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A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) tem trazido grandes reflexões sobre como será o futuro dentro das empresas e na sociedade como um todo. Em Webinar promovido pelo IBEF Mulher no dia 29 de junho, Fernando Alves, sócio-presidente da PwC Brasil, abordou o tema da perspectiva para a retomada e como será o mundo após a crise. Maria José De Mula Cury, líder do IBEF Mulher e sócia da PwC Brasil, ressalta que o IBEF Mulher tem feito ainda uma série de entrevistas com profissionais do setor para que se possa acompanhar os impactos e as iniciativas dos executivos.
Magali Leite, Diretora Executiva de Finanças da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conduziu o bate-papo com o especialista e abordou temas como retomada; diversidade nas empresas; profissional do futuro; aprendizados com a crise; entre outros.
Antecipação de tendências – Segundo Fernando Alves, ao olhar a circunstância de pandemia e suas decorrências para o mundo, ele avalia que a crise acelerará algumas tendências. “A primeira coisa singular a essa crise é que ela é sincronizada, acontecendo praticamente no mundo inteiro, afetando tanto o lado da demanda quanto o da oferta”. Em sua visão, a crise vai acirrar uma tendência que já havia se manifestado no mundo, que é a assimetria. “Teremos consolidação de empresas, maior formação de oligopólio, e desaparecimento de algumas companhias. A riqueza também ficará mais concentrada, e os postos de trabalho serão afetados”, diz.
Outra dimensão da crise é a disrupção, aponta Alves. “Já vínhamos enfrentando a disrupção tecnológica, e ela se acentua pelas relações trazidas pela pandemia”. Além disso, ele acredita que haverá crescimento da consciência ambiental, pois o mundo está mais consciente da possibilidade de crises que extrapolam as anteriores. Segundo Alves, os governos descobriram que não estavam preparados para crises exponenciais, e todas as economias mundiais foram afetadas. Por isso, haverá maior atenção a questões que impactam o mundo todo.
Impacto – Diante dessas mudanças, a crise traz alguns impactos no comportamento, afetando cadeias globais. Alves pontua que haverá uma redução da mobilidade, decorrente de menor necessidade de viagens, por exemplo. “As pessoas vão viajar menos, e haverá menos migração”. Ele acredita que o mundo ficará mais polarizado, e o nacionalismo vai se exacerbar um pouco para ter mais independência. A confiança, na sua visão, também vai reduzir diante de um contexto de recessão. “O ser humano supera tudo, e vai superar essa crise, mas vamos demorar pelo menos um ano para nos recuperarmos”.
Em termos de retomada, Fernando Alves avalia que o Brasil viverá seis meses de recessão, mas o início do ano que vem também terá impactos da crise. Para ele, a recuperação do país será em U, ou seja, com uma retomada mais lenta.
Diversidade nas empresas – Mesmo diante desses impactos, a crise também acelerou a discussão de temas importantes dentro das empresas, como diversidade. Segundo Fernando Alves, hoje há mais perspectiva de se abordar essa questão nas companhias. “No caso do gênero, por si só há uma dimensão expressiva. Mas precisamos ver isso em todos os quadrantes”. Ele citou que a PwC faz ações para incentivar a diversidade dentro da companhia, e que isso ocorre sobretudo pela pressão das próprias mulheres, mas os homens também devem ficar à frente da inclusão de todas as diversidades, seja de gênero, etnia, LGBTQ+, ou outras.
Profissional do futuro – Outro tema que foi acelerado por conta da pandemia foi a transformação da força de trabalho, que migrará de um ambiente analógico para o digital. “Nessa transição, não estamos falando apenas de disponibilidade de ferramental tecnológico, e sim em mudanças na maneira de trabalhar. Isso é um desafio para qualquer gestor”, destaca Alves. Segundo ele, para se encaixar no perfil do profissional do futuro, é preciso introduzir soft skills, proficiência digital, sensibilidade à inclusão, diversidade, e mais humanidade. “O conjunto de experiência que trouxe os executivos até o ponto em que estão não os levará ao futuro se não agregarem outras características em seu perfil profissional”.
Segundo Alves, o mundo vai ficar mais sofisticado, mais integrado. Ele cita ainda que o propósito que levou as empresas até onde estão também não necessariamente será o suficiente. “Ter esse tipo de dimensão de raciocínio passa a ser vantagem competitiva”. Alves diz que 30% das profissões clássicas de hoje devem desaparecer ou serão profundamente impactadas pela tecnologia. “Isso não necessariamente é um problema. A máquina substitui o homem no processamento de dados, e não na tomada de decisão. Então, vamos ter maiores requisitos de performance naquilo que implica em exercício de julgamento do que propriamente na análise de dados”.
Por conta disso, a transformação da força de trabalho é um desafio para as organizações, e as empresas terão que formar esses novos profissionais. Alves destaca que diante dessa nova perspectivas, os consultores devem estar melhor aparelhados para ajudar o cliente a fazer a transição do mundo de hoje para o mundo de amanhã. “Como mudar a mão de obra, migrar para canais digitais, apoiar a diversidade, se preocupar com meio ambiente, etc.”, pontua.
Crise e aprendizado – “Uma coisa que a crise vai trazer é um aumento da humanidade”, diz Fernando Alves. Segundo ele, no Brasil, há maior consciência sobre desigualdade social, com empresas se mobilizando para ajudar a sociedade, e haverá um crescimento de solidariedade, cada vez mais presente, com um alargamento no sentido de cidadania. “Após o crescimento da polarização, veremos um contraponto: somos um modelo global, querendo ou não. Não podemos combater uma pandemia pensando localmente, e precisamos ter uma coalizão de forças internacionais”, destaca.
Transição de carreira – Fernando Alves, que está deixando a presidência da PwC, contou um pouco sobre esse momento de transição de carreira. A PwC possui uma regra sobre o número máximo de anos que alguém fica na presidência, e Alves já atingiu esse patamar. Durante o webinar, ele falou também sobre sua experiência à frente da companhia. “O grande aprendizado que eu tive foi o de engajar as pessoas, trabalhando com equipes. As melhores soluções sempre advêm do trabalho em grupo. Sempre me apoiei nas pessoas, em sócios aposentados, e o primeiro grande aprendizado foi se abrir para trabalhar em grupo”.
Ele diz ainda que liderar não é levar as pessoas para onde elas querem e sim para onde elas precisam. “Um certo exercício de influência é fundamental. Numa estrutura como a nossa, tudo acontece por força da influência, convencendo seus pares a trilharem um determinado caminho. E, para isso, é preciso olhar para frente para se preparar e enfrentar o que vem, antecipando tendências”. Alves ressalta que se abrir para as pessoas é uma atitude relevante na vida dos gestores.
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