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Setor de consumo continua forte, mas CFOs apresentam preocupação com rumo da economia em 2021

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O setor de consumo no Brasil tem apresentado boa recuperação após o primeiro impacto da pandemia, se mantendo estável diante de mudanças que ocorreram no perfil do consumidor e modelo de compras demandado, que passou a ser mais digital. Ainda assim, há uma preocupação se esse movimento de alta se manterá no próximo ano dependendo das decisões que o governo fará em relação à economia, já que esse resultado positivo é devido, principalmente, ao auxílio emergencial dado à população em um período de crise. O tema foi ressaltado em reunião da Diretoria Vogal, realizada em formato virtual, no dia 30 de outubro. 

O evento foi comandado por Luciana Medeiros, vice-presidente da diretoria executiva do IBEF SP, e contou com patrocínio da CTI Global e da Globalis. Francisco Loschiavo, managing partner da CTI Global, destacou que no início da pandemia, a prioridade das companhias era a gestão de fluxo de caixa, simulação de cenários, e há cerca de um mês, após o primeiro impacto, as principais preocupações dos CFOs nesse momento se mantiveram, acrescidas da criação de novas tecnologias para aumentar eficiência de FP&A. Loschiavo deu alguns exemplos de uso de ferramentas para utilização de ciência de dados, inteligência artificial para fazer uma análise preditiva sobre simulação de demanda, otimização de distribuição e de produção, além de previsão de custos, apresentando alguns cases. 

Reginaldo Albuquerque, CEO da Globalis, destacou que a companhia faz a gestão de despesa dos clientes e custos de viagens, ressaltando a importância da prestação de contas, que ajuda a organizar e integrar em uma única plataforma essa gestão, podendo organizar os custos das companhias. 

Rodada de setores – A rodada de setores incluiu principalmente uma visão sobre o segmento de consumo. José Filippo, CFO da Natura, destaca que o mercado da Ásia para a companhia continua forte, com destaque para o Japão, mas ainda há alguns países que estão passando por dificuldades, como Austrália e Nova Zelândia. Na América Latina, o varejo está indo bem, mas também há uma diferença entre os diversos países, além do fato das moedas estarem diferentes em termos de desvalorização. “Com relação aos canais de venda, os canais digitais continuam fortes, e há maior dificuldade em lojas físicas, especialmente em shopping centers”, diz Filippo.

No mesmo segmento de cosméticos, a Coty está mais presente em salões e perfumaria, o que impactou seu negócio com a pandemia. Segundo Breno Polli, CFO da empresa, a vantagem da Coty na retomada é ter um portfólio de mais valor do que premium, saindo de um segundo trimestre que foi um fechamento do ano fiscal mais complicado, para um terceiro trimestre crescendo em dois dígitos. “O suporte do governo na economia teve um papel importante para essa recuperação. Agora, temos a Black Friday e o Natal, mas com perspectiva de que o suporte do governo reduza, e isso abre uma atenção, com sinais de queda nas vendas. Estamos revisando o médio e longo prazo, e não sabemos como será a questão da demanda no primeiro semestre do próximo ano”, diz.

Bens de consumo – O período de mais incertezas com uma visão negativa e decisões com maior prudência para tentar defender o caixa na primeira fase da pandemia também passou pela Unilever, que atua no segmento de bens de consumo. Já na segunda fase da crise, começou uma preocupação sobre como lidar com a demanda, com Estados Unidos crescendo 15% e com as pessoas cada vez mais querendo consumir produtos de maior qualidade. Daniel Santos, CFO da Unilever, destaca que a demanda está desconfigurada em relação ao passado. “Há uma incerteza muito grande com relação a isso”. 

Ele ressalta as dificuldades com preço, explicando que há um estudo sobre dinâmica por canal e por consumidor para entender o comportamento do mercado daqui pra frente. “E-commerce será uma rota de mercado que deve sair ganhadora, e há uma preocupação sobre como essa cadeia de valor está”. Daniel reitera que ainda não se sabe como a economia vai reagir. “Como supply chain, nossa preocupação é ter agilidade”. 

E-commerce – Com uma adoção do digital acelerada, a penetração no e-commerce aumentou, alcançando 12% no Brasil, contra 5% antes da pandemia. Tiago Azevedo, CFO do Mercado Livre Brasil, destaca que a empresa teve um crescimento em todas as categorias de vendas, o que demonstra um impacto grande por uso, mas itens como casa e decoração e supermercados foram os principais que cresceram. “Lançamos nosso braço de varejo para fortalecer parte do nosso portfólio em moda e eletrônico, antecipando alguns planos”, diz.

Ele ressalta que a entrega de pacotes aumentou de 500 mil para mais de um milhão por dia, o que levou a companhia a acelerar seu centro de logística para dar conta desse volume. “Há muito investimento em logística de e-commerce, e uma consolidação do marketplace, com comércio eletrônico se desenhando com uma mistura entre varejo e marketplace“. Tiago pontua, contudo, as incertezas sobre os efeitos dessas mudanças. “Somos otimistas com relação ao fato de adicionamos milhões de usuários a nossa plataforma em poucos meses, e conforme a vida volta ao normal, isso deve reduzir, mas de fato houve uma mudança no hábito do usuário, e o canal online passa a fazer parte das escolhas de compra, o que deve seguir adiante”, destaca.

Com relação às fintechs, Tiago diz que há uma preocupação com liquidez no mercado para gerar dinheiro para os arranjos de pagamento. “Nossa carteira digital passou a ter um uso grande, o que ajuda no movimento de ampliação do acesso aos serviços de bancos e inclusão no sistema financeiro, o que é um movimento alinhado com nossa missão como empresa”. Ele destaca ainda que o uso de maquininhas sofreu impacto forte, mas como as empresas do Brasil não se fecharam totalmente, houve uma retomada, e o nível de vendas de máquinas de pagamento está crescendo. “Isso também demonstra, por outro lado, o aumento do varejo, e pessoas com perfil de empreendedor buscando novos negócios. No negócio de crédito, avaliamos que as taxas de inadimplência melhoraram, estamos fortalecendo essa oferta, mas há um cenário de incertezas com o começo do ano em relação ao auxílio emergencial”. 

Tecnologia – O movimento de digitalização forte dos brasileiros fez com que o setor de consumo tivesse a entrada de usuários que não viam apetite na tecnologia, mas foram de alguma forma forçados a utilizar, impulsionado a economia digital no consumo de varejo. Diego Barreto, CFO do iFood, avalia que isso foi uma mudança radical sob a ótica das empresas, que de maneira geral eram avessas à tecnologia. “O ambiente tecnológico ainda não é uma realidade. Quando olhamos as empresas, essa adoção foi massiva, com restaurantes ou supermercados que estavam acostumados a gerenciar no mundo físico e de um dia para o outro ficaram expostos ao modelo digital”, explica. 

A forma de gerenciar a logística também é nova para muitos empresários que não estavam acostumados com esse ambiente, diz Diego. “Vemos um movimento grande das empresas para o digital, mas elas têm dificuldade de compreensão de uma gestão que envolve meios digitais ou de infraestrutura. Isso promove uma empatia grande para entender quem são os entregadores, restaurantes, supermercados e consumidores”.

Ele destaca que os volumes digitais cresceram muito, o que significa que muita gente antecipou movimentos de consumo e de demanda que seriam vistos na Black Friday. “Isso pode impactar a gestão e manutenção de estoque, pois empresas optaram por liquidez”. Já as fintechs estão passando por um movimento que está na beira da disrupção. “É evidentemente claro que vamos passar por uma disrupção no sistema bancário. A lógica da conta digital é algo muito mais acessível para o brasileiro”, complementa. 

Soluções financeiras – As incertezas do rumo da economia se refletem também em quem atua com soluções financeiras. Silvano Boing, CFO da Global, destaca que quando começou a pandemia a empresa foi muito demandada pelos clientes, porém não se sabe como eles vão se comportar daqui para frente. “Olhando para inadimplência, existem empresas que estão em pleno consumo, enquanto outras estão mais impactadas, o que percebemos é que as empresas que estão investindo mais em e-commerce, se sobressaem”, diz. 

A Global investe em tecnologia para o segmento tanto de crédito quando de cobrança, atuando fortemente no digital e apostando no mercado de crédito. “Temos esse movimento forte. Apesar das incertezas, o ano de 2021 é visto com otimismo, com variáveis como posicionamento do governo e possibilidade de vacina”, complementa.

Considerações finais – Magali Leite, CFO da BP – A Beneficência Portuguesa, finalizou a rodada de setores da Diretoria Vogal do IBEF-SP destacando que a questão do auxílio emergencial é uma preocupação para todos por gerar um desequilíbrio fiscal ao país. “A agenda de reformas não evoluiu, temos eleições municipais que dão uma paralisada nessa agenda política, e agora temos uma segunda onda com lockdown na Europa, mas a expectativa é que no Brasil a vacina saia antes e não dê tempo da segunda onda afetar outras regiões, o que ainda é incerto”. 

Ela diz que a evolução digital, com migração para plataformas de pagamento, varejo digital, e a adesão de usuários a plataformas digitais de maneira acelerada são pontos positivos desse processo, ressaltando a mudança de perfil das empresas tecnológicas e a alteração de usuários com um perfil diferente. “A disrupção que o mercado de fintechs está trazendo, com o processo de digitalização e a inclusão de um potencial cliente desassistido, é um serviço que permite uma personalização de produto. O serviço bancário digital é um caminho sem volta”. Magali reforça que, apesar das incertezas com o cenário para 2021, a perspectiva é positiva.

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