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“Hoje o vencedor da eleição é o indeciso”, diz economista do Bradesco, durante projeções à CT de Controladoria e Contabilidade

“O que esperar para o restante do ano diante da mudança do ambiente global e da expectativa das eleições?” foi o tema compartilhado por Fabiana D’Atri, economista do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (DEPEC) do Bradesco, durante palestra à Comissão Técnica de Controladoria e Contabilidade, liderada por Paula Raya, durante encontro realizado no último dia 14, na sede da Randstad, onde Paula é CFO.

A economista apresentou um panorama macroeconômico dos mercados doméstico e internacional e deixou claro que, embora as estimativas sejam positivas para 2019, uma maior precisão dos dados econômicos dependerá dos resultados das eleições e da agenda do novo governo. “Hoje o vencedor da eleição é o indeciso, já que essa parcela da população lidera estaticamente as pesquisas. Então, o cenário ainda é incerto, pois há várias projeções para o segundo turno. Apenas entre novembro e dezembro, com a definição da equipe econômica, teremos mais clareza”.

Expectativa– Segundo Fabiana, após a eleição pode haver um excesso de otimismo ou de pessimismo. “O mercado vê de forma positiva um cenário de reformas e negativa um panorama não reformista. Isso se refletirá no câmbio no fim deste ano. A moeda deve se acomodar nos meses seguintes. Um câmbio justo, do ponto de vista econômico, é estimado em R$ 3,60”.
Ela explica que serão observados os discursos das equipes econômicas, as propostas de ajuste fiscal, a agenda de governabilidade e de reformas microeconômicas – que não dependem do Congresso -, além das iniciativas para concessões e privatizações e das propostas para atração de investimentos em infraestrutura, que ficaram parados nos últimos anos.

“Ajustes serão feitos, reformas acontecerão, em maior ou menor intensidade, mas enxergamos que 2019 será um ano de recuperação, seja qual for o cenário político, pois muita coisa não aconteceu neste ano. Assim, o crescimento do PIB para o próximo ano é estimado em 2,5%”.

Para Fabiana, as reformas devem acontecer no primeiro ano de mandato do novo presidente e acordos entre os Poderes Executivo e Legislativo serão mais importantes do que nunca. “Deve ocorrer menos resistência em relação à reforma da previdência”, prevê.

Recuperação lenta – Fabiana diz que o pior ficou para trás e, embora, a sensação seja de que as coisas ainda estejam difíceis, uma recuperação tímida tem ocorrido, o desemprego não subiu mais e empresas pararam de quebrar.

Ao mesmo tempo, a economia poderia estar se recuperando mais rápido. Segundo ela, a projeção de crescimento do PIB deste ano era de 3% e, após baixas sucessivas, é estimado em 1,1%. A não realização de reformas e a greve dos caminhoneiros foram fatores que contribuíram para a redução do índice. “Boa parte dos impactos da greve foram temporários. Porém, o efeito mais permanente foi o tabelamento do frete, elevando os patamares, o que tem impactado diversos segmentos, especialmente o agronegócio.

A economista também diz que a recuperação não tem acontecido de forma mais acelerada porque as famílias mudaram os hábitos de consumo. “Não são apenas os 12% de desempregados que não estão consumindo, mas também os 88% que estão trabalhando, que acabaram mudando os seus hábitos de consumo. Além disso, embora tenha geração de trabalho, as vagas de emprego só diminuem. A renda também reduziu e as empresas restringiram os benefícios”.

Mercado internacional – No exterior, a economista diz que quatro incertezas impactam o Brasil. A primeira é que a economia dos Estados Unidos vai bem a ponto de gerar pressões inflacionárias e fazer o FED aumentar os juros, gerando valorização do dólar. Outra questão também está relacionada a Donald Trump. “Ele está cumprindo o que prometeu no comércio internacional. O primeiro impacto da guerra comercial é a queda das exportações, mas o aumento de tarifas também gera pressão inflacionária e queda da demanda, o que reflete na diminuição do crescimento mundial e impacta nos investimentos”.

O terceiro ponto vem das tensões geopolíticas existentes por questões mal resolvidas (como na Coreia do Norte, Irã e Síria), que são acentuadas por ações e discursos de Trump, o que impacta no preço do petróleo e a alta do diesel gerou a greve dos caminhoneiros. Já a quarta incerteza vem da Europa, que frustra no ritmo de crescimento, além de despertar preocupação com resultados de eleições, plebiscitos e a política de imigração. “Essas questões não afetam quando as coisas vão bem; mas quando há incertezas, podem virar pontos negativos ao mercado, refletindo na economia”.
“O resumo é que o mercado internacional há um ano não gerava pressões para o Brasil. É só lembrar que a moeda brasileira ficou estável por quase dois anos, apesar das turbulências internas. A partir do momento que começa a ter uma readequação de ativos no mundo, o real desvaloriza. Claro que acentuado pelas questões domésticas, mas também pelo mercado externo”.

Desafios –“Tudo isso não precisava acontecer em um momento que o Brasil tem dois grandes desafios. O primeiro é a dificuldade em retomar o crescimento e voltar a investir. O segundo desafio é o fiscal. Desde 2014, o Brasil acumula resultados negativos”.

Segundo Fabiana, a próxima agenda de governo precisa combinar os dois pontos: “Fazer um ajuste fiscal de curto e de longo prazo ao mesmo tempo. Ou seja, precisa cumprir o teto do gasto, retomar o crescimento e gerar emprego. E é preciso fazer reformas estruturais como a da previdência e/ou tributária”, enumera a economista, ao informar que o Banco Central deve manter os juros até o fim do ano. Para 2019, quando a economia crescer e gerar uma pequena pressão inflacionária, o BC deve elevar os juros a cerca de 8%.

Segundo Fabiana, é preciso ter uma agenda de investimento, além de um marco regulatório, um programa de concessão e evitar protecionismo e também atrair capital estrangeiro. “É preciso abrir a economia brasileira. Economias abertas ganham eficiência e se integram a cadeias produtivas importantes. Também é preciso avançar em questões tecnológicas, pois nos últimos anos o País perdeu eficiência e competitividade. O Brasil tem muito potencial, apesar das questões internas”.

Fabiana concluiu sua apresentação ao informar aos participantes que o site de economia do Bradesco (www.economiaemdia.com.br) conta com boletins diários e semanais com pesquisas e projeções de mercado em português e inglês.

Ferramentas – A Comissão também discutiu ao final do evento sobre ferramentas de Business Intelligence para automatização de informações da área financeira das empresas. Foram levantadas características das ferramentas Qlick Sense, Power BI e Tableau, que serão tratadas futuramente em artigo elaborado por membros da comissão.

 

Reportagem: Renata Passos

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