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Robotização dita novos rumos na tesouraria das empresas
Longe da ideia de robôs assemelhados ao homem dos filmes de ficção, cada dia mais a presença de aplicações inteligentes como programas robôs, sistemas embarcados para coleta de dados em tempo real, internet das coisas (IoT) e inteligência artificial ganham espaço no cotidiano das empresas para a execução de tarefas repetitivas e recorrentes.
Essa nova fase de inovação, que consiste em dotar equipamentos com tecnologia para entregar soluções para problemas corriqueiros e antever dificuldades operacionais, substituindo o trabalho manual feito pelo homem, foi o tema discutido pela Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do Ibef, liderada por Camila Abel Correia da Silva, diretora de tesouraria e gestão de riscos da AES Tietê, no último dia 16.
A evidência dessa nova etapa de desenvolvimento nas finanças reuniu executivos dos setores de aviação, saneamento, bem estar e saúde, consultoria, bancário, tecnologia da informação e de serviços de credenciamento. A oportunidade de trocar experiências sobre o que tem sido feito nos processos de tesouraria desses setores, entre outros abordados, teve como ponto de partida a apresentação do “Futuro das Finanças: Novas Tecnologias ou Novas Pessoas?” por Hudson Oliveira, gerente do setor de Advisory da EY (Ernst Young).
As soluções de RPA (Robotic Process Automation) apontam para o ganho financeiro, de produtividade e eficiência e estão endereçadas a diferentes operações numa tesouraria, desde a digitalização de notas fiscais e a administração do fluxo de caixa às contas a pagar e receber e à aplicação de recursos financeiros. “Os processos candidatos à robotização mais frequentes são os de conciliação, alocação de caixa, análise de solicitação ou concessão de crédito, de pedidos bloqueados, cadastro de clientes e de contratos e projeção de caixa”, relata Oliveira.
Segundo o especialista da EY, a robotização tem se mostrado uma opção eficaz para alcançar precisão, consistência e confiabilidade nos processos administrativos, isso tudo com independência geográfica, já que as atividades podem ser feitas de maneira descentralizada. “O robô é um passo seguinte para empresas com cultura digital e processos maduros. Aliado à função cognitiva, ele pode tomar decisões baseadas em regras ou comportamentos”, explica o gerente de Advisory.
A interface humana x bot
O ponto-chave do debate – As pessoas estão preparadas para deixar o robô tomar decisões? –, apoiado em experiências de aplicação da tecnologia, trouxe uma provocação aos participantes ao relacionar as barreiras para o uso dos bots. A constatação foi de que os gargalos não estão ligados à inovação tecnológica, mas às pessoas e à cultura organizacional da empresa.
“O robô estrutura dados, trabalha com informação de massa, gera posições de caixa diariamente, pode mandar para as centrais envolvidas em aprovações o que precisa ser validado, oferece relatórios, cotações, padroniza processos, auxilia na previsibilidade do caixa, simplifica a conciliação, melhora o compliance, mas a programação não resolve nada sozinha se o requisito (a definição do que quer que seja feito e qual resultado quer alcançar) for falho”, sentencia o gerente de Advisory da EY.
A nova trilha perseguida pelas empresas advém da preocupação de garantir o retorno do investimento realizado, uma vez que para casos de soluções mais complexas, desenvolvidas por uma quantidade menor de pessoas, o grau de maturidade digital do mercado brasileiro ainda está pouco evoluído.
O uso intensivo da tecnologia como parte do mecanismo de gestão nas tesourarias tem também outro fator determinante: nessa área predominam os procedimentos e há forte regulação, o que interfere nas regras que programas robôs precisam executar.
Nesse sentido, fica clara a necessidade de capital humano com competências estratégicas, para monitorar o robô, dar a ele o input correto e fazer a análise crítica do output gerado pela automação.
Para a líder da Comissão Técnica do Ibef, Camila Abel, a tesouraria não pode renunciar ao avanço tecnológico, mas para ganhar eficiência e abreviar o esforço que os processos do setor demandam, sem aumentar o risco, a empresa precisa ter políticas claras de segurança e governança, além de um programa de aperfeiçoamento de aprendizados com projetos-piloto. “As tecnologias que substituem a interface humana, como a RPA, autônomas, têm que atender regras de governança, principalmente ao lidar com informações sensíveis, prevendo, inclusive, uma política de privacidade aderente à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados)”, alerta.
As reuniões da Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do Ibef são realizadas mensalmente e o calendário de atividades está disponível no site do Instituto.