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O futuro dos meios de pagamento e as novas tecnologias que devem estar no radar do CFO

Já pensou entrar em uma loja, pegar o que precisa e ir embora, com o pagamento feito de forma automática? Pois este futuro está mais perto do que você imagina. O executivo de finanças precisa estar atento às mudanças no ecossistema de meios de pagamento e como elas afetam a relação com o consumidor, a segurança da informação e os processos financeiros.

E-commerce, transações contactless, cripto e blockchain, cibersegurança, 5G, Open Finance e banking as service foram temas abordados no evento presencial ¨O Futuro dos Meios de Pagamento e Novas Tecnologias¨, realizado pelo IBEF-SP em 18 de abril último, com o patrocínio da Mastercard.

Visão ampla da cadeia de pagamentos – O painel ofereceu aos associados uma ampla visão sobre as transformações que estão acontecendo na cadeia de pagamentos no Brasil e no mundo, com a riqueza de opiniões das diferentes partes: bandeiras, emissores, comércio (merchants) e consumidores.

Participaram como speakers Estanislau Bassols, Presidente da Mastercard Brasil, Gustavo Maglioni, Diretor Financeiro da 4Bio, e Rodrigo Cury, Head de Consumer Banking e Partner do BTG Pactual. O evento teve como host Ana Paula Zamper, Vice-Presidente Comercial do IBEF-SP, e moderador Maurício Fernandes, EVP de Instituições Financeiras da Mastercard.

Pessoas no centro – Ana Zamper ressaltou na abertura que o futuro dos meios de pagamentos é um tema muito relevante na agenda de transformação digital das empresas. A revolução em curso é facilitada pelas novas tecnologias, mas deve ter as pessoas no centro.

Como resumiu Estanislau Bassols: “As pessoas estão no cerne dessas mudanças porque elas querem ao mesmo tempo: comodidade para pagar de uma forma simples, fácil e sem atritos; fazer esse pagamento de qualquer lugar; e que tudo isso aconteça dentro de um ambiente seguro”.

Aceleração na pandemia – Os meios eletrônicos de pagamento e cartões já representam mais de 50% do consumo das famílias no Brasil, e devem chegar a 60% neste ano de 2022, informou Maurício Fernandes. Além da adoção veloz, a penetração desses meios no país é alta quando comparada a outras geografias, observou o VP de Finanças da Mastercard.

Aliás, várias tendências foram aceleradas nos últimos dois anos, face ao novo contexto gerado pela pandemia de covid-19 com as medidas de isolamento social. O volume do e-commerce, por exemplo, saltou 55%, destacou Estanislau Bassols, Presidente da Mastercard. Isso ocorreu por duas fontes em especial: quem nunca havia feito um pagamento por essa via – cerca de 10% dos novos usuários; e 50% dos que utilizavam passaram a fazê-lo no dia a dia.

Antes da pandemia, as transações com cartão de crédito feitas por aproximação (contactless) eram apenas 2% do volume; hoje já representam 25% do total de transações presenciais com cartão. “O uso de contactless aumentou seis vezes no ano passado, segundo dados da Mastercard. Ou seja, é algo que estava presente em nossos dias e cresceu de forma extremamente relevante”.

Inovação vem a reboque do consumidor – Rodrigo Cury, Head de Consumer Banking e Partner do BTG Pactual, destacou que a indústria de meios de pagamentos vive um momento muito especial, tendo a tecnologia como um ponto forte. O Pix, sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central e operacionalizado em novembro de 2020, alcançou em abril último 438 milhões de chaves ativas (contas de usuário) e 126 milhões de usuários cadastrados, segundo dados do BC.

Executivo que trabalha há 20 anos no setor bancário, Rodrigo sublinhou que as inovações no mundo de pagamentos vêm a reboque da utilização e da preferência do consumidor. “Aquilo que você mais usa no dia a dia, sem dúvida, são os cartões e a sua conta corrente. Isso faz com que a velocidade de renovação desse mercado seja muito forte, muito constante, e isso consequentemente puxa o resto dos produtos bancários”.

Brasileiro gosta de novidade – O cliente é o agente mais poderoso dessa cadeia, enfatizou o Diretor Financeiro da 4Bio, Gustavo Maglioni. Ele defendeu que as empresas, enquanto merchants, precisam colocar o cliente no centro do negócio, facilitando que ele pague como quer e da forma que desejar. É uma questão de sobrevivência.

“Há 10 anos, tínhamos o cheque. Hoje em dia ninguém paga com cheque. Nas nossas lojas isso representava 10% das transações das nossas lojas; hoje é menos de 0,5%. Já as transações com cartão de crédito e débito hoje representam quase 85% do total”, notou o diretor financeiro.

Maglioni observou que o consumidor brasileiro tem o perfil de gostar e aderir às novas tecnologias. E há uma enorme oportunidade pela frente, considerando que uma grande parte da população ainda é desbancarizada. O que tende a mudar com a entrada de novos players, crescimento das fintechs e das carteiras digitais.

“Quando olhamos para nosso país, existem vários Brasis. É algo de uma capilaridade e complexidade enormes. O mundo que vivemos nas capitais é muito diferente de uma cidade pequena do interior do Nordeste ou Centro-Oeste. Então, há oportunidade grande de criamos isonomia na forma de comunicação e na capacidade tecnológica”, afirmou o diretor financeiro da 4Bio.

Segurança com simplicidade nas transações financeiras – O avanço da tecnologia provocou uma mudança de paradigma, notou Rodrigo Cury. Se antes face a um problema de segurança o usuário era encaminhado à agência física, no universo dos bancos digitais (sejam os nativos ou os tradicionais que se digitalizaram), é preciso trazer novos sistemas que não dependam do contato físico, com o uso de biometria e outras formas de autenticação. Garantir a segurança contra crimes cibernéticos, que têm por trás organizações com tecnologia de última geração, é uma preocupação grande do setor.

Nesse sentido, Estanislau Bassols destacou que a Mastercard desenvolveu soluções de tecnologia além do cartão (ou seja os meios de pagamento) para ajudar as empresas a tornar as transações mais seguras e de forma transparente. Como exemplo, citou que já é possível autenticar com segurança um usuário pela sua velocidade e ângulo de digitação, a forma como interage com o mouse ou mesmo com a tela. Fora isso, o processo de autenticação  pode considerar fatores como dia, horário e perfil da transação. “Quando utilizamos os nossos devices deixamos um nível de pegada incrível, que nos permite identificar quem está acessando de um jeito muito mais simples que outras soluções, embora essas também sejam necessárias”.

Gustavo Maglioni ressaltou que o desafio da segurança precisa ser trabalhado de forma conjunta por todos os atores da cadeia. É preciso oferecer uma experiência que concilie segurança, agilidade e em um processo amigável para o cliente.

“Do nosso lado, como empresa de varejo com um crescente número de transações, é necessário ter uma série de camadas de segurança. E por mais que você saiba o que tem que fazer, existe uma dificuldade enorme de contratar profissionais da área porque a disputa por pessoas é gigantesca. É um momento que o sistema como um todo precisa se unir e compartilhar boas práticas. Quando se traz mais educação e comunicação você diminui o risco para todos”, completou o diretor financeiro. 

O que cripto pode agregar – A criptoeconomia potencializará ainda mais essas transformações na cadeia, com destaque para a tecnologia blockchain, realçou Rodrigo Cury. O blockchain traz segurança, além de conveniência às transações financeiras.

“Por que eu quero cripto em um mercado que já funciona super bem, com pagamentos instantâneos, parcelados, loyalty etc?”, provocou Cury, para responder em seguida: “Porque cripto agrega várias coisas: uma delas é uma camada adicional de segurança para o nosso sistema, e não só em relação a cartões, mas também transferências, remessas internacionais… Qualquer tipo de transação financeira pode ter um ganho a mais de segurança”.

Estanislau Bassols reforçou que o uso de blockchain vai muito além das moedas digitais, como bitcoin e stablecoins, e que nos próximos dois a três anos talvez a maior discussão sobre essa tecnologia seja o uso dos contratos inteligentes (smart contracts). “Essa tecnologia permite fazer as relações entre as empresas e entre pessoas de uma forma diferente. Porque você consegue ter as informações colocadas em um bloco muito difícil de ser quebrado, e de um jeito seguro, prático e funcional”. Com o uso do blockchain se tem o momento exato em que uma relação foi selada, uma mercadoria entregue e se um recebível já está ativo, por exemplo.

Open Finance e poder de escolha –  O Conselho Monetário Nacional aprovou, no último dia 24 de março, Resolução que lançou oficialmente o projeto Open Finance no Brasil. Trata-se da evolução do modelo do Sistema Financeiro Aberto. Com isso, o país avançará de uma iniciativa de Open Banking voltada a dados e serviços ligados aos produtos bancários, para uma estratégia mais ampla que abarca dados sobre outros serviços financeiros; por exemplo, credenciamento, câmbio, investimentos, previdência e seguros.

“Quando falamos em Open Finance é entregar ou dar a possibilidade e a liberdade para o usuário decidir com quem ele quer compartilhar suas informações. Isso é fundamental: se o dado é meu, é justo que eu escolha a quem dar acesso. E, para compartilhar esse dado, o consumidor vai querer ter um benefício em troca”, ponderou Gustavo Maglioni.

Dados para encantar – Para Rodrigo Cury, o grande tema do Open Finance não é simplesmente ter dados, mas saber usar esses dados para encantar o cliente. Ele citou como exemplo positivo que o inspira no BTG, para o uso de dados na entrega de uma melhor experiência, o Spotify, serviço de streaming de música, podcast e vídeos.

Cury acrescentou que, no caso dos bancos, o compartilhamento dos dados possibilitará às instituições fazer ofertas mais atraentes para conquistar o cliente, seja uma taxa melhor ou uma condição de crédito mais vantajosa. Mas não é só isso.

O Head de Consumer Banking citou como exemplo o Finanças+, desenvolvido pelo BTG Pactual. A ferramenta analisa os dados do usuário provenientes de diferentes fontes (cartões, receitas e transações) e seus hábitos para auxiliá-lo na organização de suas finanças. “Eu empresto para o meu cliente toda uma experiência nova para ajudá-lo a fazer toda a gestão da sua vida financeira”, notou Rodrigo. “Eu não quero simplesmente ter o cliente; quero que ele veja valor, e quando ele vê valor, ele está mais com a gente. Essa é a mágica do Open Finance”.

O Brasil será a maior adoção de Open Finance do mundo, completou Cury. Ele avaliou que a indústria financeira ainda está um pouco atrasada, não porque os bancos não queiram avançar, mas em razão da complexidade dos fatores para desenvolvimento. “O setor ainda não está preparado para isso em 2022”.

Estanislau Bassols adicionou que a Mastercard trabalha em soluções ligadas ao Open Finance, tanto em termos de conectividade como para a organização das informações. Dentre as questões complexas que envolvem o projeto estão: como acessar os dados e ter o consentimento do cliente; organizar os dados para que gerem informações; e utilizar essas informações com inteligência artificial e machine learning para transformá-las em algo que agregue valor.

Conquistar a confiança do cliente e o tema da privacidade são desafios inerentes a esse novo momento. “Vejo organizações e empresas investindo muito em segurança. Porque elas são responsáveis não só mais pelas informações que possuem, mas também pelas que estão obtendo. No dia em que não tratarem essas informações adequadamente, elas perderão o primeiro elemento: a confiança, que é o que permite que todo esse sistema funcione”, completou Bassols. 

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