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Executivos de empresas globais se reuniram para discutir o papel dos ecossistemas no cenário pós-pandemia. A forma de interação com o ecossistema e o uso da tecnologia serão fatores relevantes para o sucesso e a sobrevivência das empresas. A grande questão será saber como se diferenciar e preparar o próprio ecossistema para essa nova realidade.
No último dia 28 de setembro o IBEF-SP realizou mais um webinar do “IBEF Global”. O objetivo deste núcleo é promover a conectividade entre as pessoas da comunidade financeira com vivência profissional em empresas de atuação global, desenvolver atividades de networking e fomentar o debate de temas atuais e inovadores que enderecem o aprimoramento da gestão financeira.
Patrocinada pela Deloitte, a live contou com um novo formato dividido em painéis e com a participação de sete palestrantes que discutiram sobre “Ecossistemas: riscos e oportunidades pós pandemia”. As considerações iniciais ficaram a cargo de Ronaldo Fragoso, sócio da Deloitte e vice-presidente da Diretoria do IBEF-SP responsável pelo IBEF Global. Ele explicou o novo formato do evento, dividido em dois painéis. O primeiro abordando os riscos; o segundo, trazendo as visões dos executivos sobre as oportunidades do ecossistema no ambiente pós-pandemia.
Ecossistemas e tecnologia – Na abertura, Renata Muramoto, sócia-líder Deloitte da área de Consultoria Empresarial, salientou que a tecnologia se transformou em um viabilizador de ecossistemas – termo utilizado para representar as interações entre empresas, fornecedores, concorrentes, clientes e governo para geração de valor –, pois permite capturar, processar e integrar dados colaborando ao longo da cadeia produtiva. Esse tema deve, portanto, “estar na agenda das lideranças de todas as organizações, pois domina nossas vidas como consumidores, profissionais e cidadãos”, afirmou.
Riscos – Iniciando os debates do primeiro painel, Mariana de Castilho Lázaro, CFO na SumUP América Latina, relembrou que no início da pandemia (março de 2020) se gerou uma pequena crise de liquidez no mercado financeiro, representando um risco para as empresas de adquirência no Brasil, responsáveis por processar e liquidar transações financeiras realizadas por meio de cartão de crédito e débito.
Além da preocupação com a liquidez, Mauricio Fernandes, CFO e vice-presidente financeiro Brasil e South Latin America na Mastercard, recordou que a pandemia trouxe outras mudanças muito velozes no mercado de pagamentos. Elencou entre elas a migração para o ambiente online, a bancarização de mais de 10 milhões de pessoas, marketplaces que se transformaram em carteiras digitais, e mudanças no comportamento do consumidor, como o uso de pagamento por aproximação.
Segundo Fernandes, essa transformação levou o Banco Central e o Congresso a atuarem com leis e regulamentação para mitigar os riscos sistêmicos, aumentar a competividade e segurança de informações. “Temos hoje uma série de tecnologias que ajudam a fazer com que esses pagamentos online sejam seguros, mas frente a essa maior complexidade e digitalização, a segurança da informação é uma preocupação que devemos ter como top of mind”, afirmou.
O “grande vilão” para as empresas é o ataque cibernético. Segundo Raymundo Peixoto, vice-presidente sênior de soluções de Datacenter para América Latina na Dell Technologies, “75% dos chefes de tecnologia acreditam que sofrerão ataques cibernéticos nos próximos dois anos.” Peixoto destacou ainda a complexidade crescente do gerenciamento e armazenamento de dados que se tornará um desafio com a implementação da tecnologia 5G no Brasil. A área de tecnologia deixará o papel coadjuvante de controladora, gerenciadora e de suporte às operações da empresa para ser uma área de agregação de valor. Os avanços tecnológicos fazem com que o mundo da gestão de dados se torne mais complexo e difícil.
“Com o 5G, a situação ficará ainda mais difícil, pois ele potencializará o edge [computação de borda na qual o processamento acontece no local físico ou próximo do usuário ou da fonte de dados]. Até 2025, mais de 90% dos dados serão gerados e consumidos na ponta. Imagina gerenciar dados com cinco nuvens e a ponta gerando dados em tempo real. A beleza de possuir um diferencial tecnológico para melhorar o seu negócio passa a ser ameaçada pelo uso criminoso da tecnologia”, alertou. Para combater os riscos de segurança e proteger os sistemas, as empresas devem investir em treinamento para os funcionários contra, por exemplo, ataques de phishing – o que poucas companhias fazem – e estender a segurança à toda cadeia de suprimentos, completou Peixoto.
Oportunidades – Iniciando o segundo painel do evento que abordou as oportunidades dos ecossistemas, Heloisa Montes, CSO e CFO na OLX Brasil, informou que a plataforma da empresa apresentou grande aceleração devido às restrições de circulação, à necessidade de pessoas complementarem a renda com a venda de produtos usados e ao aumento das vendas de veículos seminovos que se tornaram ativos de alta liquidez. “As pessoas perceberam que determinados itens de casa possuíam um valor de venda, complementando muitas vezes uma renda reduzida. Elas decidem comercializar um item quando existe algum boleto em vencimento para evitar o endividamento, sendo que 17% dos itens são vendidos em menos 24h e 54% em menos de uma semana”, relatou.
Ciro Possobom, vice-presidente de finanças e TI na Volkswagen América Latina, salientou que o ecossistema tem especial significado quando se trata de indústria automobilística. “Somos supply chain em si mesmo. O carro nada mais é do que peças – cerca de 2.500 – que compramos do mundo inteiro. O ecossistema automotivo no Brasil gera 1,2 2 milhãoões de empregos e se estende desde o fornecedor, montadora até a concessionária.”
Guilherme Araújo, diretor de ecossistemas na IBM Brasil, relatou duas grandes mudanças relacionadas ao ecossistema da empresa e à transformação digital dos seus clientes. A primeira foi a separação da unidade de serviços de infraestrutura de TI da divisão de serviços de tecnologia global em uma nova empresa pública, a Kyndryl. A segunda foi uma simplificação de ida ao mercado na qual o ecossistema da IBM passou a ser o grande protagonista e acelerador do crescimento.
“A tecnologia deixou de ser estratégica e passou a ser essencial. A IBM identificou o aumento de demanda para as empresas de tecnologia, entendeu esse movimento e buscou recolher a especialização de algumas empresas e o que há de melhor em cada uma delas para gerar valor agregado ao seu cliente. O ecossistema para a IBM é o grande acelerador de crescimento da empresa e um grande habilitador para que os seus clientes possam fazer a jornada de transformação digital de forma muito mais ampla e completa”, afirmou o diretor.
Tendências pós-pandemia – Com relação às tendências do ecossistema do setor automotivo, Possobom destacou que as lojas e revendas de peças estão buscando formas de vendas mais ativas, por meio de canais digitais, e esse será o caminho para o pós-pandemia. “O processo de venda melhorou muito. Antigamente era muito passivo, esperávamos o cliente ir até a loja; hoje é muito ativo, nós vamos atrás do cliente: é muito mais mídia social, captação via leads.”
Além disso, o executivo destacou o papel que a tecnologia terá sobre os produtos e o foco das empresas do setor. “O carro será mais software que hardware, será um iphone sobre rodas. Hoje ele possui 2 milhões de linhas de programação; no futuro, terá 500 milhões. A empresa de automóvel será uma tech, devendo se conectar com muitas outras companhias. O cliente comprará a solução oferecida pela empresa, não mais um modelo de carro específico”, explicou.
Guilherme disse acreditar que as tendências tecnológicas passarão pela analítica avançada para gestão de dados, pela inteligência artificial – principalmente para a personalização e experiência do cliente – e pela nuvem como uma grande habilitadora de toda essa mudança.
Segundo Paulo Mendes, Chief Controlling Officer global na SAP Brasil, a integração e a infraestrutura de dados são elementos que permitem a comunicação de instrumentos multiplataformas. “Todas as empresas em breve serão empresas de tecnologia”, completou.
Diferencial para o sucesso – Os especialistas concordam que a interação com o ecossistema será um fator relevante para o sucesso e sobrevivência das empresas. A grande questão é saber como se diferenciar e preparar o próprio ecossistema para essa realidade emergente.
A saída para muitas companhias será buscar alternativas inovadoras, transformar seus produtos em serviços. O ecossistema oferece a possibilidade de suprir a empresa com ferramentas tecnológicas que não se dispõe internamente. “Quem está ganhando é aquele que está sabendo jogar com inteligência dentro do seu ecossistema. Ele fornece a oportunidade de escolher as parcerias e tecnologias mais adaptadas para gerar um contexto ‘ganha-ganha’, pois as organizações são mais fortes associadas”, completou Paulo Mendes.