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Oportunidades no momento difícil da economia

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Será que sua empresa está perdendo alguma? Leia nossa entrevista com o economista sênior do Itaú BBA, Caio Megale.

É bem conhecida a máxima chinesa de que crise é sinônimo de oportunidade. No mercado brasileiro, isso se aplica às companhias que aproveitam o momento de turbulência para olhar para dentro de si, buscando mais eficiência, e para fora, entrando em novos mercados.  Esta é a análise de Caio Megale, economista sênior do Itaú BBA.

Os sinais de recuperação da economia – possíveis apenas com o período de administração do “remédio amargo” para mitigar os desequilíbrios econômicos – devem ganhar força a partir de 2017. No referido ano, projeta-se que o crescimento do PIB brasileiro finalmente sairá do patamar de 0% para 2,6%.

Acompanhe a entrevista com Caio Megale, concedida com exclusividade para o site do IBEF SP.

ENTREVISTA

IBEF SP: Nos últimos anos, ocorreu uma importante mudança no cenário internacional. Você poderia comentar quais foram os impactos o país?

CAIO MEGALE: Na década passada, os preços das commodities subiram muito, o que trouxe muita renda para a América Latina e para o Brasil, em particular, proporcionalmente a investimento, aumento de consumo e melhoria da qualidade de vida. Só que essa alta se reverteu e, nos últimos anos, temos visto uma queda. Especialmente a partir do ano passado, essa queda que se intensificou. Então, aquele vento favorável do mercado internacional, que foi muito embalado pelo vigoroso crescimento da China, agora está se tornando um freio. Isso contribui para que o ambiente de negócios e o ambiente para a economia brasileira sejam um pouco mais difíceis neste ano.

A desaceleração das commodities, como eu mencionei, está trazendo um crescimento menor para toda a América Latina. Mas o Brasil está desacelerando muito mais. Ou seja, há fatores domésticos na economia brasileira que também estão pesando sobre o crescimento econômico e o desempenho das empresas.

IBEF SP: Quais são os principais fatores domésticos que estão impactando o crescimento?

CM: O primeiro e o mais importante é o processo de ajuste econômico que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) tem conduzido. Se a gente olhar um pouco para trás, nos últimos anos, o consumo cresceu muito acima da renda no Brasil. Esse crescimento forte do consumo – não compatível com o ritmo da renda – gerou uma série de distorções: as famílias e as empresas ficaram endividadas, as contas públicas se deterioram, a inflação ficou muito mais pressionada. O governo congelou algumas tarifas, como a de energia elétrica e o preço da gasolina, para evitar que a inflação subisse ainda mais.

Tudo isso gerou desequilíbrios na economia e esses desequilíbrios uma hora pedem um freio de arrumação para colocar a casa em ordem. É o que o ministro está fazendo. Só que esse freio de arrumação implica: aumento de juros, redução do crédito, aumento de impostos, depreciação rápida da taxa de câmbio, aumento daquelas tarifas que ficaram congeladas, energia elétrica, gasolina… Tudo isso representa queda na demanda e aumento dos custos de produção. É um remédio amargo que era muito importante que fosse tomado – e está sendo tomado. Ou seja, lá na frente, essa recessão combinada com inflação em alta poderá levar o país a uma situação mais equilibrada. Porém, no curto prazo, a gente vai ter que conviver com esse movimento de ajuste.

IBEF SP: A Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014 e ainda em curso, também teve impactos importantes, dado o peso das empresas investigadas. O que podemos esperar em relação aos efeitos desencadeados por ela nesse momento de contração da economia?

CM: A Operação Lava Jato é algo que ocorre em paralelo aos ajustes do (ministro Joaquim) Levy, mas que também impacta a economia de forma importante. Primeiro porque a Petrobras é muito grande; a companhia, sozinha, representa 15% de todo investimento feito pelo Brasil e ela está fazendo um plano de redução dos seus investimentos e diminuição dos seus gastos. Só por esse canal do investimento, a contração do tamanho da Petrobras vai impactar diretamente o crescimento do PIB. Na medida em que a Petrobras se contrai, ou seja, investe menos e contrata menos, os seus fornecedores também começam a sentir os efeitos. O setor de Óleo & Gás é muito capilarizado no Brasil, então uma redução das compras da Petrobras traz problemas de liquidez e fluxo de caixa para todo o setor. E esses problemas vão se espalhando para outros setores.

Ao mesmo tempo, grandes construtoras estão envolvidas na Operação Lava Jato, o que gerou problemas de caixa e de liquidez que se espalharam pelo setor de construção – também muito capilarizado. Então, esse movimento – que a gente não sabe exatamente qual será sua extensão e duração – também coloca uma dificuldade adicional na concessão de crédito, gera incerteza e joga a economia para baixo. Contudo, assim como os ajustes realizados pelo ministro Joaquim Levy, a Operação Lava Jato é algo que tende a trazer bons frutos para o país no futuro.

IBEF SP: Quais serão os bons frutos?

CM: Trazer mais transparência para os negócios e possivelmente mais competição, atraindo empresas multinacionais e companhias locais para competir nesses setores que estão mais em alta. Ou seja, é um ajuste da casa que traz contração no curto prazo, mas pode trazer benefícios no longo.

IBEF SP: Durante o período de contração, quais são as oportunidades para as empresas?

O Brasil está vivendo um cenário muito difícil em 2015, com PIB para baixo e inflação para cima. É um cenário que requer atenção dos gestores das empresas. É preciso olhar para os seus custos, para os seus processos e tentar melhorar a eficiência, tornar a empresa mais ágil. O gestor deve entender que esse é um ambiente que faz outros segmentos e outras empresas também sofram. Então, pode ser uma oportunidade para aumentar o market share, por exemplo, comprar uma empresa que tenha algum problema e está em uma região de interesse para a sua companhia.  Então, é um momento difícil, mas que traz oportunidades.

IBEF SP: Os gestores vivem um ambiente de grande pressão por resultados, em meio à queda na demanda e margens cada vez mais apertadas. Quais conselhos você daria para que os nossos associados possam enfrentar melhor esse período de turbulência?

CM: O Brasil é um país com um mercado consumidor muito grande, muitas oportunidades de investimento em infraestrutura, varejo e consumo. Também possui uma agricultura muito pujante, que gera renda para a economia. Todo esse cenário faz com que o país seja muito atraente no longo prazo. Então, essa fase de transição tem que ser vista como um momento em que as empresas têm que arrumar a casa e conseguir navegar por esse processo, para que possam se beneficiar desses fundamentos lá na frente.

A melhor coisa que você pode fazer num momento como esse – em que a demanda está fraca e os custos estão em alta – é olhar para dentro da operação. Tentar obter ganhos de produtividade, melhorar a eficiência e reduzir custos. Fazer melhor (ou de forma mais eficiente) coisas que você estava acostumado a fazer em um ambiente mais favorável, mas que até então você não se preocupava muito.

Vale lembrar que o seu concorrente pode estar com problemas. Muitas vezes, você não precisa estar muito bem, mas pode estar melhor que o seu concorrente. Então, é uma oportunidade para ganhar mercado; ampliar market share.

IBEF SP: Quais outras oportunidades as empresas devem ficar de olho?

Este ano está sendo um dos mais ativos em termos de fusões e aquisições. Empresas que estão mais sólidas, mais firmes, estão vendo grandes oportunidades para adquirir outras empresas, entrar em novos segmentos e regiões. Muitas empresas multinacionais estão vindo para o Brasil, aproveitando que o câmbio depreciou, ou seja, o país ficou mais barato.

Uma outra área que as empresas estão voltando a focar é nas exportações. Estados Unidos e Europa estão retomando o crescimento, ou seja, a demanda mundial está gradativamente voltando a crescer e a nossa taxa de câmbio está mais depreciada, o que deixa o Brasil mais competitivo comercialmente. Muitas empresas que tinham abandonado suas linhas de exportação, quando a taxa de câmbio estava em R$ 1,60, R$ 1,70, agora estão começando a voltar para o jogo. Então, as oportunidades no mercado externo também devem ser olhadas com bastante atenção.

IBEF SP: Isso vale especialmente para produtos de maior valor agregado, já que as commodities estão em baixa?

CM: Não necessariamente. A demanda por grãos, por exemplo, continua muito forte no mercado internacional. O preço está baixo, mas a nossa taxa de câmbio depreciou; então você consegue manter a rentabilidade. Outros produtos de valor agregado também estão se tornando mais competitivos lá fora e isso gera uma oportunidade para entrar em novos mercados, especialmente no mercado americano, que é muito grande e interessante para o país.

Então, esses são os dois grandes movimentos que eu tenho visto nas empresas: uma busca por mais qualidade, eficiência e produtividade; e, por outro lado, um esforço para diversificar os seus mercados. Se antes isso era mais difícil, em função da taxa de câmbio estar apreciada e o mundo crescer pouco, isso parece estar se revertendo.

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