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Perspectivas para PIB podem estar mais pessimistas do que a realidade, destaca economista do Itaú

Há muitas reportagens falando sobre uma catástrofe econômica neste início de ano. Mas na visão do VP de pesquisa econômica do Itaú, Pedro Renault, essas perspectivas podem estar muito carregadas para um dos lados. Inclusive, a projeção do banco é de leve alta para o PIB do Brasil neste 1º trimestre de 2021.

Renault foi o convidado da live “Panorama Macroeconômico Brasil”, realizada pelo IBEF Conecta Jovem, no dia 13 de abril. A condução do evento foi dividida pelos ibefianos Bruno Damasceno e Paula Camargo.

Criada na gestão 2021-2023 do Instituto, a iniciativa IBEF Conecta fez a integração do IBEF Mulher e o IBEF Jovem. A pasta é liderada pela vice-presidente Magali Leite.

Não há colapso econômico – “Da mesma forma que o colapso da economia em 2020 não foi tão grande quanto se antecipava, entendemos que o 1º trimestre deste ano não será negativo, como muita gente está falando devido à segunda onda (de COVID-19) e o fim do auxílio emergencial”, ressaltou Pedro Renault.

A projeção do banco é de crescimento de 0,5% do PIB para o 1º tri de 2021. Para o 2ºtri, espera-se contração de 0,5%, em função deste iniciar com uma base muito ruim, abril, um dos meses mais letais da pandemia. Em cenário de estabilização das internações, que começa a dar indícios incipientes nos dados de saúde dos estados, há possibilidade inclusive de revisão para cima.

Para o segundo semestre do ano, a expectativa é de crescimento sustentado da economia, resultando em um PIB de 3,8% para 2021.

Indicadores dão sinais – A projeção acima do consenso de mercado – que prevê alta do PIB em 3,1% –  pode parecer otimismo, mas é realismo, destaca Renault.

É o que aponta o IDAT – índice de atividade econômica diária, criado pelo Itaú, que reúne indicadores como consumo de energia na indústria, serviços e consumo de bens nos cartões de crédito e débito, com defasagem de cinco dias.

O índice, que tem forte correlação com as medidas de isolamento social, apresentou forte recuo em março, queda menor em abril e já iniciou um flerte com a estabilização.

Vacinas impulsionam normalização – O avanço da vacinação tem sido um grande impulsionador para a recuperação econômica no mundo. Segundo projeção do Itaú, o PIB global deve crescer 6,3% neste ano, com países como EUA (6,7%) e China (8,5%) na liderança.

É provável que o mundo esteja passando pelas últimas ondas letais de COVID-19, avaliou Renault.  Como visto em outros países, os casos de hospitalização começam a diminuir bastante quando pelo menos 40% da população acima de 60 anos já recebeu a imunização.

E o Brasil, ainda que em ritmo lento, segue nesse caminho: 12% da população já recebeu a primeira dose da vacina e 4% a segunda. Os dados de ocupação das UTIs nos estados, em abril, ainda permanecem altos, mas já se percebe na margem algum alívio ou relativa estabilidade. “No geral, as taxas estão começando a apresentar alguma queda”.

A projeção é que todas ou quase todas as pessoas acima de 60 anos sejam vacinadas em abril e todos os grupos de risco sejam cobertos em maio. Ainda existem riscos de curto prazo, como o atraso na chegada de insumos vindos da China ou de vacinas prontas da Índia, por exemplo.

Contudo, os riscos tendem a diminuir com o tempo, conforme a Fiocruz e o Instituto Butantan ganhem capacidade para produzir as vacinas sem a necessidade de importar insumos e que outros imunizantes como Pfizer e Moderna comecem a chegar o país.

Maior risco é o fiscal – Do ponto de vista econômico,o que mais preocupa é a dinâmica das contas públicas, alertou Renault.

Em 2020 o governo brasileiro apresentou déficit de 9,4%, justificável pela necessidade de se criar pontes para ajudar famílias e empresas a superarem a crise no curto prazo, como os programas de manutenção de empregos e o auxílio emergencial, que consumiu mais de R$ 300 bilhões. Isso levou a um aumento dos níveis da dívida bruta para 89% do PIB, o que colocou o país em uma situação mais complicada para a gestão.

Em 2021, medidas como a aprovação da PEC que renovou o auxílio emergencial em menor tamanho (R$ 44 bilhões) e aprovação dos gatilhos dos tetos que dão mais mecanismos para o governo controlar os gastos nos próximos anos, mostraram-se positivas no sentido de demonstrar o compromisso com a saúde fiscal.

Contudo, o ano também teve eventos que adicionaram camadas de risco ao Brasil:  o imbróglio para a aprovação do orçamento de 2021, com a possibilidade de criação de uma PEC para incluir gastos fora do teto, é o mais recente de alguns eventos políticos a serem acompanhados com atenção.

“Esse cenário vai minando um pouco o ambiente para reformas adicionais, como a administrativa, tributária, e privatizações”, observou o economista. “Também vemos no curtíssimo prazo uma pressão muito forte da pandemia, que é um desafio imenso. E com isso há a possibilidade de que o governo acabe renovando o que seria o estado de calamidade pública, cenário em que poderíamos voltar a ter um déficit semelhante a 2020”.

No médio prazo, a pressão por maiores gastos sociais pode levar o governo a deixar de lado a agenda de reformas e pressionar a já complicada situação de dívida pública. Tudo isso pode elevar o risco Brasil de forma mais duradoura, o que impacta diretamente a curva de juros e o câmbio, ressaltou Renault.

A projeção do Itaú é de taxa Selic a 5,50% e IPCA em 4,7% para 2021, e 5,50% e 3,6% em 2022. Já a perspectiva para o câmbio é dólar a R$ 5,30 em 2021 e R$ 5,50 no próximo ano.

Cenário internacional – Parte da pressão cambial vem do cenário externo. Ela tem como principal elemento os fortes pacotes de estímulos aprovados pelo governo americano, que devem acelerar a inflação e resultar na elevação de juros nos EUA a partir de 2023. No curto prazo, essa pressão parece ser parcialmente compensada pela força dos preços de commodities. No entanto, esse segundo fator parece ser temporário.

“Em 2021, temos a força das commodities e o aumento das exportações, que compensam em parte o início do de ganho de força do dólar. Mas a partir de 2022 e 2023, essa questão nos Estados Unidos deve dominar o cenário global, pressionando as curvas de juros e o câmbio, e gerando mais desafios para os países emergentes”, avaliou Renault.  

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