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País precisa tomar antibiótico com água pura

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Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco*

 

IBEF SP: Você foi homenageado como um dos Destaques IBEF SP em 2014. O que enxerga para o cenário econômico de 2015?

Octavio de Barros: Nós temos uma mudança importante na política econômica. Acho que Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) darão demonstrações de coesão. Coesão é algo muito importante na política econômica, coisa que não ficou muito evidente nos três últimos anos por certa tensão, um conflito entre a ação do BC e a ação do Tesouro, em particular. Eu diria que nós tomamos antibiótico com whisky nesses últimos dois anos: o Banco Central dando antibiótico para combater a febre inflacionária e o Tesouro tomando whisky para acionar a atividade. Na verdade, precisamos tomar antibiótico com água pura para que possamos sair rapidamente do ajuste e conseguir fazer planos, olhar para frente.

IBEF SP: Há motivos para ser otimista em relação a 2015?

Barros: A minha visão é otimista porque acho que com Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini juntos, coesos, o Brasil pode pensar em uma agenda, construir uma plataforma para o desenvolvimento futuro. Não é uma questão do curto prazo, pois em 2015 cresceremos 0,5%. O crescimento será “meio” bom; poderia ser meio ruim, mas será meio bom. E será meio bom porque o Brasil vai construir uma plataforma para o crescimento futuro. Estou convencido disso.

IBEF SP: Quais seriam as bases dessa plataforma?

Barros: Essa plataforma transita pela recuperação das finanças públicas, a confiança dos agentes econômicos, a credibilidade da política econômica e uma agenda. O Brasil precisa de uma agenda de longo prazo baseada em produtividade. Acho que este é o grande desafio do país: obter ganhos de produtividade em todas as áreas, no setor público, no setor privado… É isso que permitirá ao Brasil crescer no futuro. Aquilo que foi o motor do crescimento nos últimos dez anos não está mais disponível. O consumo, a inclusão social, tudo isso foi um processo muito importante, muito positivo. Mas agora a inclusão social tem um crescimento marginal decrescente, assim como a inclusão bancária é decrescente. Nós tivemos um momento extraordinário que é datado historicamente, que não se reproduzirá no futuro.

IBEF SP: Então, qual será o novo motor para o crescimento?

Barros: O novo driver de crescimento do Brasil será fazer mais com o mesmo, o que significa aumento de produtividade e de eficiência. Então, é por isso que sou razoavelmente otimista, porque eu acredito que o Brasil vai incorporar de uma maneira mais sólida a agenda da produtividade como a agenda mais relevante para o país.

IBEF SP: Existem questionamentos se a nova equipe econômica teria autonomia de fato para fazer os ajustes necessários.

Barros: Sim, eu penso que sim. Autonomia não significa que a presidente poderá não concordar (com os ajustes). Eu acho que a presidente concordará porque o Brasil precisa recuperar a confiança dos agentes econômicos e devolver ao setor privado um papel protagonista nas concessões, na infraestrutura… Não é possível imaginar que nós não reconheceremos que tivemos problemas nessa área. Então, o convite a Joaquim Levy é emblemático nesse sentido, do reconhecimento de que precisamos de algumas correções de rota. O Brasil precisa fazer correções de rota e eu penso que elas serão feitas.

 

*Entrevista realizada em dezembro.

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