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Para o economista José Mauro Delella, o governo deve aproveitar a janela positiva do cenário externo para aprovar a reforma da Previdência
A capacidade de articulação política para aprovação da reforma da Previdência será o grande teste do governo do presidente Jair Bolsonaro. Essa foi a principal conclusão da apresentação do economista José Mauro Delella – “A Economia em 2019: Desafios e Oportunidades em um Brasil sob Nova Direção” – realizada em 22 de fevereiro na reunião da Comissão Técnica de Mercado de Capitais e RI do IBEF-SP, liderada por Marc Grossmann. “E, de fato, a hipótese de todo mundo é a de que a reforma vai ser aprovada”, declarou à atenta plateia que compareceu à sede da Daemon Investimentos, local do encontro.
Delella é economista, com experiência de 30 anos no mercado financeiro, com MBA em finanças pela FIA USP e é mestre em Relações Internacionais pelo IRI USP. Em sua exposição, ele afirmou que a aprovação da reforma poderá levar a uma importante aceleração do crescimento econômico brasileiro. “O Brasil é um país que se posiciona muito mal nos rankings internacionais de produtividade / competitividade e a agenda do novo governo, voltada para simplificação e melhora do ambiente de negócios, pode gerar resultados importantes”.
Momento positivo -A segunda questão, que atua positivamente no governo, por ora, é o momento cíclico da economia. “O Brasil é um país que, nos últimos 5 anos, cresceu pouco e tem o PIB ainda abaixo do atingido antes da recessão de 2015-2016. Começou a avançar no ano passado e, por uma série de fatores, interrompeu essa trajetória. Ou seja, a economia entrou bem no ano de 2018 e depois estagnou. Mas a superação da incerteza eleitoral está conduzindo um crescimento mais forte agora em 2019, então esse é um ponto positivo conjuntural”, reconhece.
Outro fator primordial, que está trabalhando favoravelmente para o governo, é o momento do cenário internacional. “Neste início de 2019, o mundo está jogando a favor. Nós estamos no meio daquilo que eu defino como uma janela benigna do cenário internacional e isso é crucial para o bom andamento das medidas. E o governo precisa aproveitar esse panorama e aprovar a reforma”, afirma o economista.
Delella alerta, no entanto, que esse céu de brigadeiro externo é de curta duração. “Estou falando de uma janela de meses no ambiente internacional que será promissora para os países emergentes. Esse comportamento positivo deve ter duração entre 6 e 12 meses. Não mais que isso”.
Contribuição externa – Uma eventual reviravolta nos mercados internacionais, na visão do economista, poderia exercer forte impacto na gestão do governo atual. “Se o governo não aproveitar essa janela e o mundo virar, ficando desfavorável, a situação pode ser muito mais complicada”, prevê.
Para justificar a sua tese, Delella construiu as condições que estão contribuindo para um horizonte otimista da economia e que poderão influenciar o Brasil neste momento. “A China está injetando dinheiro ‘a rodo’. O FED (banco central americano) ‘virou a mão’ e deixou as taxas de juros inalteradas na sua última reunião. A guerra comercial, que afetou muito negativamente a economia mundial em 2018, refluiu, a partir de sinais de armistício de ambas as partes após a reunião do G7, em novembro”, ressaltou o economista.
Todos esses ingredientes foram determinantes para uma reação positiva dos mercados internacionais desde os últimos meses de 2018. “No final do ano passado, em novembro/dezembro, estávamos vivendo um cenário essencialmente negativo para (países) emergentes. Aí ele virou, e estamos surfando agora nessa onda positiva. O câmbio não despencou, está R$ 3,70, mas estava próximo a R$ 4 no final de dezembro. E caiu 10% em relação às máximas. Precisamos aproveitar essa oportunidade de calmaria vinda de fora”, avisa.
Oportunidades no governo atual – Delella ainda demonstrou no encontro várias simulações com as oportunidades que o país poderá obter durante o governo Bolsonaro. Ele denomina essas chances de negócios como “low hanging fruits” (frutas fáceis de colher), que podem ser coletadas a partir de sinalizações corretas na gestão de política econômica. Nas conclusões do economista, destacam-se os impactos das medidas microeconômicas sobre a produtividade e que não exigem tramitação no Legislativo, tais como a simplificação, desoneração e desburocratização. Para ele, a inflação baixa e as contas externas muito confortáveis dão o suporte macroeconômico necessário aos primeiros passos de implementação da agenda. “Conjunturalmente, o Brasil está em um processo de ‘recuperação cíclica interrompida’ e a retomada pode gerar uma aceleração mais intensa do que a prevista já em 2019”, aponta o estudo do economista.
Após a sessão de perguntas e respostas, o líder da Comissão Técnica, Marc Grossmann, apresentou o calendário 2019 de trabalhos do comitê. Ele agradeceu a José Mauro pela excelente apresentação e à Daemon Investimentos pela recepção e organização do evento, na pessoa do sócio Marcelo Gama.