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IBEF SP na Imprensa: Entrevista para Arena do Pavini

Para presidente do Ibef, depois de solução política, desafio de Temer é questão fiscal

Por Angelo Pavini – 11/05/2016

A grande crise do Brasil é uma crise de confiança e a melhor forma de resolver os problemas do país é reconquistar a credibilidade de investidores, empresários e da população, afirma José Claudio Securato, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) e diretor responsável pela escola de negócios Saint Paul. O primeiro passo para essa retomada da confiança, acredita, é o calendário econômico se desvencilhar do cenário político, o que deve começar a acontecer nesta semana.

Para Securato, há confiança no país no longo prazo, o que ele, como executivo da Saint Paul, consegue detectar. “Por ser um setor ligado à educação, estamos vinculados ao desenvolvimento das pessoas e vemos que os investimentos nessa área continuam e, para todos os lados, a fé no país no longo prazo é absoluta”, diz. Já no curto prazo, o cenário muda e varia de acordo com o setor e o ciclo de atividade.

Empresas seguem com cautela

Setores de ciclo mais longo estão confiantes, caso de papel e celulose . Já os de ciclo médio, como construção civil estão preocupados, com estoques altos e dificuldades de vendas pelo desemprego elevado, salários em queda e contração no crédito. Setores de consumo durável e semidurável também estão sofrendo muito, diz Securato. “No curto prazo, as empresas vão agir com muita cautela, as grandes empresas já estão enxutas, fizeram ajustes de pessoal e investimentos já em 2015 e estão preparadas para voar baixo este ano”, explica. Por isso há poucos investimentos e pouca confiança, com exceção de setores exportadores beneficiados pelo câmbio ou pelo consumo chinês.

Risco do TSE deve permanecer

A questão do país hoje é ter uma nova normalidade, sair do cenário de indefinição política. “Tendo ou não o impeachment, o importante é definir”, diz. Outra questão é que, mesmo que haja a definição do impeachment, deve continuar pesando no cenário o julgamento da chapa que elegeu Michel Temer junto com Dilma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O tribunal investiga se houve financiamento ilegal de campanha, o que poderia levar à cassação da chapa e, com isso, de Temer. “E quanto mais avança a investigação da Operação Lava Jato, mais elementos se juntam para o TSE analisar”, diz.

Mudar meta de inflação pode ajudar

Mesmo com essa incerteza, um eventual governo Temer deve encaminhar soluções para alguns problemas, mas não deve ter capacidade de resolver tudo, afirma Securato. O caso da inflação, por exemplo, a margem de manobra é pequena e o IPCA deve fechar o ano acima da meta neste ano e no próximo. Por isso, Securato acredita que o melhor seria o novo ministro da Fazenda, provavelmente Henrique Meirelles, fazer um ajuste na meta, já admitindo que não será possível cumprir a atual, de 6,5% no teto este ano e 6% no ano que vem.

Meta fiscal deve ser revista

O mesmo deve ocorrer  com o déficit fiscal. Securato acha difícil o país conseguir R$ 150 bilhões este ao para fechar as contas públicas este ano, mesmo criando novos impostos e a CPMF. “Até criar os impostos, quantos meses de arrecadação vamos ter no final?”, questiona. A saída seria também rever a meta, prevendo um ajuste de médio prazo, com déficit este ano e no ano que vem, mas com algum superávit já em 2018.

E, ao mesmo tempo, o novo governo pode anunciar medidas que vão resolver a questão fiscal a longo prazo, caso da desvinculação de despesas e receitas e o déficit da Previdência Social. “O novo governo tem de anunciar medidas coerentes de curto prazo para quem tem projetos longos começar a tocá-los e, ao mesmo tempo, um grupo de medidas de médio prazo para os problemas graves”, diz.

 

Evitar tentação da retomada rápida

Para Securato, a questão mais urgente do novo presidente será a governabilidade. E, para isso não pode cair na tentação de tentar reaquecer a economia com medidas de curto prazo. “É preciso aproveitar os ganhos políticos para garantir as medidas de longo prazo”, diz. É preciso também retomar o tripé criado após a flutuação do real, de câmbio flutuante, superávit primário e meta de inflação, com foco principalmente na meta fiscal. No câmbio, é mais fácil voltar ao mercado livre. Já o ajuste fiscal é o maior desafio.

Ele observa que, no curto prazo, tudo parece maravilhoso, há consenso nas medidas, como oficializar a independência do Banco Central. Securato acredita, inclusive, que seria importante também desvincular o mantado do presidente do BC do do presidente da República. “Assim não se ficaria nessa expectativa a cada eleição sobre quem vai comandar o BC e, ao mesmo tempo, isso garantiria uma continuidade nas políticas econômicas”, afirma. Mas, em primeiro lugar, é preciso garantir a governabilidade para definir as reformas de médio prazo. Ele acredita que desvincular despesas é mais simples que a reforma da Previdência.

BC deve ter metas de emprego também

Para isso, é importante também desassociar a economia da política, o que só deve ocorrer efetivamente em 2018. Mas separar o mandato do presidente do BC da eleição presidencial já seria um passo importante. Seria essencial também incluir metas para o emprego a serem acompanhadas pelo BC, como já ocorre com a inflação, para definir sua política de juros, como já fazem outros países. “O BC poderia mudar agora a meta de inflação deste ano e do próximo para reduzir o esforço monetário e fiscal, cumpriria a de 2018 e depois adotaria a meta de emprego, passando a ter também como objetivo preservar o emprego no país”, diz.

País precisa de capital externo para investir

A meta do governo Temer e dos próximos deveria ser elevar a taxa de investimento da economia, hoje abaixo de 18% do PIB por ano, para 25% do PIB ao ano, ou R$ 1,5 trilhão, afirma o executivo. “Mas, para isso, é preciso ter uma poupança interna que nós não temos, para financiar tanto o investimento quanto o crédito”, diz. A saída será usar poupança externa, ou seja, investimento estrangeiro e, para isso, é preciso que o país retome a confiança no mercado internacional e das agências de rating.

Retomada do grau de investimento pode levar 24 meses

Securato acredita que o país demoraria 18 a 24 meses para retomar o grau de investimento de baixo risco das agências internacionais, o que pode significar que a volta à normalidade não ocorrerá no governo Temer. Mas as notas de crédito, hoje muito baixas, devem melhorar pelo menos. “A grande questão é resolver a questão política, depois a questão fiscal, não é o PIB nem o emprego, que vão melhorar junto”, diz.

Espiral positiva

A qualidade das medidas para resolver a questão fiscal é que farão voltar o grau de investimento mais rápido para o país, acredita Securato. “Se Temer conseguir um acordo no Congresso para aprovar medidas fortes na questão orçamentária, o impacto é forte e entraremos em uma espiral positiva, com a economia crescendo mais para arrecadar mais e um orçamento mais equilibrado, com menos desperdício, e ganhos estruturais na Previdência que vão garantir a volta do grau de investimento”, diz.

Mercado de capitais e reestruturação do BNDES

Outro ponto importante será discutir o mercado de capitais. Para Securato, não é possível que o pico das ofertas públicas brasileiras tenha sido o período de 2005 a 2007. Ao mesmo tempo, o mercado de crédito também precisa crescer, de 70% do PIB hoje para 100% em cinco ou dez anos. Mas isso vai depender muito do ambiente econômico, do baixo risco e da maior previsibilidade, que vão permitir taxas de juros mais baixas. “O crédito cabendo noorçamento das empresas faz a economia crescer”, afirma Securato, que considera que é preciso repensar o BNDES. “O banco não pode tomar recursos pagando a taxa Selic e emprestar por menos, cobrando a TJLP e assumindo o prejuízo”, diz.

Securato acha que é preciso eliminar certos subsídios e a questão política que influencia para onde vai o dinheiro do BNDES. “O banco deveria ter independência, assim como o BC, mas se tiver caráter político, vai atuar para financiar empresas que financiam campanhas de partidos”, diz. Para o executivo, o BNDES tem um impacto muito negativo na economia ao destinar recursos a custos muito baixos para empresas grandes, que têm condições de acessar o mercado de capitais. “Se a grande empresa não usa o mercado de capitais, o mercado também não cresce”, diz.

Plano para evitar desindustrialização

Um ponto que precisa ser discutido também é a indústria brasileira, avalia Securato, pois o país está se desindustrializando, o que tem impactos fortes em emprego, no crescimento da economia e no consumo das famílias. “É preciso repensar as cadeias produtivas que se quer trazer para o país e reduzir a dependência da indústria automobilística, que hoje representa 60% da indústria nacional”, explica Securato.

Para  ele, esse percentual é muito alto e pode ser diversificado com a indústria química, por exemplo. “São Paulo perdeu várias indústrias químicas pela guerra fiscal e pelo real valorizado, que aumentou as importações de produtos”, diz. Nesse ponto, o governo tem de definir bem também quais incentivos dar para esses setores industriais. “O Brasil não sabe dar subsídios, desonerações, acaba nivelando por baixo e não pedindo contrapartidas, como aumento da produtividade, que tem de se aproximar da do primeiro mundo”, afirma.

Privatizações ajudarão na competitividade

Privatizações e concessões também são fundamentais para o pais aumentar sua produtividade, ao mesmo tempo em que reduzem a necessidade de investimento público, hoje escassos, e permite crescimento. “Mas é precisa pensar bem na forma de vender alguns setores, se não o comprador privado pega apenas o filé e o restante fica de fora”, alerta. “É preciso fazer a venda de maneira mais estratégica, com visão do todo, e não só para resolver o problema financeiro agora”, afirma.

Fonte: Arena do Pavini

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