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“País precisa continuar no caminho das reformas”, destaca Presidente do BC a executivos do IBEF-SP

No dia seguinte a uma onda de nervosismo nos mercados brasileiros, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, conversou sobre as perspectivas econômicas e política monetária do País com um grupo de executivos financeiros do IBEF-SP, a convite da Mercado Bitcoin, exchange brasileira de criptomoedas, patrocinadora do evento realizado em 8 de junho.

Os ativos brasileiros haviam passado por um grande momento de estresse no dia 7, em que o dólar registrou alta superior a 2% (aproximando-se de R$ 4,00) e o Ibovespa chegou a cair mais de 6%, com perda de quase 5 mil pontos. Para tentar apascentar os ânimos do mercado, o presidente do BC anunciou que a instituição ofertará mais de US$ 20 bilhões em swaps cambiais adicionais.

Ao dirigir-se aos ibefianos, o presidente do Banco Central enfatizou quatro pontos. Veja seguir:

1) Cenário externo dos últimos meses mudou, apresentando maior volatilidade. Goldfajn ressaltou que a normalização da taxa básica de juros em algumas economias, a exemplo dos Estados Unidos, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais com a realocação do portfólio de investidores, saindo de país emergentes em direção a nações mais avançadas.

Dentro desse contexto global, de mudança de portfolio, o dólar ganha força e as moedas de países emergentes sofrem com maior ou menor depreciação e a alteração no apetite ao risco por parte dos investidores, observou o presidente do BC.

2) O Banco Central tem atuado com intervenções para prover liquidez ao mercado, assim como o Tesouro Nacional, e o fará enquanto for necessário para suavizar os efeitos da volatilidade. Goldfajn ressaltou que o País tem reservas de US$ 380 bilhões – acima de 20% do PIB – o que permite ter um “seguro” contra a volatilidade da economia, nos momentos em que acontecem choques externos. Esse estoque alto possibilita ao BC oferecer um pouco dessas reservas para prover a liquidez e o hedge que o mercado precisa.

“Estamos usando os swaps cambiais, nosso seguro, e continuaremos utilizando ao longo desta semana e até o final da semana que vem com um pouco mais de afinco”, afirmou Goldfajn.

3) O Brasil tem fundamentos robustos. O presidente do BC destacou que o País realizou reformas importantes nos últimos dois anos – como a aprovação da PEC do teto dos gastos públicos, a aprovação da reforma trabalhista e a redução consistente nos níveis da taxa básica de juros e da inflação. Além de ações para redução de custos e ganho de eficiência do sistema financeiro previstas na agenda BC+, com destaque para a aprovação neste mês pela Câmara do Deputados do projeto de lei que cria a duplicata eletrônica (o texto segue para o Senado).

Goldfajn ressaltou, ainda, que a situação do balanço de pagamentos do País é confortável e o saldo comercial está positivo – com superávit acumulado de US$ 18,5 bilhões nos quatro primeiros meses de 2018. O déficit em transações correntes foi de 0,4% do PIB nos 12 meses encerrados em abril. E a entrada de recursos continua, com o saldo de investimentos diretos no patamar de 3% do PIB nesse período.

Outra variável destacada por Goldfajn é a inflação baixa, com posição de 2,86% no acumulado em 12 meses, abaixo da meta, mesmo em momentos de volatilidade. “Isso nos dá tranquilidade na política monetária”. Em resposta aos rumores do mercado sobre uma eventual elevação dos juros em função da volatilidade do dólar, o presidente do BC reforçou que não existe uma relação mecânica entre a política monetária e a política cambial. E que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), em 22 de maio último, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,5% considerou as condições de mercado, com foco nas projeções e expectativas de inflação e o seu balanço de riscos.

4) O País precisa continuar no caminho das reformas para manter a inflação baixa, a queda da taxa de juros e a recuperação sustentada da economia. Segundo Goldfajn, para que os ganhos recentes na política monetária se mantenham estáveis no médio e longo prazo, o Brasil precisa sinalizar ao mercado que fará as reformas principais e importantes para o ajuste fiscal do País – a exemplo da reforma da Previdência. “É isso o que nos vai dar a âncora necessária para seguirmos daqui para frente”.

Com relação às reformas do sistema financeiro, o presidente do BC destacou que é preciso fazer mudanças que gerem maior eficiência, redução de custos e aumento da cidadania financeira. Reforçou, ainda, que a autarquia está concentrada em todos os aspectos que afetam o custo médio do crédito. Como exemplo, citou projetos ligados a garantias eletrônicas e o do Cadastro Positivo.

Debate com executivos

O economista-chefe da Mercado Bitcoin, Luiz Calado, foi responsável por mediar as perguntas dos executivos presentes ao presidente do BC. Durante o momento do debate, Ilan Goldfajn respondeu questões sobre o que a autarquia tem feito para diminuir a concentração do mercado bancário, aumentar a concorrência e incentivar as fintechs – startups de serviços financeiros.

O presidente do BC enfatizou que as fintechs são muito importantes para o mercado financeiro, por trazer inovações tecnológicas e estimular a concorrência no ecossistema – o que é bem-vindo. Como exemplo de ações de incentivo, citou as resoluções do Conselho Monetário Nacional apresentadas em abril deste ano regulamentando o funcionamento das fintechs de crédito, e a criação do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) do Banco Central, um ambiente virtual colaborativo para incentivar projetos de pesquisa e inovação tecnológica na indústria financeira e nas atividades de supervisão e regulação exercidas pelo próprio BC.

Criptomoedas

Questionado sobre sua visão acerca das criptomoedas e de blockchain, o presidente do BC destacou que a autarquia está atenta a esse movimento, tem pesquisado bastante o tema e acredita que o blockchain trará mudanças positivas na sociedade. Inclusive, foi criado um grupo de trabalho no Laboratório de Inovação para estudar as vantagens da utilização do distributed ledger technology (DLT), a tecnologia do blockchain.

Eleições 2018

Com relação à corrida eleitoral deste ano, questionado por um executivo sobre sua disposição em permanecer à frente do BC, em um eventual governo do candidato à presidência Jair Messias Bolsonaro (PSL), Ilan Goldfajn respondeu que não comenta candidatos, propostas ou eleições. “O papel do BC é se manter neutro, apartidário. O que é relevante neste momento para ajudar na transição para o próximo governo”.

O Presidente do IBEF-SP, Marco Castro, agradeceu ao presidente do Banco Central pela participação no evento e destacou que as empresas buscam manter-se resilientes, nos diversos setores econômicos, neste momento desafiador.

Perspectiva positiva

O Banco Central brasileiro está bem alinhado aos outros BCs do mundo, que estão esperando a tecnologia das criptomoedas e do blockchain evoluir para depois pensar em regular, destaca Rodrigo Batista, fundador e chairman da Mercado Bitcoin, exchange de criptomoedas que conta hoje com quase 1,1 milhão de clientes cadastrados (PF e PJ) e movimentou 4,5 bilhões em 2017.

Gustavo Chamati, CEO da Mercado Bitcoin, destaca que Banco Centrais de vários países têm demonstrado interesse em estudar e aprimorar suas posições sobre criptomoeda e blockchain. ¨Como líderes de mercado, somos favoráveis à regulação desse setor, para que a tecnologia possa ser expandida a mais empresas. Temos participado dos debates públicos sobre o tema e estamos felizes com a perspectiva de aprimoramento dessa tecnologia no País¨.

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