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Jornada do CFO destaca oportunidades da agenda ESG na perspectiva de Controladoria e Tesouraria

Insights sobre o papel dos executivos financeiros para a integração dos temas ASG à estratégia de negócios e as experiências de empresas que captaram com títulos temáticos foram temas abordados na live “Jornada do CFO: ESG na Perspectiva de Controladoria e Tesouraria”, realizada pelo IBEF-SP no dia 25 de agosto.  

O evento teve como Host Igor Bueno, líder da Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do IBEF-SP, tendo sido moderado por Tulia Brugali, membro da Comissão Técnica de Controladoria do IBEF-SP e mestranda em sustentabilidade. Os speakers convidados foram João Zocca, Controller and FP&A Director na Suzano; Maurício Colombari, sócio e líder de ESG da PwC Brasil; e Thiago Lopes, Gerente de Tesouraria, Finanças Corporativas e de RI na Isa Cteep.  A live foi patrocinada pela CTI, representada por seu Managing Partner, Francisco Loschiavo.

No início da live, Igor Bueno destacou os excelentes eventos presentes na agenda do IBEF-SP para os próximos meses e agradeceu a colaboração para esta live de Tatiana Guerra e de Alexandre Staffa, membros das Comissões Técnicas. 

Importância do ASG – Maurício Colombari afirmou que o ESG é um tema que vem ganhando cada vez mais importância na agenda das empresas e dos executivos. Essa relevância ficou muito evidente quando, recentemente, o painel de mudanças climáticas da ONU – IPCC – divulgou um relatório sobre os impactos dessas transformações no mundo, que começam a trazer diversos riscos associados, tornando essa questão, hoje, um dos principais desafios globais. No Brasil, deve-se adaptar e incorporar a essa agenda de forma robusta os aspectos sociais, de diversidade e inclusão, devido à grande desigualdade social existente no país.  

Empresas e executivos buscam compreender como incorporar todos esses desafios na estratégia e processos de negócios. Um caminho, apontou o convidado, é identificar, junto aos stakeholders, quais são os temas realmente materiais para empresa, o que a companhia deseja e tem   condições de ajudar a resolver.  

Papel dos executivos de finanças – É um ambiente complexo, que traz desafios importantes, mas também muitas oportunidades. Nesse contexto, entra o papel protagonista dos executivos de finanças em auxiliar no processo de mapeamento e mitigação de riscos socioambientais e na definição de metas e métricas para entender como esses temas devem ser reportados ao mercado.  

Dessa forma, será possível aproveitar oportunidades de investimento e de captação de crédito em linhas e instrumentos diferenciados – como os títulos temáticos – para viabilizar projetos de transição energética, dentre outros de interesse da companhia. “Hoje existem diversos mecanismos que podem ser utilizados como os green bonds (finanças sustentáveis)”, concluiu o líder de ESG da PwC Brasil. 

 
ESG na Suzano – Tulia Brugali destacou que muitas empresas estão implantando métricas relativas ao tema não só para acessar capitais de terceiros, mas também como uma questão de propósito.  

João Zocca contou que na Suzano esse movimento começou como uma forma de desdobrar a cultura da empresa, após a fusão com a Fibria Celulose, iniciada em 2018 e concluída em 2019. Um dos direcionadores de cultura da Suzano ressalta a questão “só é bom para nós se for bom para o mundo”.  

No início, houve uma grande dúvida de como implementar as ideias na prática. Essa questão, então, se apresentou muito forte na definição da estratégia. A alta liderança e o engajamento dos líderes dotaram a Suzano de uma estratégia que tem como foco a sustentabilidade. Ela está presente em todas as vertentes de negócios da companhia, como a busca por produtos e soluções sustentáveis. “A discussão teve início com a definição da estratégia e a empresa começou a implementar as ideias em todos os seus processos, trazendo essa lente de olhar a sustentabilidade como um todo”, relatou Zocca. 

Captação de capital e títulos temáticos– Tulia introduziu o tema da captação de capital de terceiros e destacou que a Isa Cteep foi uma das empresas pioneiras no setor de energia elétrica a utilizar títulos temáticos em suas captações.  

Thiago Lopes ressaltou que a Cteep foi a primeira transmissora de energia do país a emitir títulos verdes em 2018 e tal fato teve muita repercussão, pois não se esperava que uma transmissora pudesse captar recursos por meio de uma emissão com selo sustentável, os chamados ‘Green Bonds’. O executivo contou que houve interesse por parte dos investidores, por ser uma preocupação já presente no exterior, com alguns fundos exclusivos focando no financiamento de projetos sustentáveis. Lopes lembra que nos road shows os investidores manifestavam curiosidade sobre o tipo de valor gerado para o projeto e quais eram os indicadores e métricas.  

“Desde então, o mercado cresceu bastante e tivemos a oportunidade de ser pioneiros nesse sentido. Hoje várias outras emissões já aconteceram e muitos instrumentos estão disponíveis como, por exemplo, bonds, CRI, CRA etc. Depende muito do setor de atuação de cada companhia, mas vejo um crescimento bem interessante nessa vertente, uma avenida de oportunidades para as demais companhias”, afirmou o Gerente de Tesouraria da Isa Cteep. 

Greenwashing e a reputação – Tulia chamou a atenção para as muitas discussões surgindo em torno da prática do greenwashing – que consiste em uma empresa afirmar que está engajada na temática ASG, porém usando isso somente como publicidade, sem de fato implantar essas práticas no dia a dia da organização – e solicitou a opinião dos speakers sobre o tema. 

Zocca disse acreditar que essa prática gera riscos relevantes, que vão além do impacto financeiro, mas também de imagem para empresa. Quando a organização assume esse compromisso público com a agenda ESG, perante seus stakeholders, haverá pressão para que o greenwashing não ocorra. Pois o não cumprimento colocará em xeque a reputação da companhia, principalmente no caso de empresas abertas.  

Além disso, a reputação auxilia a empresa na atração de talentos, nas relações com entidades locais e na captura de outros benefícios, além do financeiro. “A reputação demora muito tempo para se construir e minutos para perder. A minha preocupação interna, em particular, é muito grande e acho que os compromissos das empresas brasileiras são reais”, observou o Diretor de Controladoria da Suzano.  

Thiago acrescentou que essa já é uma preocupação das reguladoras do mercado de capitais, pois muito tem sido divulgado sem uma padronização. Dessa forma, naturalmente no meio de uma diversidade de indicadores – alguns que não fazem muito sentido – se encontrará alguma empresa mal-intencionada. Porém, parafraseando Washington Olivetto, ele disse que é importante lembrar que ‘não há nada pior para um produto ruim que uma boa propaganda’ pois o consumidor que se sentir enganado nunca mais voltará a comprá-lo. E no mercado de capitais, o grupo de investidores tende a ter maior capacidade de avaliação, de forma que brincar com a reputação de uma empresa é uma irresponsabilidade muito grande porque, cedo ou tarde, seja pela regulação seja pela investigação do investidor, isso será descoberto.  

“Estamos em uma nova etapa de acomodação e seleção daquilo que, de fato, é sério, daquilo que tem qualidade e uma seleção daquilo que não gera valor, daquilo que não é sério. Isso pode vir através da regulação, mas também pode vir através de maus exemplos”, frisou o Gerente de Tesouraria da Isa Cteep. 

Papel consumidor – Para Maurício, a sociedade tem papel fundamental nessa questão, levando em conta o poder do consumidor e o poder dos colaboradores. A nova geração busca trabalhar em empresas que sejam socioambientalmente responsáveis e querem comprar, fazer negócios ou consumir produtos de empresas que de fato se preocupam com essas questões.  

Aquelas companhias que negligenciam essas questões começarão a sentir dificuldades em posicionar novos produtos, novos serviços e se manterem competitivas no mercado. Segundo o speaker, esse fato é um imperativo de negócio, destacando ainda o fato de que cada cidadão deve ser cada vez mais responsável em relação a essa temática, utilizando seu poder de escolha para pesquisar aquelas empresas que fazem a diferença.  

“Pesquisas demonstram que mais de 80% das pessoas, hoje, preferem trabalhar em e consumir de empresas que sejam socioambientalmente responsáveis. Então eu acho que esse é o caminho”, pontuou. 

Como iniciar a jornada ASG – Para Thiago, um bom começo é entender que as práticas relacionadas ao ASG não estão limitadas a um caminho regrado, não existindo um manual pronto. Deve-se, pois, buscar com humildade o aprendizado e entender – o quanto mais rápido – que esse assunto está na agenda dos investidores e está atrelado a sustentabilidade da própria empresa.  

Com visão mais pragmática, segundo João, as empresas podem buscar integrar a sustentabilidade em sua estratégia de negócio. Voltar inicialmente o foco para as áreas nas quais a empresa pode obter mais lucro, escolhendo KPIs vinculados tanto à empresa quanto à sociedade. Dessa forma é possível obter o maior benefício social e empresarial conjunto para, em seguida, buscar um melhoramento contínuo. 

Mauricio, por sua vez, destacou o papel fundamental do novo mindset. Não há mais espaço para a pensar “isso não é comigo”. O ASG é uma pauta democrática tendo de ser seguida por todas as empresas. A organização deve pensar o que pode fazer melhor, como pode contribuir. “CFO e as empresas devem se engajar e fazer um futuro melhor”, concluiu. 

O vídeo da live, com todos os assuntos abordados, ficará disponível para acesso exclusivo dos associados do IBEF-SP.     

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