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Supply chain finance e o uso da tecnologia como guidance para negócio dentro das tesourarias

Supply chain finance e o uso da tecnologia como guidance para negócio dentro das tesourarias

A Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do IBEF-SP recebeu, em sua reunião de maio, Bernardo Vale, CSO & Partner da Monkey Exchange, empresa de tecnologia que atua no mercado de financiamento da cadeia de suprimentos (supply chain finance) há três anos. O conceito de supply chain finance foca na gestão dos fluxos financeiros na cadeia de suprimentos para fins como: obtenção de recursos, diminuição da necessidade de capital de giro, redução de custos de acesso ao crédito, entre outros.

Durante a reunião, Vale falou sobre como as tesourarias têm usufruído da tecnologia como guidance para novos negócios, gerando melhor alocação de caixa e tomada de recursos.

O executivo destacou dois principais pilares que sustentam esse movimento. Primeiro, a taxa de juros, que está em queda. “Companhias com grande geração de caixa começam a discutir aplicação financeira. Temos visto tesourarias, principalmente fora do Brasil, que operam num cenário de juros pior e começam a se mexer para ter uma geração maior de caixa. Um exemplo é o Airbnb, que montou um hedge fund para trazer melhor rentabilidade ao caixa da empresa ao fazer seu IPO (oferta pública de ações)”.

Outro pilar que fomentou a entrada de tecnologia na tesouraria foi competitividade. “No contexto do setor de fintechs e startups, um estudo do Gartner mostra que, com o advento do cenário de cloud computing, é 77% mais barato fazer operações em nuvem do que fazer on-premise. Isso abriu a porteira para novos entrantes, pois ficou mais barato empreender em tecnologia”.

Seleção natural do mercado – Vale apresentou dados do Radar Fintech Lab que mostram o crescimento, de 2017 a 2018, de mais de 200 startups que estão basicamente atendendo o mercado financeiro. Ele ressaltou que isso é fruto da regulação mais flexível, custo de entrada mais baixo e investidores entrando forte no Brasil. “As companhias tradicionais estão tentando se aproximar do mercado de tecnologia para trazer mais eficiência operacional”, notou o executivo.

Ele citou como exemplo a Bloomberg, que revolucionou o setor, criando um ambiente de competição onde as companhias sobem a necessidade de compra de moeda, recebem a cotação e fazem as contratações online por intermédio da Bloomberg, sem precisar tratar diretamente com cada banco. “Se bem trabalhada, a tecnologia vem auxiliar nas operações das tesourarias”.

Supply Chain Finance – Vale apresentou também casos práticos de supply chain finance, que está sendo muito utilizado nas tesourarias e fortemente exposto à disrupção. O produto é tratado de forma diferente no setor de tecnologia pelo tamanho do mercado disponível (addressable market). Segundo o executivo, dados do Banco Central mostram que R$ 600 bilhões foram produzidos em duplicatas em 2017 no Brasil, e a previsão é que o volume chegue a R$ 1,9 trilhão em 2025. No mundo, são produzidos US$ 2 trilhões.

O executivo da Monkey Exchange destacou que o mercado brasileiro de supply chain finance seguiu caminhos díspares e que hoje lida com assimetria de preço. Vale citou como exemplo uma empresa, cujo nome não foi divulgado, que paga o fornecedor em 150 dias e desconta o risco a 4% ao mês. “Nesse caso, se o pequeno fornecedor não estiver bem estruturado, vai por água abaixo. Não ter uma relação perene com o integrador pode significar parar a operação 100%”.

Vale citou a experiência do fornecedor para fazer a operação de risco sacado. “Conversamos com todos os bancos do mercado e percebemos que há uma dicotomia grande. Companhias com 14 mil fornecedores na base, ao irem no banco com programa de risco sacado precisavam de uma documentação e informações que não são compatíveis com pequenos fornecedores. Essa empresa vai recorrer ao FIDC ou factoring”.

Um estudo global da McKinsey & Company sobre produto de supply chain finance mostra que no período de 2005 a 2015, as fintechs tomaram 10% do mercado do produto dos bancos. Segundo Vale, com o advento da tecnologia, dinheiro é commodity. “O turning point é como você consegue levar dinheiro barato a essa cadeia”.

Histórico da Monkey – Vale compartilhou a história dos fundadores da Monkey Exchange, que saíram do segmento bancário e migraram para o mercado de tecnologia ao constatar que o dinheiro existia, mas o que faltava era a eficiência. “O conceito do negócio foi montar um marketplace de funding, plugando os bancos em uma dinâmica de leilão reverso”. O CSO da Monkey Exchange ressaltou que quando a operação da companhia iniciou no Brasil, os quatro principais bancos locais foram contatados, e ao notar alguma resistência, foi buscar pelos quatro maiores bancos internacionais. “Hoje, quase todos os bancos participam do nosso programa”.

Em seguida, ele explicou detalhes do mercado e do programa de risco sacado, performado e não performado, e ressaltou que o produto depende depende da natureza da companhia. “Ele é plural, pode ser direcionado para a natureza do seu negócio”. Mas alerta: “não conheço nenhum programa de risco sacado que deu certo sem que o time de compras estivesse completamente alinhado”, ressaltou.

Bernardo Vale explicou ainda que a Monkey Exchange criou uma calculadora com a qual o responsável pelo supply consegue negociar uma taxa de acordo com determinado alongamento do prazo. Além disso, o produto da empresa permite que o fornecedor, ao aderir ao programa, assine uma única vez o contrato e autorize o banco que todo recebível que performar deve descontar rapidamente. “É uma medida importante para ganhar escala”.

Ele citou o case da Taulia, empresa de tecnologia financeira e uma das primeiras que viu a oportunidade de levar tecnologia para o mercado de supply chain finance. Fundada em 2009 nos Estados Unidos, a empresa já teve mais de US$ 1 trilhão de volume de desconto em sete anos. “As grandes empresas aderiram em função da eficiência do acesso ao mercado. Esse produto vira 100% serviço”. Segundo ele, o problema não é dinheiro. A diferença está no serviço, em como levar o funding à base de fornecedores.

Por fim,  a ferramenta pode criar indicadores para detectar eventuais dificuldades dos fornecedores, o que pode virar estratégia para se antecipar ao risco.

 

 

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