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A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) fez com que muitas empresas acelerassem seus processos de digitalização, bem como cuidassem mais de seus colaboradores, que rapidamente tiveram que se adaptar a um regime de trabalho remoto. Esse é um legado que deve permanecer no momento de retomada, com preocupação e cuidados crescentes com tecnologia e pessoas. O tema foi discutido durante o webinar “Perspectivas para a recuperação dos negócios” promovido no dia 11 de setembro pelo IBEF Mulher. Maria José de Mula Cury, VP do IBEF Mulher e sócia da PWC, esteve presente no evento, que foi moderado por Ana Paula Zamper, VP da Systems Hardware América Latina na IBM e teve a participação de Charles Krieck, presidente da KPMG Brasil e América do Sul.
Ana Paula Zamper destaca que a pandemia atingiu a todos igualmente, impactando os pilares sociais, econômicos e ambientais. Diante disso, Charles Krieck acredita que é difícil prever o futuro, e quando a pandemia começou, o ponto de inflexão foi no início de março, quando houve o isolamento social sem tempo para planejamento. “O desafio foi colocar tanta gente em isolamento e se adaptar tão rápido com insegurança, medo de ficar sem caixa, receio sobre o futuro e preocupação em termos de saúde”, pontua.
Ainda assim, Krieck destaca que o grande aprendizado está nos legados. “Quando você atua em um ambiente com relações de ganha-ganha, você colhe frutos”, diz, citando a possibilidade de conversas com fornecedores e tentativas de amenizar impactos diante da correria das decisões como reflexo de algo que foi construído ao longo do tempo nas empresas. “Montar um time central de governança, de comunicação, olhar para a estrutura física e de TI de forma abrangente e genuinamente cuidar de pessoas são o alicerce para a próxima etapa, que é de recuperação”, destaca.
Krieck acredita que será possível sair da crise melhor, e isso já é demonstrado na atualização dos números da economia, que prevê uma queda do PIB menor do que a projetada inicialmente. Para ele, os auxílios do governo ajudaram a injetar capital na economia. “Olhando para frente, eu vejo que nunca mais seremos como fomos antes, e sou otimista com a perspectiva de recuperação”.
Digitalização e humanização – Krieck pontua que a pandemia trouxe os problemas para a superfície e acelerou processos que andavam devagar e precisavam de profundidade maior, como uso de tecnologia, inteligência artificial, digitalização, etc. Ele destaca ainda os efeitos dessas mudanças, que estão pautadas no comportamento do consumidor. “Infraestrutura, tecnologia e manutenção de cultura empresarial estão dentro dessa nova forma de olhar para o mercado”. Segundo ele, o cenário digital deve mudar ainda mais, e quem vai fazer diferença no mercado será quem tiver um bom atendimento, mesmo no digital, facilitando, inclusive, o pós-venda. “Os recursos sempre são direcionados ao que é importante, e tecnologia está no topo dessa lista” complementou.
Krieck reforça que a tecnologia é fundamental, mas não consegue prosperar sem o ser humano. “Pessoas precisam entender que não é possível pensar em tecnologia sem pensar em pessoas. Temos muita tecnologia disponível e dificuldades, mas o que precisamos é de alguém que entende do negócio, do modelo e da transformação. E o contrário também, não adianta ter pessoas com muitas ideias sem os meios para implantar”, complementa.
Além da técnica, Krieck acredita que é importante os colaboradores terem outras habilidades, e dentro das empresas será cada vez mais necessário valorizar seus pares e ser um articulador. “As coisas acontecem por um motivo. Por isso, o profissional do futuro precisa estar mais antenado, ativo, ser mais eclético, trabalhando em equipe, com ecossistema e alianças, porque esse é o futuro”. Segundo ele, as empresas também podem prover meios para que as pessoas desenvolvam habilidades e sejam mais coordenadoras.
Diversidade – Na visão de Krieck, sem diversidade não é possível ter times produzindo de forma máxima. “A multidisciplinaridade só se alcança quando se tem pessoas com experiências diferentes, profissionais e de vida, e isso inclui todos o representantes da sociedade em termos de raça, gênero, geração, etc. Mas precisa estar no dia a dia da empresa”, destaca. Charles Krieck é responsável pelo comitê de diversidade da KPMG. “Tenho orgulho da nossa jornada de inclusão. Há 10 anos, 7% da liderança da KPMG era feminina, e hoje temos 18%. É um desafio, e a companhia, como instituição, deve prover todos os caminhos possíveis para que esse processo de transição seja de sucesso”.
Ele ressalta o lado das pessoas, que precisam trabalhar isso todo dia, inclusive no ambiente familiar. Ana Paula destaca ainda que o tema é um desafio, mas também uma grande oportunidade. “Temos discutido o papel das empresas de incluir esse tema na agenda, além de ter pessoas para se inspirar, e as mulheres também se posicionarem a favor dessa mudança, trabalhando suas soft e hard skills”.
Papel do líder – Se tornar CEO requer uma autoavaliação, segundo Krieck, e o indivíduo precisa saber se ele quer e se é capaz de exercer esse papel. “Eu fiz uma autoanálise e vi que tinha atributos e também potencial para aprender”, destaca. Segundo ele, é importante poder contar com mentores e pessoas de diversas gerações para ajudar no dia a dia. “O CEO não precisa ser solitário em termos de execução, e sim ter o apoio de pessoas internas e externas que podem indicar a melhor solução a ser tomada”.
Krieck diz ainda que o papel do líder pós-pandemia continua o mesmo de antes. “Uma das preocupações que tivemos desde o início na KPMG foi a de levar uma previsibilidade quanto ao futuro, e só é possível fazer isso com transparência. O papel do líder é dizer o que está acontecendo forma genuína. É preciso ter muito cuidado com a informação e não falar uma coisa e fazer outra”.
Diante desse desafio, os líderes precisam se preparar para a retomada, que deve ocorrer no final de 2021, na visão de Krieck. “Para chegar nos patamares do início do ano, pré-pandemia, dependemos do último trimestre. Se for bom, a gente tem chance, no final de 2021, de recuperar este ano”. Ele reforça ainda que os planos de retorno das empresas precisam ter foco nas pessoas. “Criamos um plano para quem precisa, com base em pesquisa com nossos colaboradores, e nossa decisão deve ser certa de acordo com nossas circunstâncias”, destaca.