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Definida a permanência do Partido dos Trabalhadores na presidência, é necessário o quanto antes mudar a equação utilizada, geradora de votos: consumo sem poupança. Um dos maiores desafios da nova presidente é proporcionar um crescimento adequado às necessidades de geração de emprego.
Sabemos que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) depende fundamentalmente de investimentos, isto é, a riqueza de um país no futuro depende de seu nível de investimento hoje. A evolução das taxas de investimentos na economia é dada pela Formação Bruta de Capital Fixo.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é a operação do Sistema de Contas Nacionais (SCN) que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos correntes em ativos fixos.
Essas estimativas utilizam o método do estoque perpétuo para os principais componentes da Formação Bruta de Capital Fixo, construção residencial e não-residencial e máquinas e equipamentos.
Quer dizer, para cada componente, o investimento bruto é acumulado por um número de períodos igual à vida útil média suposta para esse componente, descontando-se a depreciação para se obter o estoque líquido. A depreciação é feita a taxas lineares, supondo-se, adicionalmente, vida útil média de 50 anos para as construções residenciais, 40 anos para as construções não-residenciais e 20 anos para as máquinas e equipamentos.
A taxa de crescimento de um país, dado o nível de investimento, é limitada por uma função inversa da razão capital/produto. O comportamento dessa razão e dos fatores que o determinam é, portanto, de suma importância para conhecer a capacidade e as limitações do crescimento de uma economia. A equação de equilíbrio contábil é que o investimento seja igual à poupança. Existe uma discussão sobre se essa igualdade ocorre ex ante ou ex post. Para nosso raciocínio isso não é relevante, portanto o crescimento depende da poupança e esta terá que ser tanto maior quanto maior for a razão capital/produto.
A razão capital/produto (K/Y), ou seja, o inverso da produtividade do capital, indica o montante de capital necessário para se gerar uma unidade de produto interno. Assim, quanto maior for essa razão, mais o país tem que ter em estoque de bens de capital para obter a mesma quantidade de produto.
A poupança doméstica (privada e do governo) é importante porque não é simples para o capital estrangeiro ingressar no país. Os financiadores estrangeiros enfrentam mais incertezas do que os financiadores locais, que conhecem os detalhes legais e institucionais do seu país.
A poupança doméstica do País está em torno de 18% do PIB, sendo a poupança do governo, no passado recente, nula ou até negativa, e atualmente se situando em torno de 1,5%.
Os níveis baixos de poupança interna brasileira limitam a capacidade do País de manter taxas elevadas de investimento e criar um ambiente favorável ao crescimento econômico sustentável. Em um cenário de restrição ao acesso a capital externo, tudo aponta para a necessidade de ajustes na estrutura de gastos do governo como forma de regenerar sua condição de suportar o ritmo dos investimentos.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) mostram que, para a economia brasileira, é razoável supor que a relação capital/produto marginal seja de 3/1.
Um exercício simples permite, com base nesse parâmetro, avaliar os requisitos de investimentos para sustentar taxas de crescimento desejáveis para a economia brasileira. Se o Brasil quiser crescer 7% ao ano, significa dizer que tem que investir 21 unidades monetárias para gerar 7 unidades monetárias de produto. Se considerarmos uma reposição média de 3,5 unidades monetárias (depreciação média de 28 anos), o investimento necessário é de aproximadamente 25 unidades monetárias, incompatível com a poupança doméstica, que gira em torno de 18%.
O Brasil tem uma poupança bastante baixa para a estrutura etária jovem. Isso poderá ser um empecilho para o crescimento de longo prazo. Para atenuar o problema, é preciso agir em várias frentes: (i) realocar os gastos do governo para investimentos criando regras que permitam promover um ajuste fiscal mais forte e estrutural; (ii) ampliar o investimento público em infra-estrutura e conceder serviços à iniciativa privada; (iii) promover microrreformas que facilitem a vida das empresas; (iv) apoiar a pesquisa inovadora; e (v) aperfeiçoar o mercado de capitais de modo a desenvolver financiamento de longo prazo. É um longo caminho, mas crucial na agenda de desenvolvimento.