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A ousadia como aliada na hora de dar saltos na carreira

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CFO da Mars mostra que vontade de crescer, coragem e bons relacionamentos são requisitos para se ter êxito no mundo corporativo

À primeira vista Gabriel Avelar, 33, surpreende pela franqueza extrema e a simplicidade ao descrever os pormenores de uma carreira meteórica que o alçou ao cargo de CFO de uma das maiores empresas de alimentos do mundo, a Mars, com tão pouca idade. Ele concedeu palestra no dia 11 de abril a uma plateia ávida para saber os detalhes de sua trajetória executiva, no encontro de mentoring promovido pelo IBEF Jovem.

De cara, Avelar iniciou seu relato alertando sobre a importância de saber discernir o peso que os cargos representam aos postulantes a carreiras de alto gabarito no mundo corporativo. “Eu ‘estou’ como CFO das Mars. Sempre uso ‘estou’ porque todos nós aqui trabalhamos no mundo corporativo e nele estamos sempre momentaneamente em algum lugar”, afirmou, referindo-se à natural transitoriedade que pode se fazer presente na trajetória dos executivos.

Dentro da Mars, sua atuação está na divisão de Pet Nutrition, divisão responsável pelas marcas Whiskas & Pedigree. Ele apresentou aos espectadores as atividades do grupo Mars, explicando os diferentes segmentos de negócios do grupo, além dos princípios que regem a companhia. ”A visão da família: ‘o mundo que queremos amanhã começa com a maneira como fazemos negócio hoje’, é levado a sério. O produto com o nome Mars está carregando o sobrenome da família e isso determina o alto nível de qualidade e padrão”, explicou, acrescentando que as áreas de negócios são tocadas por executivos profissionais do mercado.

A assertividade, a espontaneidade e a ousadia, fortes características do perfil de Avelar, marcaram o relato sobre a sua ascensão no mundo corporativo. Ele teve a seu favor o fato de iniciar a carreira bem cedo. “Comecei a trabalhar aos 17 anos como estagiário técnico, na Bosch. Após concluir o curso técnico em eletrônica no Colégio técnico da Unicamp, eu desenvolvia bombas de combustíveis, bobinas de ignição na empresa. Era outro mundo”, revelou.

Já cursando engenharia elétrica na Unicamp, aos 18 anos, Avelar ambicionava ter uma experiência no exterior para aprimorar o seu inglês, considerado então mediano por ele, para fazer a carreira decolar. Munido de cara e coragem, ele começou a desbravar mercados fora para alçar novos voos. “Iniciei pesquisas na intranet da empresa atrás de alguma vaga no exterior, mas era difícil. Não havia nenhum lugar centralizado de vagas na época na companhia. Fazia buscas por conta própria, achava o nome do gerente da empresa no organograma e mandava um e-mail perguntando por oportunidades. Eu me apresentava e explicava o que fazia no Brasil. Depois de ter enviado uns 50 e-mails, um executivo de uma empresa lá na Austrália respondeu”.

E foi pelo telefone que Avelar acertou com o executivo australiano a sua vaga na área de vendas e marketing da Bosch de Melbourne. “Como o meu inglês era bem ‘mais ou menos’, pensei que não havia conseguido. Saí bem devastado da entrevista. Só que o gerente responsável me ligou uns três dias depois, falando que havia gostado da minha experiência. Então, pedi demissão, mesmo sendo funcionário efetivado com registro CLT”, contou.

Antecipando-se às perguntas mais comuns sobre como conseguiu ascender tão rápido, Avelar ressaltou o mérito: “Muita gente vem me perguntar se tive alguma ajuda de conhecidos influentes ou indicações para começar a carreira, fato que nunca aconteceu. Minha mãe era dona de casa, meu pai funcionário público. Então não tive indicação alguma”.

Com um ano e três meses de experiência no exterior e inglês afinado, Avelar resolveu retornar ao Brasil mesmo com uma oportunidade de ficar na Austrália. “Foi uma experiência muito gratificante, mas optei em voltar e terminar o curso de engenharia na Unicamp que eu havia trancado. Já no Brasil, depois de alguns meses, a Bosch daqui me chamou novamente e voltei para a área de engenharia da empresa”, relatou.

Ele também destacou a importância de sempre deixar “as portas abertas” nos lugares em que se trabalha. A grande transição para o mundo de finanças na sua escalada no mundo corporativo, por exemplo, teve início quando um executivo de uma empresa de material elétrico, encontrou o seu perfil em um site de vagas. “Ele me achou em um momento no qual eu queria alguma coisa nova e estava atento ao mercado. Essa empresa precisava de alguém em um projeto para integrar finanças e vendas com o cliente. O trabalho se resumia em ir atrás de grandes empresas que atrasavam pagamentos devido a processos internos complicados”, descreveu.

Foi a oportunidade para Avelar colocar em prática o que aprendeu na área de vendas e marketing na Austrália. “Eu queria ir além da Engenharia, pois havia começado a cursar a faculdade de contabilidade paralelamente pela vontade que alimentava de entender mais profundamente de custos. Era um jeito de me aproximar da área financeira e eu iria para um outro ambiente. Queria viver essa dinâmica de empresa de dono. Aí pedi demissão da Bosch e comecei a fazer esse projeto que deu super certo, pois atingi a meta de redução de inadimplência”.

O executivo sublinhou que é necessário adaptar-se ao tipo de empresa na qual se vai trabalhar, independentemente desta ser familiar ou multinacional. “Muitas vezes a multinacional tem todo um protocolo, um jeito de se comportar que não serve na empresa familiar. Ao mesmo tempo, querer fazer do ‘seu jeito’ na multinacional poderá resultar em dar com a cara no muro. Eu gosto dos dois tipos”, afirmou.

E foi nessa empresa, com um total de 18 filiais espalhadas pelo País, que ele teve a chance de mostrar a que veio ao tocar um processo de venda para uma grande multinacional. “Me convidaram para ser o assessor financeiro no processo de venda, pois meu inglês era bom para a negociação do contrato e conhecimentos financeiros. Foi o projeto mais interessante que eu toquei na minha carreira. Eu mesmo fiz a conexão a área de tax e a contabilidade para montar Dataroom. Todos os auditores responsáveis pela due diligence perguntavam dados para mim, era um contrato complexo de aquisição, pois estavam comprando 25% da empresa. Eu me reunia com os advogados diariamente. Foi quase um ano de projeto até que, por fim, a empresa foi vendida”, destacou.
A competência profissional aliada à natural empatia e destreza de Avelar acabou o aproximando muito do CFO holandês que veio comandar o grupo ao ponto de ele promovê-lo a seu braço direito. “Deixei de ser de gerente de FP&A e passei a cuidar de contas a pagar e receber, tesouraria… Aprendi muito da parte técnica de fiscal e de contabilidade. Foi a minha escola, um período muito importante”.

Logo apareceu uma oportunidade na Elektro, que Avelar resolveu abraçar, pois incluía desafios como atuar em planejamento estratégico e na área de análise financeira de projetos. “Tinha bastante relacionamento com o presidente nas interações do dia a dia, pois era responsável pelo planejamento estratégico. Posteriormente, assumi a área de planejamento de mercado e compra de energia que fazia declaração nos leilões de energia”, relatou.

Seu próximo passo de carreira aconteceu de forma inesperada, quando, ao cursar um MBA, chamou a atenção de uma das colegas de classe, gerente de RH da Royal Canin, empresa do grupo Mars. “Ela atentou para o fato de que eu ia bem em finanças e me indagou: Gabriel, você não quer tentar uma vaga na Royal Canin, na Mars, participando do processo de seleção de CFO? Fui, passei e comecei a trabalhar na sede da empresa em São Paulo”.

Responsável pela parte de finanças, Avelar ressaltou que a empresa tem um tipo de administração batizado com o nome “Troika”, em que decisões importantes envolvem o presidente, direção de RH, e diretor financeiro. “É um formato ágil, bastante interessante”.

Com a saída do CFO da divisão de Pet Nutrition do grupo, Avelar foi convidado a assumir como CFO da maior divisão do grupo Mars no Brasil, desde maio de 2018, sendo responsável pelas áreas financeiras na sede da empresa em Campinas, sua cidade natal.

O currículo respeitável e a grande reputação no mercado não são motivos para Gabriel se acomodar na zona do conforto. Ele não esconde que já tem desenhado seus próximos passos. “Acredito que devo migrar para alguma área ainda mais próxima do negócio. Não sei em qual país, nem quando, mas essa é a minha direção. O meu end game é para ser presidente ou general manager”, almeja.
(Reportagem: Rosa Symanski)

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