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A Comissão de Mercado de Capitais e RI realizou um painel sobre “Perspectivas para o Mercado de Capitais em 2019”, no dia 05 de dezembro, na sede do IBEF-SP. A apresentação e mediação do evento ficou a cargo de Sandra Calcado, membro da Comissão, que agradeceu a presença dos palestrantes, parceiros e o patrocínio da Deloitte.
Felipe Minelli, gerente sênior da Deloitte Brasil, ressaltou a experiência da companhia como agente do mercado de capitais, através de auditoria e consultoria de preparação das empresas para a captação de recursos. “Nos últimos tempos, debatemos com algumas companhias as formas de captação, mostrando que variam conforme a maturidade, tempo e necessidade que a empresa busca o retorno de capital. Há toda uma estratégia e transparência que precisa ser aprimorada. Então o ideal é contar com pessoas com experiência em todas as etapas desses processos”, contou.
Para o painel foram convidados os executivos: Celson Placido, que trabalha há mais de 20 anos no mercado financeiro, é sócio e vice-presidente institucional da Proseek; Maria Cláudia Guimarães, há 32 anos no mercado financeiro, os últimos 10 anos em investment banking, e hoje board member e partner na área de gestão de recursos; e Guilherme Cavalcanti, CFO e diretor de Relações com Investidores da Fibria, e executivo vencedor do Prêmio Equilibrista em 2015.
Confiança e previsibilidade são primordiais – Placido começou sua apresentação de forma positiva e esperançosa, comentando que está otimista com o Brasil. Ele contou que suas palestras abordam temas macroeconômicos, mas também expõem um mote político, fator determinante para crescimento do País. O executivo ressaltou a importância da realização do ajuste fiscal por parte do governo que assumirá em 2019, por meio da implementação de reformas como a da previdência, tributária e também destacou a necessidade de reforma política. “Existe uma base sobre medidas que precisam ser tomadas para trazer mais segurança jurídica”.
Ao analisar o cenário macroeconômico, Placido destacou que a economia é feita de expectativas e confiança. “Se os agentes não estão confiantes, ninguém consome e, principalmente, se não existe previsibilidade. Isso é primordial”, disse. Ele também acredita que 2019 pode ser um ano em que a população poderá se deparar com indicadores de crescimento reais e com avanços, ainda que lentos, nos setores de serviços, indústrias e comércio.
Contexto global – Trazendo a ótica de investment banking, Maria Cláudia comentou que está otimista com o cenário futuro, mas tem várias preocupações em relação à situação do País, como a deterioração dos últimos anos. “Apesar do Brasil ter R$ 1.8 trilhão de PIB e mais de 200 milhões de população, ele representa uma gota no mercado de capitais global. O País não tem oferecido uma relação risco/retorno adequada”, notou. Além disso, ela acrescentou que, desde 2008, a área que mais cresceu dentro de empresas, bancos e investidores foi o setor de compliance, elevando o nível das exigências de governança, aspecto no qual o Brasil apresenta fragilidades.
Segundo a profissional, o mercado de capitais quer ter uma perspectiva positiva para o País, mas para isso é preciso contextualizar o que o capital global está vivendo. “Os Estados Unidos, por exemplo, é o único país que está crescendo. Mas há uma sinalização de que agora virá uma desaceleração, e isso vai redefinir para onde vão os juros americanos”, afirmou. Maria Cláudia também elucida que há algumas questões que ainda ficaram sem resposta em relação à volatilidade do mercado de juros americano, e sobre a “redefinição” da globalização e da dinâmica de poder entre China e EUA.
Capacidade de execução – Ela ressaltou que esse conjunto de questões dificulta a tarefa de prever o que virá a partir de 2019. “Mas vamos trabalhar com esse cenário positivo, (conforme projeção do Morgan Stanley, publicada em 04 de dezembro deste ano), embora eu não saiba atribuir a probabilidade de isso acontecer muito brevemente”. Dentre os países emergentes, segundo a executiva, o Brasil está bem posicionado e ainda ganha o respiro de alguns meses que acontece sempre que há uma mudança de governo. “O mercado vai analisar se a equipe do novo presidente terá habilidade para implementar todas as mudanças que está indicando e que tem agradado o mercado financeiro. Então, o capital seguirá acompanhando todas as sinalizações para identificar a equação risco-retorno”, completou.
Ao expor a visão das empresas sobre as expectativas para os próximos anos, Guilherme Cavalcanti destacou a importância de fortalecer o mercado de capitais. “Em números, o governo tem sugado a poupança do setor privado, sobrando menos espaço para empresas que querem captar recursos. Por isso, precisamos reverter esse crescimento da dívida pública, para começar a ter uma proporção maior de participação das empresas nos próximos anos. Na melhor das hipóteses, isso deve começar a mudar em 2020, 2021, se forem aprovadas as reformas”, destacou o executivo.
Investimentos para 2019 – Sandra Calcado comentou os resultados de uma pesquisa realizada pela Deloitte* com empresas que representam 43% do PIB nacional sobre suas expectativas para 2019. Segundo os dados, 97% afirmaram que realizarão algum investimento. Deste número, 77% devem procurar algum investimento no mercado de forma diversificada, sendo 24% com aporte de acionistas, 24% com bancos de fomento, 24% com empréstimos de banco de varejo, 20% com aporte do grupo controlador, 11% com aporte de fundos de investimentos, 6% com emissão e títulos de dívida, e 1% pretende realizar IPO.
Debate – Apontando ainda um viés de desempenho do mercado de capitais em 2019, mas de forma objetiva, os executivos participaram de um debate e responderam dúvidas da plateia. Confira a visão dos especialistas para o questionamento abaixo, feito pela moderadora:
Falando de expansão e cenários promissores com riscos e dúvidas, quais são os desafios do mercado de capitais para os próximos anos?
Celson Placido – De forma sucinta, precisamos realizar, de forma primordial, o ajuste fiscal com segurança jurídica para atrair investimentos.
Maria Claudia Guimarães – O brasileiro deverá seguir participando do processo político para forçar esse governo a entregar o que prometeu. Esse acho que é um desafio individual importante. Depois vem o desafio das empresas de tentarem se posicionar como companhias que oferecem um bom retorno em relação ao risco, em comparação ao resto do mundo. No sentido de disputa de capital, as empresas devem sair do contexto local e pensar em um contexto global. Além disso, o grande desafio é pensar bem o negócio de forma a buscar atender a expectativa do capital global.
Guilherme Cavalcanti – Deve haver uma expectativa de que as reformas serão aprovadas, e que a dívida pública vai cair. O desafio para empresas e investidores é lidar com esse lado incerto, que é o que definirá o acesso dos mercados de capitais em 2019.
* Pesquisa “Agenda 2019”, realizada pela Deloitte logo após o término do ciclo eleitoral, e que aponta as expectativas do empresariado brasileiro para o governo eleito e os seus próprios negócios.
Confira: