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Com o tema “O papel que o CEO espera do seu time de finanças”, o Seminário da Comissão Técnica de Controladoria e Contabilidade realizou na quinta-feira, dia 3, um debate sobre a transição da carreira de um profissional de finanças para o cargo de presidente de uma empresa. O líder da comissão, Alexandre Staffa, que também é diretor administrativo financeiro da Suhai Seguradora, abriu o painel dizendo que a ideia era gerar um debate sobre como os times de finanças podem se integrar melhor com os CEOs das empresas buscando alinhamento estratégico. “Teremos um bate papo com dois CEOs e um CFO e queremos fazer desse momento bastante rico”. Em seguida, ele convidou Fernanda Vicente, da SAP, para apresentar a SAP Concur, empresa que patrocinou o Seminário.
Ana Cristine Centeno moderou a discussão e chamou os convidados para compor o painel. Alexandre Velilla Garcia, presidente do Cel.LEP, contou sua trajetória profissional, que começou na área de auditoria e consultoria. Ele atuou na área tributária por 10 ano e depois assumiu consultoria financeira, passando pelos cargos de controller e CFO. “Na minha trajetória houve um momento importante de participação da estratégia da empresa”, contou.
Fabio Costa, CEO da LeasePlan Brasil, é economista e teve passagem pela Gazeta Mercantil, mas em 2005 entrou na LeasePlan como controller. Morou na Holanda para atuar na área de auditoria durante três anos. “Em 2010, voltei ao Brasil para ser CFO da companhia em um momento de reestruturação. Continuo essa jornada de transformação e desenvolvimento da companhia”, disse, hoje atuando como presidente.
Apresentando a visão do profissional de finanças, Cristiano Reis, CFO na Pandora, iniciou a carreira com 14 anos na indústria têxtil. “Sempre fui da área de finanças e há um ano assumiu a posição atual”, destacou.
De CFO à CEO — Entender a mudança do cargo de CFO para CEO foi o direcionamento do painel, já que, historicamente, CFO não é escolhido para cadeira de presidente da empresa. Mas Alexandre Garcia explicou que no seu caso, houve grandes marcos para essa mudança. “Nos primeiros 15 anos de carreira, sempre gostei muito de estar na operação”. Economista de formação, ele disse que viu oportunidades de se diferenciar nas operações, conhecer as empresas para as quais prestava consultoria, o que o retroalimentou para trabalhos posteriores e o impulsionou a ir para além da auditoria interna. “Uma grande dica é que quanto mais próximos os executivos de finanças estiverem da operação, mais importante a sua responsabilidade passa a ser”.
O segundo grande marco, na avaliação de Garcia, é trabalhar próximo das consultorias na formulação do planejamento estratégico da empresa. “O profissional de finanças tem apelo para o curto prazo, e sua visão é de fechamento do ano. Quando passamos por processos internos relacionados à reformulação da empresa, começamos a ter visão de médio e longo prazo, e isso gera oportunidade de contribuir genuinamente para o planejamento estratégico da empresa”.
Fabio Costa levou uma visão semelhante, explicando que na sua experiência, a decisão que tomou foi a de expandir conhecimento. “Foram escolhas que fiz para dar o próximo passo. Quando voltei para o Brasil depois da temporada na Holanda, assumi o cargo de CFO e foi importante trabalhar junto da operação. Foi um processo bom de desenvolvimento da gestão, plano de negócio e estratégia”.
Ele disse ainda que é preciso tirar o rótulo dos CFO de profissionais mais técnicos e com aversão ao risco. “O grande lance é se colocar como o profissional que gere o risco. Isso ajuda o CEO a tomar decisão. Auxiliar o presidente da empresa na decisão, direcionar para onde o negócio está indo e como gerir risco é fundamental”. Por fim, ele deu a dica que é preciso mostrar para a organização que o CFO está olhando para frente e para o todo, e não somente para o resultado financeiro.
Postura do CFO — Alexandre Garcia destacou que quanto mais o profissional de finanças estiver encostado na área operacional e comercial, melhor. “Se o CFO não sair daquele ambiente financeiro, assim como seu time, e for mais à ponta, não consegue alçar a função de CEO. E as nossas decisões na área financeira vão ser mais acertadas se estivermos muito próximo da operação”.
Trazendo a visão do CFO, Cristiano Reis, reiterou que o profissional de finanças vem passando por uma grande transformação ao longo do tempo. “Antes, tínhamos uma área de finanças que olhava só P&L, resultado contábil, e depois começamos a ter um olhar muito mais voltado para compliance. Hoje, temos que dividir o tempo entre essas áreas e a estratégia da empresa”. Reis ressaltou que um fator impeditivo para o CFO assumir a posição de CEO é que muitas vezes a área de finanças é vista como não apoiadora dos negócios. “Quando você apoia a estratégia e se sente parte dos negócios da empresa, começa a ser vista de forma diferente, e em vez de não aceitar risco, passa a mitigar esses riscos, olhando-os junto do CEO”.
Transição — Hoje atuando como CEO, Alexandre Garcia destacou que é preciso saber o que não pode inferir na cadeira do CFO. “É necessário se policiar e saber atuar com a equipe, deixando claro que está fora do processo de discussão de finanças, pois não sou mais CFO. E como CEO a condição é olhar a perenização da empresa no médio e longo prazo”.
Fábio Costa também disse que passou por um processo de delegação e confiança forte na transição de CFO para CEO, e confiou na equipe nova para assumir o risco. “A transição é difícil, mas acaba se desenvolvendo”, complementou.
Viés estratégico — A transição também passa, primordialmente, por um olhar estratégico da companhia. Cristiano Reis disse que na área de finanças é fundamental ter um bom time com diversos perfis para se garantir que os projetos estão sendo atendidos podendo, assim, se dedicar a outras estratégias. “Eu incentivei meu time a ter esse olhar para estratégico também. A equipe precisa sair da cadeira, andar pela empresa, recepcionar as pessoas”. O desafio é conciliar a responsabilidade de entrega de finanças, e é natural que o time priorize isso em detrimento de circular mais pela companhia. “Mas o que tento fazer é mostrar a importância disso para o atendimento da estratégia da empresa como um todo”, complementou
Alexandre Garcia destacou que na Cel.LEP isso foi implementado, e todos os funcionários vão até as unidades para sentir o dia a dia das equipes. “O conhecimento pessoal facilita as soluções e quebra barreiras”, destacou. Fábio Costa reiterou que um time de finanças bem envolvido com os negócios da empresa está pronto para dar o próximo passo.
(Reportagem: Bruna Chieco)