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O mercado de títulos verdes, sociais e sustentáveis – os chamados títulos “temáticos” – segue de vento em popa no Brasil e no mundo. Apenas no 1º trimestre de 2021, foram US$ 5,7 bilhões em emissões desses títulos no país, praticamente o valor registrado até 2019, observa Laura Albuquerque, gerente técnica da WayCarbon.
A especialista foi convidada pela Comissão Técnica de Mercado Financeiro e de Capitais do IBEF SP para uma apresentação sobre finanças sustentáveis e agenda ESG, realizada no dia 16 de abril.
Esse mercado vem crescendo de forma exponencial desde 2015, e é avaliado em cerca de US$ 100 trilhões globalmente, observou Laura. Os setores que mais utilizam “títulos temáticos” são Energia – 35%, Edificações sustentáveis – 26%, Transporte – 18%, Água – 9%, e gestão de Desperdícios 3%.
Os títulos temáticos podem ser utilizados tanto para financiar projetos específicos ou podem estar atrelados a determinados fatores de desempenho, destacou Laura.
Mudança de nomenclatura – Esses instrumentos cresceram e se tornaram conhecidos com o nome de “títulos verde”, explicou Laura. Contudo, os atores de mercado decidiram passaram a ampliar o escopo de aplicação e assim denominá-los “títulos temáticos”. O “rótulo” aplicado no título temático (verde, social, sustentável ou de transição etc.) diz respeito à estratégia para a aplicação dos recursos captados. Por definição, a aplicação desses recursos impulsiona agendas estruturantes.
No Brasil, foram emitidos 17 títulos temáticos no 1º trimestre de 2021. Os títulos verdes foram a maioria (47%), seguidos por títulos de desempenho (35,3%) e sustentáveis (17,7%).
Nos países da América Latina, esses títulos têm prazo médio de 11,5 anos, variando entre 2 a 35 anos. O valor médio das transações é de US$ 196 milhões, conforme relatório da Climate Bonds Initiave.
Empresas lideram emissões no Brasil – Enquanto no exterior as instituições multilaterais e os bancos de desenvolvimento são os principais emissores desses títulos, no Brasil são as empresas que lideram esse movimento.
Recentemente o setor “corporativo” – que indica o uso instrumento financeiro para o desempenho ESG empresarial e não necessariamente o uso do recurso no setor, configura como responsável por 29% das emissões no País. Em seguida, vem Florestas – 21%, Energia Renovável – 13%, Múltiplos – 10% e Transmissão de Energia – 6% (dados até março de 2021).
“Temos muitas emissões de títulos vinculadas a melhoria de desempenho ambiental e social. Então, são corporações aprimorando sua performance. Depois temos projetos relacionados a melhorias nos setores produtivos, como florestal, energia renovável e outros. Com a velocidade do mercado, é importante salientar que esses números mudam quase mensalmente”, explicou a especialista.
Apetite do mercado – A especialista indicou quatro principais motivos por que a demanda por investimentos sustentáveis continuará crescendo. Dentre eles está a performance financeira – valor das empresas emissoras aumenta significativamente, assim como a lucratividade em longo prazo – e performance ambiental – é um indicativo de melhora na pegada ambiental da companhia.
Além disso, somam-se a atração de investidores com orientação a longo prazo e em quantidade cada vez maior. Segundo dados de mercado, os investidores institucionais, por exemplo, têm 8% mais probabilidade de investir em empresas que emitem títulos verdes em comparação às que emitem títulos comuns.
Abordagens e instrumentos – A especialista ressaltou que os instrumentos utilizados variam conforme a abordagem escolhida pela companhia. “Quando você emite um título você pode ter uma abordagem que controlará o uso desses recursos ou uma abordagem que incentivará o cumprimento de indicadores de desempenho ESG”.
Na abordagem por controle, a empresa faz a emissão de dívida (títulos de renda fixa – debêntures, debêntures de infraestrutura, LCI, LCA, CRI, CRA e FIDC) e precisará prestar contas aos investidores sobre a alocação dos recursos nos projetos com que se comprometeu na captação.
Já na abordagem de incentivo (linked bonds ou linked loans), a companhia emissora define indicadores para esses projetos e negocia com a instituição financeira um desconto que significa um prêmio ou uma penalização na taxa de juros caso não cumpra os objetivos desses índices de sustentabilidade.
Esses indicadores podem ser vinculados a metas de eficiência no uso de recursos naturais ou desempenho em mudanças climáticas, por exemplo, como a redução de emissão de gases de efeito estufa. Outra possibilidade, no caso dos títulos de desempenho corporativo, é definir um indicador da corporação atrelado a questões ambientais, sociais e de governança.
“Temos visto que essas negociações são muito bilaterais entre a empresa que busca o empréstimo e a instituição financeira. E aí quando os objetivos da instituição financeira casam com os da corporação, os benefícios têm sido melhores e a negociação desses indicadores também”, completou Laura, observando os benefícios financeiros.
Desafios – Para as empresas menos maduras, questões como alinhamento entre as áreas, desafios de comunicação e os custos institucionais podem ser algumas barreiras a serem superadas para a emissão desses instrumentos. Nesse contexto, Rosangela Santos pediu a especialista que compartilhasse sua experiência nos casos trabalhados, se tinham perfil de projetos integrados ao foco estratégico das empresas, sendo confirmado por Laura, “na grande maioria sim, estão relacionados ao core estratégico dos negócios e muitos casos para sua expansão “
“Dentre os desafios da gestão, a maior resistência, do meu ponto de vista, é quando a empresa não está habituada a compartilhar e publicar seus dados. Porque às vezes ela não está preparada, não tem indicadores. Se ela já está bem estruturada e tem uma prática de transparência, ela poderá conseguir capturar vantagens adicionais com esses instrumentos. Isso tem a ver com o grau de preparação de cada uma”, observou Eduardo Donni.