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[Valor Econômico – SP – 27/03/2014 pág: A3 ]
Porto Alegre e Salvador vivem momentos opostos. Enquanto na região metropolitana da capital gaúcha a situação é de pleno emprego, Salvador tem registrado as maiores taxas de desocupação do país. Em janeiro, 8% do total da População Economicamente Ativa (PEA) da região metropolitana da capital baiana estava a procura de emprego, percentual que era só 2,8% em Porto Alegre. No meio do caminho, o desemprego médio das seis regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 4,8%. O aumento do desemprego em Salvador, porém, não decorreu de um corte de vagas, pelo contrário. Na média de 2013, foram abertas 91 mil vagas na região metropolitana da capital baiana, aumento de 4,8% na ocupação. No Brasil todo, essa taxa cresceu apenas 0,56% e em Porto Alegre, 0,85%. O desemprego em Salvador subiu porque não cresceu o número de pessoas que saíram do mercado de trabalho por conta própria. Enquanto no Brasil, 707 mil pessoas desistiram de procurar um emprego, em Salvador esse número cresceu (52 mil) e reforçou o contingente na disputa por uma vaga. Além do componente de comportamento da população, o desemprego nas duas regiões metropolitanas também reflete, em parte, o ritmo de atividade da indústria. No Rio Grande do Sul, a produção industrial acumula, nos últimos 12 meses, crescimento de 6,8%. quase o dobro do ritmo baiano no mesmo período. A demanda forte no mercado de trabalho gaúcho também fez o rendimento médio real subir acima da média nacional no ano passado. Em Porto Alegre, os trabalhadores encerraram 2013 com um salário 5,8% maior em termos reais em relação ao ano anterior, enquanto em Salvador a renda média caiu 10,5%, refletindo a maior oferta de trabalhadores. Caso o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central estivesse olhando para as duas cidades, seria um exercício curioso. Os índices de inflação foram semelhantes, apesar do comportamento distinto da renda. A inflação na capital gaúcha foi de 5,79% no ano passado, índice maior que o de Salvador (5,03%), mas menor que a média do país (5,91%). Se os IPCAs foram próximos, o mesmo não aconteceu no varejo. Pelos dados da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, as vendas do varejo ampliado no Rio Grande do Sul subiram 6,4% no ano passado, bem acima dos 3,6% da média nacional. Na Bahia, o crescimento foi de apenas 1,7% em 2013. Em Salvador, migração gera maior taxa entre as capitais O contraste entre a Bahia industrial de Camaçari e a Bahia rural do Semiárido é o pano de fundo da história que mostra um Estado deslocado do restante do Brasil. Os indicadores macroeconômicos da Bahia traçam um cenário bastante distinto do verificado em outros Estados, e os economistas encontram argumentos diversos para justificar a diferença. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa de desemprego em Salvador (8,1% em 2013) é a maior entre as seis regiões metropolitanas analisadas, situando-se bastante acima da média nacional (5,4%). A região foi a única que apresentou queda significativa na renda da população (6,8% em relação a 2012), acompanhada de elevação no número de desocupados (mais 25 mil pessoas), o que teria se refletido nas vendas do comércio e na inflação, que subiram menos que em outras partes do país. A migração do campo para a cidade, afirma o vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, Adary Oliveira, explica grande parte das discrepâncias econômicas entre a Bahia e os demais Estados. Segundo ele, muitos dos trabalhadores que se deslocaram do meio rural para o urbano nos últimos meses, em busca de melhores condições de vida, não encontraram emprego, o que manteve a taxa de desocupação alta e salários menores que em outras regiões. O cenário não se alterou em 2014. Os números do IBGE mostram que a taxa de desemprego em Salvador em janeiro correspondeu a 8% da População Economicamente ativa (PEA), enquanto a média nacional ficou em 4,8%. O rendimento médio da população baiana no mês, descontada a inflação, foi de R$ 1402,20, 7,8% menor que os R$ 1520,44 de um ano antes. Nenhuma das outras cinco áreas metropolitanas registrou queda na renda no período. “A migração fez com que a quantidade de trabalhadores em busca de emprego crescesse mais do que a oferta de vagas. Esses trabalhadores têm baixa qualificação, o que implica rendimento médio menor”, diz Oliveira. Dentre as regiões pesquisadas pelo IBGE, somente a de Salvador apresentou aumento na PEA (6%) entre janeiro de 2013 e o mesmo mês de 2014. Neste período, a desocupação cresceu 33,3%, com mais 40 mil pessoas à procura de trabalho. Os investimentos em ampliação e modernização do polo industrial de Camaçari, que pelas contas de Armando Avena, ex-secretário de Planejamento do Estado, somarão R$ 15 bilhões até 2015, estão atraindo trabalhadores a Salvador, mas as expectativas são frustradas pela falta de preparo profissional. “Há mais um fator que contribuiu para esse resultado: a decadência de Salvador”, diz Avena. Segundo o ex-secretário, o aumento da violência e a precariedade da infraestrutura reduziram o turismo na capital baiana, comprometendo o comércio da região. O crescimento mais moderado do varejo na Bahia – 1,8% em 2013, abaixo da média nacional, de 3,6% – também seria reflexo da baixa confiança dos consumidores, diante das condições desfavoráveis do mercado de trabalho. “Os trabalhadores ganharam menos, gastaram menos e, consequentemente, os preços subiram menos”, afirma Marcos Castro, vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef) e sócio da PricewaterhouseCoopers. Em 2013, Salvador registrou a menor inflação entre as 11 regiões pesquisadas para apuração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A alta foi de 5,03%, enquanto a média nacional ficou em 5,91%. Neste início de ano, entretanto, o quadro começa a mudar. A inflação acumulada em janeiro e fevereiro foi de 1,19%, abaixo da média nacional (1,24%), mas acima dos percentuais registrados em 9 de 13 localidades analisadas. A piora nas condições de emprego e renda tiveram impacto sobre a inadimplência no Estado. De acordo com a Boa Vista Serviços, administradora do SCPC, os registros de dívidas vencidas e não pagas na Bahia subiram 8,9% no ano passado, contrastando com a queda média de 0,4% no país. Esse quadro econômico desfavorável tende a mudar a partir deste ano, com a retomada dos investimentos na Bahia, diz Castro. “Em Salvador, vemos movimentações principalmente no que se refere a mobilidade urbana e redesenho de traçados turísticos.” A expectativa é que a construção civil, que no fim do ano passado apresentava um quadro de funcionários 4,2% mais enxuto que no mesmo período de 2012, volte a contratar, absorvendo parte da mão de obra disponível no mercado baiano. Entre dezembro e janeiro, houve aumento de 0,6% na ocupação no setor, com a admissão de mil profissionais. Foi a primeira vez desde junho de 2013 que o emprego na construção aumentou. O diretor comercial da MRV Engenharia, Yuri Chain, diz que, após dois anos de estagnação no mercado imobiliário de Salvador, a expectativa é de retomada dos projetos que ficaram parados devido ao impasse criado por mudanças na legislação de uso do solo. A MRV pretende lançar em 2014 quatro empreendimentos. Além da construção, outros setores devem ganhar fôlego neste ano na Bahia. Segundo Castro, estão previstos aportes robustos em segmentos como mineração, automóveis, papel e celulose, além de portos. Em 2013, a indústria baiana se destacou como a que mais crescia no país, considerando os resultados acumulados em 12 meses. Esse cenário só não foi válido em dezembro, quando a produção da indústria extrativa e de produtos químicos recuou e a de refino de petróleo, metalurgia e veículos perdeu fôlego. Ainda assim, a indústria baiana encerrou o ano com crescimento de 3,8%, mais que o triplo da média nacional (1,2%). Os especialistas chamam a atenção para o oeste da Bahia, onde se encontra um núcleo próspero de agronegócios. “Existem ilhas de modernidade no sertão baiano, que produzem com alta tecnologia e produtividade soja, algodão e milho”, diz Avena.
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