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João Paulo Faria foi o convidado do encontro de mentoring realizado pelo IBEF Jovem na última quarta-feira (21). O executivo falou sobre a sua trajetória profissional e narrou suas experiências nas empresas Arthur Andersen, Ericsson e, principalmente, na Microsoft, onde está há quase 17 anos e já atuou nos Estados Unidos e no Chile, nesse último também como CFO.
Faria é formado em Administração de Empresas pela FAAP-SP, tem mestrado em Finanças pelo Ibmec-SP e curso de especialização no INSEAD.
Paixões e lições – Aos 17 anos, quando ainda estava cursando o segundo grau, os pais questionaram qual carreira iria escolher e Faria respondeu: “Vou ser jogador de futebol”. E seguiu esse caminho durante um ano e meio. Deixou os gramados em função de incertezas sobre o futuro, mas carrega da experiência algumas lições. “A gente precisa fazer o que acha certo e o que gosta”, declara o executivo, que até hoje é apaixonado pelo São Paulo.
Foi no futebol que o CFO também tirou a lição de ajudar os colegas de trabalho. “Não adianta ser artilheiro do campeonato, se o meu time for vice-campeão. Divida seu conhecimento com outras pessoas e faça com que os outros cresçam igualmente”.
Além do tricolor paulista, o executivo tem outras paixões: a família e a Microsoft. “A gente nunca consegue atingir o ponto ideal, mas eu não quero trabalhar tanto e pagar o preço de ficar distante da minha família. Também precisamos saber dizer não, em algumas ocasiões, para a empresa, mas claro que há um limite, declara Faria, que admite: Também é motivante trabalhar em uma companhia que desenvolve tecnologia e inteligência artificial, que contribuem para a melhora da qualidade de vida das pessoas e da sociedade”.
Faria revela ainda que tem como ídolo o indiano Satya Nadella, o CEO mundial da Microsoft. “Sua humildade e sua visão de transformação me inspiram todos os dias. O trabalho não serve apenas para ganhar dinheiro, é preciso que ele tenha um propósito maior”.
Inspirações e valores – Por meio de seus valores, o mentor enumerou as qualidades que um profissional deve acreditar e carregar na sua trajetória. “É essencial ter integridade e honestidade. Também é necessário o respeito às diferenças de opiniões, pois elas são saudáveis para a formação de uma boa equipe”.
Para Faria, também é importante tomar riscos, porém com ponderação. Na mesma época que seu filho mais velho nasceu bastante prematuro, ele foi trabalhar na unidade norte-americana. “Foram muitas mudanças para administrar. Além de ser outro país, passei a atuar na área de vendas, junto com essa questão familiar. Aprendi muito em quase dois anos, mas não sei se fiz a escolha no momento certo”.
O CFO da Microsoft aconselha ainda que os profissionais sejam curiosos e tenham “fome”. Para ele, quando um profissional é contratado, ele deve chegar com muita curiosidade para poder aprender e sentir-se à vontade para perguntar sempre.
Faria ressalta a importância da diversidade e da inclusão dentro de uma empresa. “Quero pessoas que raciocinem de forma diferente. Já pensou quantos desafios uma pessoa com deficiência precisou enfrentar? Desenvolveu inúmeras capacidades, já que o mundo não está preparado para elas. Essas habilidades e a resiliência vão trazer experiências para a companhia”, declara Faria, ao acrescentar que 70% de sua equipe é composta por mulheres. “Temos que promover a igualdade e a diversidade, pois isso traz ganho para todo mundo. É uma vergonha que ainda precisamos reforçar essas questões”.
Ele ainda destaca que é preciso saber fazer o trabalho bem feito, mas adverte. “O bom é inimigo do ótimo. Além de fazer com excelência, é preciso saber priorizar o que vai trazer maior valor agregado para você e também para a empresa”.
Princípios de liderança– Para Faria, o líder deve criar clareza. Isso significa que, por meio de uma linha de ação, ele precisa saber sintetizar o complexo para garantir a compreensão de todos. Além disso, o líder deve gerar energia positiva. “É influenciar e inspirar otimismo, criatividade e crescimento, além de criar um ambiente onde todos façam o seu melhor trabalho. Assim, serão construídas organizações mais fortes a cada dia.
Na opinião do CFO da Microsoft, o líder precisa entregar o sucesso. Para isso, deve impulsionar a inovação e não ter limites ou barreiras para buscar soluções e, constantemente, os melhores resultados. Contudo, ele lembra que é muito importante não ter medo de errar. “O bom profissional não erra sempre, mas se erra, ele ganha um importante aprendizado. Se errar, aprenda rápido”.
Mudança e crescimento – Embora tenha começado a carreira na consultoria Arthur Andersen, aos 19 anos, ainda no início da faculdade, Faria acabou focado em projetos do mercado financeiro, pois participou de aquisições e fusões bancárias ocorridas na época, como o caso da compra do Banespa pelo Santander. Em 1999, foi convidado para trabalhar na Ericsson, bem na época do boom da telefonia móvel. “Foi importante ter essa experiência em trabalhar em uma empresa de origem sueca, com uma cultura bem diferente da norte-americana”.
O executivo diz que a área financeira mudou muito nos últimos anos. “Hoje um CFO precisa ter uma visão mais ampla da empresa e saber tomar decisões estratégicas. Em muitas corporações, as áreas administrativa, jurídica e de TI acabam ficando nas mãos do CFO”.
Faria diz que sua atuação na área de vendas da empresa, no Brasil e nos Estados Unidos, durante quase cinco anos, contribuiu para o desenvolvimento de sua carreira. “Foi um movimento pensado para agregar valor. A área de vendas ajuda a desenvolver a comunicação do executivo. Depois de atuar no comercial, passei a me interessar por marketing, pois ajuda a ter uma visão mais estratégica do negócio. Talvez eu me aprofunde no tema. Não parei ainda”.
O executivo de finanças do Brasil é um super star no exterior, segundo Faria. Ele diz que, em função de tudo que enfrentou, como planos econômicos, inflação, variação cambial, problemas com governança, ele já é extremamente forte e apto a ter reações rápidas às adversidades. As experiências no exterior também agregaram. Quando foi CFO no Chile, alterou o percentual dos recursos destinados ao desenvolvimento de clientes de acordo com o porte da empresa. Com a estratégia, a empresa cresceu acima do mercado e com boa rentabilidade. “Precisamos saber vender a ideia e assumir o risco”, disse Faria, ao acrescentar que apesar de o Chile ser mais tradicional, está à frente em outros aspectos.
Nos Estados Unidos, o executivo disse que foi muito bem recebido, mas destacou algumas diferenças culturais. “Por exemplo, muitos almoçam na própria mesa de trabalho são mais individualistas. De qualquer forma, trabalhar no exterior é uma ótima experiência e eu recomendo”. E sobre a carreira, ele também aconselha: “Não precisamos planejar muito. Nem tudo está sob o nosso controle”.
O IBEF SP promove encontros de mentoring com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da carreira, por meio do diálogo e do aconselhamento com líderes experientes.
(Reportagem: Renata Passos)