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Por enquanto, ainda uma promessa de uma eventual ponte para o futuro

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ECONOMIA

Octavio de Barros

 

Por Octavio de Barros, diretor e economista-chefe do Bradesco.

 

 

É notável a melhora da confiança dos agentes econômicos em relação à economia brasileira. Isso vale tanto para os players domésticos como para os investidores internacionais.

Do lado doméstico, os indicadores de confiança melhoram de forma generalizada mesmo em segmentos nos quais a realidade ainda se mostra muito negativa. A confiança do consumidor melhora, a despeito da piora da taxa de desemprego.

Até mesmo em um setor como construção civil, que atravessa um momento muito difícil, os indicadores de confiança melhoram. Isso vale igualmente para a indústria, para o comércio e para o setor de serviços. Essa melhora é amparada, sobretudo naquilo que podemos chamar de “uma promessa de futuro mais promissor” que, até aqui, dialoga relativamente pouco com a vida prática das empresas e das famílias que atravessam dificuldades nada triviais.

Da mesma forma, os investidores externos exibem uma maior confiança na economia brasileira que fica evidente na melhora significativa do risco-país, na apreciação do real (confiança aprecia câmbio), no fechamento das taxas de juros futuros etc. De forma semelhante, essa melhora da confiança se ampara em “uma promessa de futuro promissor” mesmo em um contexto em que nenhuma reforma foi ainda aprovada e as perspectivas fiscais no curto e médio prazos indicam alguma deterioração adicional. É o que se espera pelo menos até final de 2018, com a relação dívida como proporção do PIB ainda aumentando.

A impressão que se tem é de que há imensa paciência dos atores econômicos, que aceitaram acreditar na promessa de futuro embutida nas mensagens da área econômica

Ou seja, não há dúvidas de que toda essa melhora de confiança dos agentes econômicos tem como base uma leitura de que irão avançar as reformas da previdência, a do teto para o crescimento do gasto primário e todo um programa de concessões e privatizações. Tudo é ainda uma grande aposta. É bem verdade que as chances são bastante altas de que tenhamos avanços tangíveis do ponto de vista da aprovação no Congresso das medidas imprescindíveis para o País se reorganizar com mais disciplina e objetividade.

Parece claro que todo esse comportamento, um pouco menos precaucionário do consumidor e mais ousado dos empresários e dos investidores, baseia-se na reputação de uma equipe econômica capitaneada por Henrique Meirelles que conseguiu arregimentar um time de primeira grandeza tanto no Ministério da Fazenda como no Banco Central e mesmo em outras áreas do governo como bancos e empresas estatais.

Meirelles está longe de encarnar o personagem de “cavaleiro solitário” ou de “missionário cívico”, buscando heroicamente o convencimento de todos. Ele conseguiu construir uma espécie de “cidadela inexpugnável”, que não está sujeita a ingerências que retirem da equipe o foco dos objetivos maiores de recompor a atividade econômica em novas bases, que têm como pilares o princípio da restrição orçamentária e o da eficiência alocativa.

É como se a área econômica atual não pertencesse a esse ou àquele governo. Como se fosse um time que chegou para arrumar a casa, sem estigmas partidários. Acreditamos que essa seja a chave da compreensão e do reconhecimento do mercado e de segmentos da sociedade em relação ao trabalho até aqui proposto. Esse trabalho é baseado, por enquanto, em um bom diagnóstico e uma serena e ponderada narrativa de que é possível reconquistar a previsibilidade perdida. Mas isso só é viável com uma equipe gabaritada e treinada como a atual. Voluntarismos heroicos não resolvem o problema brasileiro.

Só mesmo um time de muita credibilidade e reputação conseguiria ampliar a confiança dos agentes econômicos diante dessa situação e das dificuldades presentes

A impressão que se tem é de que há imensa paciência dos atores econômicos, que aceitaram acreditar na promessa de futuro embutida nas mensagens da área econômica. Muito possivelmente, a tolerância e a paciência dos atores econômicos já teriam se esgotado, caso estivéssemos falando de outro perfil de equipe econômica propondo rigorosamente as mesmas medidas.

O caso emblemático é o do ajuste fiscal. Utilizando uma metáfora endocrinológica, estamos diante de uma situação na qual um cidadão com 100 quilos promete e se diz determinado a reduzir seu peso para 70 quilos. Porém, assegura que, antes disso, precisará engordar mais uns 30 quilos, indo a 130 quilos e, aí sim, na sequência, empreenderá todos os esforços para chegar a estáveis 70 quilos prometidos.

É precisamente o caso do ajuste fiscal em curso proposto pela equipe econômica que, corretamente, fez uma opção pela franqueza e por um ajuste intertemporal (como sempre defendemos nessa coluna) ainda que, no curto prazo, seja necessário explicitar um conjunto de esqueletos que estavam camuflados ou promover entendimentos duradouros com entes da federação com um custo de curto prazo inevitável. Só mesmo um time de muita credibilidade e reputação conseguiria ampliar a confiança dos agentes econômicos diante dessa situação e das dificuldades presentes.

Nesse mesmo contexto, o País conta com um novo time no Banco Central do Brasil comandado por um experiente economista e ex-diretor da instituição, Ilan Goldfjan. Esse time exibe uma profunda determinação com o cumprimento da meta de inflação.

Evidente que o Banco Central do Brasil tem perfeita clareza a respeito do patamar elevadíssimo de juros no País em diametral contraste com os juros nominais negativos nas economias maduras e sabe que, em algum momento breve, teremos o início de um ciclo importante de afrouxamento monetário.

As chances são altas de que o fiscal e o monetário vençam a batalha da inflação e, consequentemente, a dos juros

Da mesma forma, dificilmente o Bacen seria insensível às severas dificuldades que o mercado de crédito enfrenta no Brasil atualmente, com queda nominal do crédito bancário e uma deterioração das condições financeiras de importantes e numerosas empresas. Quando começar o afrouxamento monetário, as condições de recuperação das empresas serão facilitadas, sobretudo caso seja acompanhada de recuperação da atividade e mantida a atual janela de liquidez internacional para emissões corporativas com objetivos de alongamento de dívidas.

Mas, ao mesmo tempo, o Bacen entende que seria um imenso desperdício encerrar o ciclo recessivo no Brasil com a inflação projetada e com as expectativas acima do centro da meta de inflação. Afinal, o País está envolvido em uma estratégia de busca de soluções duradoras, sobretudo em matéria fiscal e de juros.

Não devemos nos iludir porque nunca teremos taxas de juros nominais e reais normais enquanto tivermos taxas de inflação altas e rígidas à baixa, devido à indexação generalizada de salários e contratos em geral.

Da mesma forma, enquanto o fiscal brasileiro continuar conspirando contra o monetário, não há Banco Central que resolva o problema da inflação fora da meta. Mas há uma promessa tacitamente aceita de que isso vai mudar.

As chances são altas de que o fiscal e o monetário vençam a batalha da inflação e, consequentemente, a dos juros. Mas, para isso, não será mais possível condicionar o ajuste macro a interesses outros como o de tentar fixar um piso para a taxa de câmbio (em nome de um modelo mais ou menos exportador) ou a manutenção de esquemas de proteção tributária ou aduaneira a grupos de pressão sempre com ótimos argumentos. Evidente que todos os pleitos são, em princípio, justos, mas se o País quer de fato virar a página da falta de disciplina e de rigor nos seus objetivos de longo prazo, não há como desprezar o imperativo do equilíbrio macro.

É certamente o custo do capital alto que se traduz no maior entrave da economia brasileira em vários planos, sobretudo o da competitividade

O País sempre encontra uma forma de interromper pela metade o seu ajuste macro. Parece-nos que está ao alcance da mão a oportunidade de que o País dispõe, dessa vez, de ir até o final do ajuste. Não consigo ver objetivo maior para o Brasil do que o de contar com taxas de juros substantivamente mais baixas do que as praticadas há décadas.

Mas não temos a menor chance de chegar lá enquanto não operarmos com patamares bem menores de inflação. É certamente o custo do capital alto que se traduz no maior entrave da economia brasileira em vários planos, sobretudo o da competitividade.

Uma vez vencida a batalha macro, não resta dúvida de que todas as agendas estratégicas de desenvolvimento serão viabilizadas com muito mais facilidade, assim como qualquer país normal. Ou seja, não é a taxa de câmbio de hoje que vai definir o nosso futuro. O câmbio será aquele que nos permitirá um equilíbrio macro com crescimento econômico sustentado e não um previamente estabelecido por esse ou aquele agente econômico com olhar de curto prazo.

Evidentemente que seria ótimo não convivermos duradouramente com um câmbio apreciado, por fatores que não temos tempo de tratar aqui, mas esse não pode ser o ponto de partida do ajuste macro. Os juros menores são a certeza de que o câmbio estará mais próximo do chamado patamar justo.

A confiança que tem que melhorar é a de todos, e não apenas desse ou daquele segmento da sociedade que tenha maior força de pressão. No momento em que a confiança for ampla, a ponte para o futuro deixará de ser uma mera promessa de futuro e começará a se tornar realidade. Hoje é uma bela aposta, mas ela precisa acontecer de fato.

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