Os economistas-chefes Carlos Kawall, do Banco Safra, e Octávio de Barros, do Bradesco, foram convidados a discutir as perspectivas para o cenário brasileiro e mundial na oitava edição do CFO Forum IBM IBEF-SP. O evento, exclusivo para convidados da IBM, foi realizado neste fim de semana, em Itatiba, São Paulo. O painel foi mediado por José Cláudio Securato, presidente da Diretoria Executiva do IBEF-SP.
Traçando um paralelo às avessas com as Olimpíadas, Barros qualificou o cenário econômico mundial de acordo com as chances de medalhas, elegendo as categorias: estagnação secular, novo medíocre, economias encalhadas e mundo sem locomotiva. Segundo ele, todos estariam sentindo a desaceleração econômica, com queda na produtividade em nações ricas e com a União Européia vivendo à base de anabolizantes (subsídios). “Todos os modelos de negócios estão de pernas para o ar”, afirmou categoricamente.
Na visão de Barros, no Brasil, os pecados originais – conosco há cinco, seis décadas – seriam a falta de disciplina orçamentária do governo, de eficiência alocativa, a tolerância à inflação alta, o protecionismo e a legislação trabalhista defasada.
Janela de tolerância – Para Kawall, a queda sem precedentes do PIB pegou o setor privado no contrapé, com endividamento alto. O economista deu detalhes do estudo do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) com base em 650 empresas – excluindo Petrobrás -, que revelou que mais de 50% delas não geram cash flow suficiente para pagamento da dívida.
Kawall também qualificou a situação do setor público como dramática, no que toca os gastos do governo. “Se isso não for revertido com teto para o gasto público, em 2018 a crise será ainda mais aguda”, sentenciou. “A nossa crise só não é uma tempestade perfeita, porque lá fora ainda existe uma janela de tolerância”, referindo-se à liquidez internacional. Para Kawall, é preciso ter alguma radicalidade para conter o gasto do governo.
Recuperação da economia – De modo otimista, Barros acredita que o investimento sai na frente para a recuperação da economia, com a confiança aumentando. O economista-chefe do Bradesco prevê um PIB de 1,5 % para 2016 e 3 % para 2017, câmbio a R$ 3,20 este ano e Selic a 10,25% ano que vem. Para Kawall, em 2017, PIB chega a 0,5 % e só em 2018 alcança os 3 %. Para o próximo ano, a Selic estimada é de 10 % e as previsões para o câmbio são coincidentes na opinião dos dois economistas. “Todo ano tem sido pior que o anterior. Isso não vai acontecer em 2017”, ponderou Kawall. Segundo ele, a área de negócios do Safra está aquecida. Barros, por sua vez, antecipou o investimento do Bradesco em um banco digital, para alcançar jovens de 17 a 35 anos.
A recomendação de Kawall para os CFOs e demais executivos de finanças é de trabalhar com cenário conservador, dado que os riscos estão muito elevados. “Este não é o momento de tomar decisões ousadas.” O economista ressaltou, no entanto, existirem oportunidades, como as de fusões de companhias e a venda de segmentos que não são o core da empresa, como meios de melhorar o balanço e diminuir o endividamento. “Se não é o momento de apostas em investimentos, há oportunidades para ganhar market share.”
Para Barros, é hora de manter uma visão estratégica de médio e longo prazos, identificando oportunidades com cautela, ainda que a confiança esteja aumentando.
(Reportagem: Natália Fontão / Fotos: Mario Palhares e Fábio Hosoi)