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Companhias devem se reposicionar para enfrentar ambiente conturbado de negócios. Veja as dicas de Carlos Alberto Bifulco, presidente do Conselho Consultivo do IBEF SP e diretor da BA Associados.
Da Agência Estado
A crise no Brasil está exigindo mudanças sensíveis no processo decisório das empresas, considerando que os efeitos dos acontecimentos políticos passaram a representar um importante assunto para as lideranças das companhias, que estão com muitas dúvidas em relação ao planejamento empresarial. O clima negativo foi agravado, ainda mais, pela descoberta de vários atos ilícitos nas estatais.
Alguns negócios já mudaram de forma dramática em virtude de: perda de incentivos fiscais e financeiros, queda do poder de consumo da população, diminuição dos investimentos do Governo e tantos outros fatos negativos. Segundo Carlos Alberto Bifulco, diretor da BA Associados, o cenário complicou ainda mais com as restrições impostas pelo mercado financeiro internacional e a disparada das taxas de dólar que mudou radicalmente as relações de troca do real com as moedas de economias mais fortes.
Diante desses acontecimentos, de acordo com o consultor, resta à direção se reposicionar adaptando a empresa para enfrentar as consequências do ambiente conturbado de negócios. E o primeiro passo é rever os objetivos estratégicos da empresa.
Entre os questionamentos, um dos principais, é estimar qual a previsão da evolução do setor em que a empresa atua e a sua posição em relação a clientes, concorrentes e fornecedores. Também inferir como a empresa pode ser afetada diante de prováveis posicionamentos do Governo.
Após essa primeira análise, o passo seguinte é avaliar as vantagens competitivas da empresa e determinar as providências para reforçá-las. Na sequência, definir quais são os principais indicadores de desempenho dos negócios da empresa, e efetuar seu controle por meio da implantação de um painel gerencial com informações rápidas e precisas. Para Bifulco, será também preciso levantar as oportunidades de negócios que possam dar um formato mais eficaz para a relação. Entre elas, analisar as opções por fusões, aquisições, parcerias e desmobilizações.
A atuação da área comercial pode fazer uma grande diferença em uma época de crise. “Essa área deve aumentar sua eficácia por meio da obtenção de informações claras sobre o mercado, que incluem questionamentos como: se os produtos são adequados ao momento atual, como está agindo o concorrente e qual o grau de satisfação dos clientes com os produtos ou serviços” explica Bifulco.
Somente a partir dessas avaliações será possível rever a organização comercial e sua adequação ao novo cenário, analisando as possíveis modificações nos canais de distribuição, na administração de vendas, nas promoções, na forma de atingir novos mercados, entre outras.
Na área financeira, obter um balanço gerencial da empresa, que contenha detalhes sobre os seus ativos e do perfil de endividamento com fornecedores, instituições financeiras e governo. Essa análise possibilitará o estabelecimento de uma estratégia financeira e até avaliar as alternativas para obtenção de recursos. Resta ainda a avaliação de medidas visando à redução da carga tributária por meio da obtenção de incentivos fiscais ou da mudança de procedimentos gerenciais.
Bifulco considera que os recursos humanos representam um fator diferencial para o enfrentamento da crise. “Os colaboradores da empresa têm que estar motivados para enfrentar os novos desafios. Cabe à direção da empresa identificar e motivar os potenciais campeões, aqueles funcionários que irão apoiar a direção da empresa na identificação de ações críticas e colaborar para a implementação dos planos de ações”, explica.
Outras áreas, não menos importantes, também tem um papel fundamental nos momentos de crise.
A Controladoria deve focar na análise das operações da empresa, entre elas: analisar as margens de contribuição das linhas de produtos, das regiões e dos clientes, bem como efetuar uma revisão crítica dos custos fixos, sugerindo oportunidades para aumentar as margens de contribuição e reduzir os custos fixos. A análise do “supply chain” deve ser efetuada com frequência, visando a sua otimização por meio da melhoria nos tempos de execução, diminuição de custos, entre outras. Também devem ser avaliadas as oportunidades de terceirização de atividades da empresa e definidos quais são os gargalos mais importantes.
Os projetos de pesquisa e desenvolvimento e os projetos de investimento em curso têm que ser analisados. Essa análise deve verificar como foram afetadas as premissas que nortearam a aprovação inicial desses projetos. Também devem ser previstos os efeitos de uma suspensão temporária dos mesmos e se a empresa terá recursos financeiros disponíveis para concluir o projeto no tempo adequado.
Muitas outras questões afetam o desempenho das empresas e a crise atual vai exigir um esforço concentrado dos administradores e funcionários. Mas, para o consultor da BA Associados, mesmo com essas providências é preciso que se adicione um ingrediente especial para o sucesso desse conjunto de ações: a forma de liderança da direção da empresa.
“É preciso que os dirigentes convençam a todos os envolvidos a importância da implementação das providências sobre a gravidade da crise atual e da necessidade de elaborar novos planos de ações. A criação de comitês, discursos e ações isoladas dificilmente atingirão os objetivos programados sem uma liderança firme e obstinada, que tenha uma visão abrangente dos problemas da empresa”, conclui Bifulco.
* Carlos Alberto Bifulco é diretor da BA Associados e presidente do Conselho Consultivo do IBEF SP. Em 1997 recebeu o “Prêmio Equilibrista”, concedido pelo IBEF para executivos que se destacam na sua área e, no mesmo ano, recebeu o “Prêmio Transparência” concedido pela Anefac e pela Fipecafi para o Melhor Balanço.