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Quero morrer aos 100 anos em uma reunião de Board, diz CFO da Cacau Show


O executivo Arthur Azevedo foi o convidado do último dia 19 do programa de Mentoring do IBEF Jovem. O CFO da Cacau Show falou sobre os 29 anos de carreira, que inclui experiência nos Estados Unidos e na Itália. Ele também trouxe muito realismo ao contar os seus acertos, erros e aprendizados e se revelou um apaixonado pelo trabalho: “Quero morrer aos 100 anos em uma reunião de Board”, declara o executivo, que também ama correr e gostaria de ter o esporte como profissão.

Azevedo trabalhou na Arthur Andersen, no grupo Whirpool (onde atuou por 19 anos e chegou ao posto de Finance VP da Embraco) e trabalha há quase um ano como CFO da Cacau Show. Nascido em Belo Horizonte, o executivo é formado pela FUMEC-MG e conta com MBA pela Business School São Paulo.

Desejo de mudança – Após uma tentativa frustrada, ainda na época da faculdade, ele conseguiu entrar na Arthur Andersen, onde trabalhou como auditor e consultor. “Comecei meio perdido com aquele monte de papel na mesa. Mas a facilidade de relacionamento, ajudou-me a entender os negócios. Na verdade, eu acho que não tinha a menor cara de consultor e nem sei se tenho de CFO”, brinca o executivo.

Como consultor, Azevedo estava decidido a mudar de Minas Gerais para São Paulo. “Sabia que teria mais oportunidades. Porém, o custo de vida era mais alto e a conta não fecharia, mas decidi arriscar”. Ele foi fazer consultoria na Multibras sem conhecer bem o negócio da empresa e mal sabia que trabalharia na indústria de linha branca por quase duas décadas. “No final do projeto, comecei a planejar a minha carreira. Coloquei objetivo de ser diretor financeiro de uma multinacional líder de mercado”.
Relacionamento – Naquela época, ele jogava tênis com o gerente de custos e análise de negócios da Whirlpool, um argentino que queria retornar ao país e buscava um sucessor. “Ele fez a proposta de substituí-lo. Como eu já era consultor e adorava a companhia, eu topei. as circunstâncias foram favoráveis”.

Azevedo envolvia-se nas diferentes áreas da empresa e visitava as fábricas. “Isso traz mais aprendizado e é uma maneira de estreitar relacionamentos e ocupar espaços. Gostava de pegar aqueles projetos que estavam parados. Não podemos nos esconder do trabalho”, declara o CFO. Na sequência, havia um cargo aberto de gerente de planejamento e controle e se ofereceu para a posição. Apesar da tecnicidade, sabia que era importante para a carreira.

Muito dedicado e trabalhando até aos domingos, ele foi promovido à posição de Controller. “Foi um passo natural. Porém, o excesso de empenho prejudicou a minha vida pessoal e também o meu substituto, pois ainda fiquei muito focado no operacional. Depois fiz um deslocamento lateral e fui para a área de Tesouraria, uma especialidade que não tinha desenvolvido ainda. Após participar de um processo de fusão, surgiu a oportunidade de eu trabalhar nos Estados Unidos. Era um sonho. Eu queria ter feito high school, e depois, crescendo na carreira, nunca havia tido tempo para fazer um intercâmbio”.

Nos Estados Unidos, Azevedo ocupou o posto de diretor financeiro global (FP&A) e montou uma equipe. “Fornecia todas as análises de suporte ao CFO e ao CEO. Ficava sentado no chão com a papelada separada para dar suporte nos calls com investidores”, lembra Azevedo, ao mencionar que vivenciou a crise de 2008.

Diferença cultural – Depois, a empresa fez uma proposta para Azevedo ocupar uma posição na Itália. “Eu aceitei, mas relutei com a minha intuição. A cultura empresarial era diferente e tive dificuldade de adaptação. Eles são muito duros. Batem na mesa, xingam, mas acho que é mais teatral, pois depois tomam café juntos como se nada tivesse acontecido. Também acho que estava cansado e acabei botando a culpa nos italianos. Depois de quase um ano, eu pedi para voltar para o Brasil. Hoje eu me arrependo de não ter ficado mais tempo”.

Quando retornou ao Brasil, o executivo ocupou uma vaga na área de projetos da Whirpool antes de se tornar CFO da Embraco. “Se não tivesse passado pela experiência na Europa, eu não teria sido bem sucedido como CFO de uma empresa global. Para mim, a Europa é o mercado mais competitivo do mundo, pois todas as empresas querem estar lá, os profissionais são muito competentes. Já os americanos são focados na organização, mais objetivos e conversam menos, o que é bem diferente no Brasil. Acredito que os brasileiros não são menos sérios para trabalhar. Porém, somos menos produtivos”, reconhece.

Na volta ao País, o executivo conta que passou pela experiência de se sentir um pouco perdido e precisava entender o que estava acontecendo consigo. Nessa época, contou com o suporte de uma coach que apontou alguns erros de decisão. “Não havia deixado claro o que queria fazer e criei expectativas”, reconhece.

Depois de chegar ao posto de CFO, Azevedo disse que precisava aprender sobre a posição, mas também foi percebendo que a empresa estava diferente. “Senti que queriam uma pessoa mais forte, mas minha postura é mais focada em relacionamento. Foi quando negociei a minha saída e consegui a posição na Cacau Show”.

Com a mudança, o executivo percebeu que o trabalho em uma multinacional pode acabar sendo mais lento. Além disso, descobriu que a área de varejo demanda um ritmo mais acelerado. “No começo foi difícil, pois há relatórios diários. Porém, estou vivenciando um grande aprendizado”.

Conselhos – O CFO destaca que as mudanças o impulsionaram e a experiência fora do País rendeu aprendizados valiosos. “Trabalhar na Europa foi importante para eu começar a ouvir a minha voz interior”, declara o executivo. Ele ressalta que o profissional precisa aceitar o seu próprio perfil. “Não sou o cara que dá porrada na mesa. Hoje, em 2018, para ser CFO, não precisa ter esse tipo de atitude. O mercado melhorou muito. Antes era preciso usar terno, não poderia ter tatuagem ou fraquejar. Hoje, o mundo corporativo cobra menos nesses aspectos”.

Veja a seguir, alguns conselhos listados por Azevedo para os jovens executivos:
– É importante reconhecer os momentos em que é preciso dedicação e os que em que se pode diminuir o ritmo e ser mais estratégico;
– Na área financeira, não fuja da profundidade técnica;
– Relacionamento é a capacidade de construir parcerias dentro e fora da empresa;
– Não coloque a felicidade apenas na empresa. Trabalho é importante, mas não é tudo;
– Ache leveza e humor no ambiente de trabalho, pois é o lugar onde passamos muito tempo;
– Tenha paixão pelo que faz;
– Ocorrerão problemas. Persevere;

O executivo também ofereceu algumas dicas comportamentais para o dia a dia: Não responda na hora mensagens delicadas – respire e responda depois; E-mail não tem entonação – para assuntos espinhosos, converse; saiba pedir desculpas; assuma os erros e não enrole; tenha uma equipe diferente de você; cultive um olhar mais positivo; não terceirize as ocorrências, não o bote a culpa nos outros. E por fim, como bom financeiro: Poupe mais e gaste menos!

IBEF Jovem – O IBEF SP promove encontros de Mentoring, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da carreira, por meio do diálogo e do aconselhamento com líderes experientes. O IBEF Jovem é patrocinado pela plataforma Antecipa, que determina, por meio de algoritmos e análise de dados, a taxa de desconto da antecipação de recebíveis para cada transação, usando um mecanismo de leilão por meio de uma avaliação da oferta e demanda. www.antecipa.com
(Reportagem: Renata Passos)

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