Getting your Trinity Audio player ready...
|
Por De São Paulo
A inflação tem se mostrado mais dispersa pela economia, mas as altas não chegam ao ponto de indicar uma tendência de disparada de preços, segundo economistas consultados pelo Valor. Em agosto, a quantidade de produtos e serviços que sofreu aumento foi a maior do ano e, embora os economistas não esperem uma mudança significativa neste cenário até o fim do ano, o comportamento dos reajustes, dizem eles, não sinaliza um agravamento do quadro inflacionário.
Em agosto, 65,5% dos itens medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estavam mais caros que em julho, percentual superior aos 61,1% de itens que subiram na comparação com junho, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados de setembro do IPCA, que serão divulgados hoje, não devem se distanciar muito do que se viu em agosto, de acordo com o economista da LCA Consultores, Fabio Romão.
“Temos alguns focos importantes de pressão sobre a inflação, como carnes e aves, além do fato de que, com o reaquecimento da economia, alguns comerciantes podem se sentir estimulados a reajustar os preços de duráveis, que vinham se mantendo em queda.”
Apesar do avanço do índice de difusão – que mede o quanto a inflação está espalhada pela economia – a quantidade de itens que tiveram aumento superior a 5% foi menor em agosto (5,5%) que em julho (9,8%). Em ambos os meses, mais da metade dos reajustes não ultrapassou 1%, o que, para o presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP), Keyler Carvalho Rocha, mostra que o aumento da inflação está baseado em alguns produtos, que podem ceder em breve.
“Não faz sentido altas consecutivas de mais de 10% ao mês. É natural que os produtos que subiram demais em um mês caiam nos meses seguintes. Isso deve acontecer com os alimentos, por exemplo.”
O choque nos preços dos grãos, gerado pela seca que atingiu os EUA e quebrou as safras de milho e soja, começou a afetar o varejo em agosto, promovendo aumentos principalmente em carnes e aves. Esse fator, juntamente com as elevações típicas dessa época do ano, deve fazer com que o pico de alta nos preços dos alimentos seja atingido em setembro, estima Thiago Curado, da Tendências Consultoria. “Mas, a partir de outubro, as altas devem ser menos intensas e isso ajudará a aliviar o IPCA”, afirma.
Os economistas costumam ressaltar que em meses de aumento de preços de alimentos a difusão tende a se acentuar, devido ao grande número de itens que compõem o grupo alimentação. Foi isso o que aconteceu em agosto, quando os alimentos subiram 0,88% e responderam por metade da alta de 0,41% do IPCA. Mas, ao se retirar os alimentos do cálculo da difusão, a inflação se mostra ainda mais espraiada pela economia. Nessa base, os aumentos teriam atingido 67,3% dos itens do IPCA em agosto, ante 64% em julho, de acordo com levantamento feito pela LCA, a pedido do Valor.
Esse fenômeno, explica Romão, se deve a um “efeito estatístico”. “Alguns produtos que vinham caindo por conta da redução do IPI, por exemplo, estão se ajustando. Esses aumentos entram na conta de difusão, ainda que os preços continuem abaixo dos que eram praticados antes da medida entrar em vigor.”
Outro fator que contribui para a dispersão em patamar elevado, segundo Romão, é a persistente inflação de serviços. Embora ela venha desacelerando – nos 12 meses encerrados em agosto estava em 8,8%, após fechar 2011 em 9,70%, e a expectativa da LCA é que em 2012 acumule alta de 8,40% – ainda encontra-se bastante acima do IPCA, que acumulou elevação de 5,24% nos 12 meses até agosto.
Celso Grisi, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), lembra que neste ano o governo se mostrou decidido a evitar a valorização do real frente ao dólar, que no passado ajudou a minimizar as pressões inflacionárias. “Quando o impacto da alta dos alimentos passar, veremos uma substituição, com os itens mais ligados ao reaquecimento da economia puxando a inflação.”
Apesar de não vislumbrar um cenário de descontrole inflacionário, Grisi demonstra certa preocupação com os aumentos de preços, porque entende que a ampliação da oferta está sempre atrasada em relação à demanda.
Olhando para os dados do ano, é possível perceber onde estão os focos de pressão inflacionária. Oito itens respondem por metade da alta de 3,18% acumulada pelo IPCA entre janeiro e agosto, sendo que apenas três deles se relacionam a alimentação: tomate, que subiu 76,47% de janeiro a agosto, devidos ao excesso de chuvas, refeição e lanche, que tiveram reajustes mais modestos, de 5,33% e 6,97% no período, mas apresentam maior relevância na composição do índice. O item que mais impulsionou o IPCA nos oito primeiros meses de 2012 foi empregado doméstico, que teve reajuste de 9,91% no período, refletindo o aumento de 14% no salário mínimo neste ano. (FL)
Veículo: valor.com.br