, no contexto atual, talvez o resultado fosse diferente. Henrique Luz adicionou que a soma das características de homens e mulheres é que formam a força. Estudos já apontaram incremento de rentabilidade em empresas que aumentaram a participação feminina em seus conselhos, lembrou Geovana.
Com relação ao papel do CFO, Christiane Aché ponderou que a visão do curto prazo é alimentada em parte pela pressão do mercado de capitais. “O CFO lida com questões relacionadas ao valor da empresa na Bolsa, bônus, entre outras. Por isso é importante ter um Conselho de Administração forte, que pense a estratégia e tenha visão de longo prazo para que as pressões de curto prazo não prejudiquem o futuro da empresa.”
O CFO não age sozinho e não é o único responsável quando a empresa tem resultados ruins, completou Geovana Donella. “O Conselho tem sua responsabilidade na tomada de decisão. E daí a importância de os membros saberem ler demonstrações financeiras, fluxo de caixa, entender o necessário de contabilidade. A questão não é dar respostas, mas fazer boas perguntas.”
Em seu dia a dia, o CFO precisa lidar com variáveis de negócio que nem sempre são amigas da estratégia de longo prazo, concordou Henrique Luz. “Contudo, é a sustentabilidade da performance que garante o sucesso estratégico”, acrescentou ele, ressaltando a importância da inteligência emocional do executivo, e seus atributos como a coragem para enfrentar crises e influenciar a organização positivamente.
“Pensar que terá que ganhar mentes e corações talvez não faça parte da formação tradicional do CFO, mas é uma característica comportamental importante. E isso não só para os executivos, mas também para os conselheiros”, assinalou Claudia Pinheiro.
Empresas que começarem essa transformação em seus conselhos, aumentando a variedade de perfis e de pensamentos, com pessoas com capacidade de influenciar, inspirar e liderar em favor da boa governança, estarão contribuindo para um melhor ambiente de negócios – tão necessário para o País.
Visão do participante
“Os eventos que equilibram homens e mulheres trazem um ambiente diferente, onde ficamos mais à vontade para colocar temas provocativos. Gostei muito desse debate franco, e da visão sobre a complementariedade das perspectivas de homens e mulheres”, dito por Thomas Brull, conselheiro de empresas
(Reportagem: Débora Soares / Fotos: Maira Carderelli)