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A área Tesouraria, assim como outras áreas das organizações, vem passando por mudanças que podem ser denominadas como estruturais e de conceito. Atuo no mercado com uma carreira vertical dentro da área e ao longo desses anos experimentei modificações no ambiente de trabalho que me trouxeram grandes reflexões. Hoje entendo que existe uma consistente onda para a mudança do perfil do Tesoureiro, onde ele deixa de ser conhecido com o guardião do caixa para ser um parceiro de negócio.
No dicionário, Tesoureiro significa: Indivíduo(a) responsável ou encarregado do tesouro, do dinheiro, das finanças de uma organização. Notadamente a profissão se formou baseada, principalmente, na gestão do dinheiro, ou seja, nas transações de pagamentos e recebimentos, gestão diária de movimentações bancárias, gestão de liquidez e exposição, sendo que essas últimas duas ainda são novas para alguns tesoureiros. Contudo, a definição final da palavra tesoureiro menciona a responsabilidade pelas finanças da organização. Essa atividade talvez não tenha sido tão bem explorada no início da sua trajetória, muito pela falta de necessidade e/ou conhecimento, mas principalmente por a entenderem como uma responsabilidade apenas do CFO.
Atualmente, com um mercado globalizado, um maior número de empresas multinacionais, de capital aberto, ou companhias acessando mercado de capitais, fica evidente a necessidade do desenvolvimento da profissão. A pirâmide abaixo (Figura 1) ajuda a demonstrar onde o foco e gestão normalmente está mais presente. Porém, com as mudanças destacadas, a dedicação para muitos profissionais da área já mudou, e para aqueles que ainda não vivenciam essa mudança, tenho convicção que esse momento irá chegar.
(Figura 1)
Para que o tesoureiro se adapte a essas mudanças de mercado e necessidades das organizações, é de extrema relevância que esse profissional tenha conhecimento de finanças corporativas, pois é através desses conceitos que o tesoureiro irá colaborar com a criação de valor nas organizações. Dentre os conceitos primários que devem ser de conhecimento do profissional de Tesouraria, pode-se destacar: Análise de Balanço, Ciclo Econômico, Ciclo de Caixa e o ROIC (Return on Invested Capital/Retorno sobre o Capital Investido). A boa gestão destes números irá fomentar um ciclo de crescimento da organização. (Figura 2).
(Figura 2)
Vale destacar que o ROIC, ajuda a trazer clareza na geração de valor e a Tesouraria possui um papel crucial para o aprimoramento desse indicador. A melhora desse indicador se dará através de algumas formas e/ou ações. A primeira e mais comum é a busca por um maior Lucro Operacional através do aumento de vendas e redução de custo. A segunda, e não tão clara muitas vezes, é através da melhora na gestão do capital empregado, o que se dá por meio da redução do capital de giro ou redução dos ativos fixos (Figura 3).
(Figura 3)
Entre as ações que o tesoureiro pode tomar para aprimorar a gestão do capital de giro está a redução do número de dias médios de recebimentos, onde, programas como desconto de recebíveis, estruturação de operações off balance de carteira de recebíveis, e apoio ao time de crédito e comercial para disponibilização de recursos para fomentar antecipação de recebimentos diretamente com os clientes ajudam no aprimoramento desse indicador.
Da mesma forma, o tesoureiro deve buscar aumentar os prazos médios de pagamento aos fornecedores com operações de financiamento à cadeia de fornecedores, comumente conhecidas como Confirming/Risco Sacado. Ele deve manter, também, influência junto à área de suprimentos com relação à importância de uma boa negociação de prazo.
Ótimo, entendido o racional para a mudança de foco da área e do profissional de Tesouraria, as perguntas que ficam são: Como chegar nesse nível? Como dedicar tempo para essas execuções? Como desenvolver essa habilidade em toda a área?
Dentre os fatores relevantes para essa virada de conceito destaco os seguintes:
– Entendimento claro do conceito ROIC, Gestão do Capital de Giro, Ciclo Econômico e de Caixa.
– Trabalhar na automatização de processos transacionais aumentando, assim, a produtividade da área. Afinal, do que adianta saber gerir as atividades estratégicas se, no final do dia, os pagamentos saem com atraso? Isso acarreta no pagamento de juros, e o contas a receber demora para ser concluído, pois a gestão de recebimento é mal feita e as contas bancárias, no final do dia, ficam negativas e geram mais encargos financeiros e tributários. Do que adianta todo o conceito, se a base não está bem controlada?
– Adicionar a meta da área à melhoria dos indicadores, facilitando, assim, o entendimento do impacto das atividades da área no resultado da organização.
– Seja um parceiro de negócios, faça visita a clientes e fornecedores, entenda do modelo da produção até a venda. Fomente para que seu time faça o mesmo.
– Seja o braço direito do CFO, mantenha-o atualizado sobre os números. Mesmo que esse já faça o controle, deixe-o ciente que você compartilha dessa responsabilidade e que, de alguma forma, também se sente dono dessa informação.
Essas ações vão ajudar a construir uma mudança na pirâmide, onde as atividades estratégicas deixam de estar no topo e, de certa forma, distante do entendimento das responsabilidade da área, para uma mudança ao centro, disseminando, assim, o foco motriz da Tesouraria (Figura 4).
(Figura 4)
O Tesoureiro sempre será o guardião do caixa, mas definitivamente não é apenas isso. A ampliação do escopo e responsabilidade da área irá demandar um profissional tecnicamente mais qualificado e com maior conhecimento do negócio no qual está envolvido, fazendo com que o perfil desse profissional seja também de um parceiro de negócios.
Escrito por Vinicius Guidotti, profissional com mais de uma década de experiência em Tesouraria de grandes multinacionais, com foco na evolução do conhecimento e escopo da área de Tesouraria.