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Magali Leite foi a convidada do programa de Mentoring do IBEF Jovem do último dia 25. A executiva trouxe muita franqueza ao encontro, deu conselhos a partir dos seus erros e acertos, e, principalmente, mostrou-se motivada por desafios: “Gosto de transformar e de resolver problemas”.
A executiva começou a vida profissional como estagiária na Casa da Moeda, no Rio de Janeiro. Depois de terminar a faculdade, foi trabalhar no Grupo Globo, onde começou a atuar em finanças e encontrou a sua carreira. Aos 25 anos, já coordenava 25 pessoas.
Ela ainda trabalhou nas empresas Elsevier (editora e conteúdo), onde virou diretora pela primeira vez; Benq – Siemens, quando mudou para São Paulo para acompanhar o marido; Santa Cruz Distribuidora de Medicamentos, que considera a grande experiência da sua carreira; Claro (telecomunicações); LIQ-Contax (telemarketing); Localfrio (logística portuária). Há um ano está no Grupo Bandeirantes de Comunicação como Vice-Presidente de Finanças, RI e Administração. Neste ano, a executiva tornou-se Board Member da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro da Diretoria Vogal do IBEF-SP.
Apesar de ter nascido em Brasília, cresceu e viveu no Rio de Janeiro até 2006, quando se mudou para São Paulo. Casada e mãe de dois filhos, a executiva conta com Pós-graduação em Economia pela UFRJ, MBA em Gestão Corporativa pelo IBMEC, certificação como Board Member pelo IBGC e também participou de Programa Executivo em Estratégia, Organização e Gestão pela Stanford University.
Trajetória e rotina – “Nada na minha vida é convencional. Não planejei a minha carreira e as coisas foram acontecendo. Mas por algum tipo de habilidade ou em função das escolhas pessoais, eu acabei chegando aonde cheguei. Dei cabeçadas e tenho arrependimentos de algumas escolhas. Mas sei que tudo isso ajudou a construir a pessoa e a profissional que sou hoje. Há certo tempo, porém, comecei a elaborar os meus próximos passos. A certificação de Board Member foi uma dessas escolhas”, revela a executiva, que teve uma infância humilde e estudou em escola pública, mas teve o curso de inglês priorizado pelos pais.
Magali diz que as pessoas questionam como ela consegue conciliar o grande número de responsabilidades. “Nem sempre dá para equilibrar e cai um pratinho¨, diz, fazendo alusão à imagem de uma malabarista. ¨Saio de casa fazendo maquiagem, call e programando o Waze ao mesmo tempo. Outro dia um ladrão ficou batendo com a arma no vidro do carro e não percebi que estava sofrendo uma tentativa de assalto de tão compenetrada que estava”, brinca. “Depois que caiu a ficha, fiquei tremendo por dias”.
Veste a camisa – A executiva diz que sua marca pessoal é colocar o interesse da empresa na frente de tudo. “Sempre faço isso de maneira muito digna e querendo acertar, mas tem hora que olho para trás e vejo que estou sozinha”.
Magali procura pessoas com o perfil parecido com o dela para trabalhar. “Se não é fidedigno e não é de verdade, fica difícil ficar com um profissional assim”. A executiva diz que a honestidade é um dos pilares. “Não aceito presentes de fornecedores, compro tudo com o meu dinheiro e pago o meu almoço. Além de ser uma característica minha, sei que preciso dar o exemplo para poder cobrar lisura e melhores práticas dos colaboradores”.
Normalmente, a executiva entra nas empresas para realizar um forte processo de transformação. “Geralmente, o problema é no caixa. Mas teve uma série de coisas que fizeram chegar a essa situação, como falta de estratégia, de posicionamento, entre outras questões. Então, é preciso tocar um plano para o caixa e cuidar de outros pilares simultaneamente. É algo extremamente complexo e não é todo mundo que quer encarar isso. Um amigo headhunter diz que quando aparece bucha, ele se lembra de mim”, brinca.
Nos últimos anos, Magali tem trabalhado mais em empresas familiares, mas que entendam a situação crítica enfrentada. “Normalmente, preparo um plano bem estruturado, pois, com a prática, passei a fazer diagnósticos rápidos. Porém, a cultura da empresa acaba sendo uma barreira. Então, é preciso engajar os proprietários, sem que eles se ofendam e não se sintam criticados. O que exige uma alta habilidade de comunicação, pois são pessoas que construíram negócios bilionários, mas atravessam dificuldades”.
A executiva diz que uma de suas características é querer conhecer em detalhes o negócio para poder atuar de forma mais assertiva. “É preciso saber o que dá mais margem e saber cortar os custos certos”.
Além de manter a língua inglesa sempre em prática, Magali contou aos jovens as vantagens de também ter investido em um curso em universidade renomada no exterior. “Apesar de caro, faz muita diferença no currículo. Além disso, eu construí um networking com pessoas do mundo inteiro”.
Sem ¨mimimi¨ – Enfrentar resistências é parte do cotidiano de Magali. Por isso, ela é prática em relação à questão de gênero no mercado de trabalho. “Normalmente, a mulher não briga por salário. Essa é uma característica feminina. Mas não gosto do mimimi do empoderamento feminino. Acho que essa conversa já passou do ponto e está prejudicando as mulheres. Também discordo de cota¨.
¨Não tem ninguém mais improvável em chegar aonde cheguei do que eu. É mais difícil ser mulher e sei que sou mais interrompida em reunião que meus pares. Mas quando eu falo, eu tenho certeza que tenho muita propriedade. Isso se constrói com trabalho e com dedicação. Ninguém empodera ninguém. Poder se conquista com trabalho”, completa a executiva.
Magali compartilhou com os membros do IBEF Jovem algumas lições aprendidas ao longo da carreira, resumidas a seguir:
· Deixe sua marca, divulgue aquilo que te diferencia. Não aceite qualquer coisa e não vá só pelo dinheiro;
· Faça relacionamento. Para isso, esteja sempre em movimento: tome café com contatos, participe de eventos e não almoce sozinho. Não procure as pessoas só quando precisa;
· Ajude, seja solidário e gentil;
· Saia da empresa com elegância. Nunca leve nada para o lado pessoal e não feche as portas;
· Estude sempre e para sempre. Tenha um inglês fluente (de verdade)!!!
· Seja digital, empreendedor, colaborativo. A sua carreira não se resume ao padrão de décadas passadas;
· Invista em cultura geral e seja bem informado. Política está relacionada com economia. Seja interessante e faça as perguntas certas;
· Em relação ao período que envolve a regra dos 90 dias (crucial durante a entrada em uma empresa), seja interessado e mostre ser interessante.
· Seja fiel aos seus valores, walk the talk (faça o que fala);
· Planeje seus próximos passos e tenha sempre um backup plan;
· Não se iluda com as propostas. O headhunter, às vezes, não sabe da situação real da empresa. Pesquise, analise, questione e negocie. Leia balanços e tente descobrir mais detalhes com seu networking.
E, por fim, Magali destaca uma atitude simples, mas poderosa para encontrar a realização pessoal e profissional: ¨seja grato¨.
(Reportagem: Renata Passos)